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ADMINISTRAÇÃO
Sentença é a primeira dada em série de ações da Promotoria; cessões por décadas têm contrapartidas mínimas
Juiz manda escola desocupar área pública
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça paulista acaba de dar a
primeira sentença que determina
a desocupação de uma das mais
de 200 áreas públicas municipais
entregues a instituições particulares há décadas de graça ou mediante contrapartidas mínimas.
A decisão do juiz Guilherme de
Souza Nucci, da 9ª Vara da Fazenda Pública, que pode ser alvo de
recurso, atinge um dos mais tradicionais colégios da capital: a Fundação Liceu Pasteur.
A instituição ocupa um enorme
quarteirão entre as ruas Cel. Lisboa e Mayrink, na Vila Mariana,
região nobre da zona sul. Mas
exatos 2.567,5 m2 desse terreno
são da Prefeitura de São Paulo.
A área foi cedida ao Liceu em
1974, por 50 anos, pelo então prefeito Miguel Colassuono. Em contrapartida, coube à instituição garantir a manutenção do terreno e
nele "construir a instalação necessária à prática de esportes".
Lá surgiram, então, quadras,
piscinas e um campo de futebol.
Com eles em funcionamento, o
termo de concessão foi aditado,
em 1982, passando a figurar entre
as obrigações da fundação deixar
tais instalações "à disposição da
administração municipal para
competições programadas".
Na ação, no entanto, a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo afirma que o complexo é
utilizado apenas para aulas de
educação física dos alunos, que
pagam mensalidades de até R$
860. "O Liceu Pasteur, portanto,
aufere lucro com as áreas municipais", escreve o promotor Carlos
Alberto Amin Filho, autor da
ação. Nem o Liceu nem a prefeitura informaram, ontem, quantas
vezes as instalações do colégio foram usadas a pedido do governo.
A sentença judicial que determina a desocupação imediata do
terreno está datada de 5 de fevereiro, mas só chegou ontem ao
cartório da 9ª Vara, após conhecimento do Ministério Público.
O Liceu deve ser notificado da
decisão na semana que vem. A
partir de então, estará sujeito a
uma multa de R$ 5.000 por dia de
utilização da área. Depois, a Justiça fixará uma indenização aos cofres públicos pela exploração do
terreno durante quase 30 anos.
O caso do Liceu Pasteur é o primeiro a ter desfecho em primeira
instância, mas há ao menos outras 20 ações na Justiça paulista
contra instituições privadas instaladas sobre terrenos municipais
-a maior parte delas, clubes esportivos.
As ações começaram depois
que uma CPI da Câmara Municipal deu 180 dias para o governo
iniciar a revisão das contrapartidas e o processo de reintegração
de posse das áreas. O prazo terminou em abril de 2002, mas nada
foi feito, segundo os promotores.
Apesar de numerosas, as ações
ainda não atingem nem sequer
10% das cessões. Em 2002, o relatório anual de áreas públicas publicado no "Diário Oficial" apontava a existência de 213 terrenos
cedidos: 102 permissões gratuitas
e 39 onerosas -por tempo indeterminado- e 72 concessões que
chegam a durar 99 anos.
Ao todo, eles somam 1,42 km2
-quase o dobro do que ocupam
os 39 empreendimentos do Projeto Cingapura. Se fossem alugados,
poderiam render por ano R$
47,78 milhões (8% do valor estimado dos imóveis) -o suficiente
para atender, durante um ano, 36
mil famílias no Renda Mínima.
A prefeitura afirma que tentará
efetuar a cobrança dos aluguéis
ou vender as áreas. Já as entidades
que ocupam os terrenos sustentam que eles só têm hoje altos valores de mercado porque elas lá
investiram e impediram invasões.
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