São Paulo, sexta, 6 de março de 1998

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Mestre-de-obras diz que Domingues sabia de problemas

da Sucursal do Rio

O mestre-de-obras do edifício Palace 2, Almir Maia Machado, disse ontem após depoimento na 16ª DP (Delegacia de Polícia) ter estranhado os problemas de infiltração e vazamentos apresentados pela construção.
De acordo com Machado, 60, não é comum um prédio novo apresentar tantos defeitos.
"Nunca trabalhei em uma obra com tantos problemas. Eu tenho mais de 20 anos de experiência em obras de edifícios", afirmou Machado, que apontou o diretor técnico da Sersan, Sérgio Murilo Domingues, como o engenheiro a quem se dirigia para relatar os problemas do prédio.
De acordo com o depoimento do mestre-de-obras ao delegado Carlos Alberto Nunes Pinto, Domingues, apesar de avisado dos problemas, não visitava a obra.
Machado disse que Domingues autorizava os reparos sem checar a gravidade dos problemas relatados por ele.
O mestre-de-obras trabalhava no Palace 2 desde meados de 1994, quando a parte de alvenaria do prédio já estava erguida.
No depoimento, Machado disse que participou apenas dos serviços de acabamento dos apartamentos, como a colocação de placas de mármore, pisos e pinturas.
"Eu não peguei a época do concreto, por isso não posso dizer se foi usado material ruim.
Havia muito vazamento entre os tijolos. Os moradores reclamavam, a gente consertava. Consertamos até um pilar no Palace 1, que estava defeituoso", disse Machado.
No início do depoimento, ele disse ao delegado que quem comandava os trabalhos no Palace 2, de Brasília, era o deputado Sérgio Naya (sem partido).
O delegado quis saber se ele falava diretamente com Naya. Machado negou. Segundo ele, todos os problemas eram comunicados a Domingues, no escritório da Sersan.
Na terça-feira, em depoimento na delegacia, Domingues negou envolvimento com a obra do Palace 2. Ele disse que apenas participou da venda dos apartamentos.
Anteontem, Sérgio Naya disse na televisão que Domingues era o engenheiro responsável pela obra.
O advogado de Domingues, Ivan Vasques, disse que seu cliente não se envolveu no projeto e na execução da obra. Segundo ele, por causa de problemas de pressão, o engenheiro descansa no litoral do Estado do Rio.

Investigação
O depoimento de Machado reforçou mais ainda a suspeita do delegado de que Domingues participou ativamente da construção do Palace 2.
"Não tenho mais a menor dúvida disso", disse Pinto, que já decidiu indiciar o engenheiro no inquérito que apura a tragédia.
O delegado pretende descobrir agora quem era o mestre-de-obras na época da construção do prédio. "Preciso saber o que ocorreu na origem dessa obra (em 1989). Quem trabalhava e qual foi o material usado", disse.



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