ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao chegar ao hospital para um exame, Aloysio Ferraz Pereira se deu conta de que havia esquecido em casa o livro que estava lendo: "O Ser e o Nada", de Jean-Paul Sartre.
O juiz Antonio Benedito do Nascimento, que o acompanhava na ocasião, foi à casa do amigo para buscar a obra e percebeu que as páginas estavam cheias de anotações.
Aloysio, professor aposentado de filosofia e ciência do direito na USP, pretendia botar no papel suas conclusões sobre os escritos do filósofo francês. Mas não teve tempo de preparar seu texto.
Nascido em Bebedouro, no interior de SP, o filho de cafeicultores havia se formado em direito pela USP. Quando estudante, ao participar de uma manifestação contra Vargas, levou um tiro nas costas.
Recuperou-se, mas não imaginaria que aquele mesmo ferimento, muitos anos depois, iria novamente lhe causar problemas e o forçaria a passar por outra cirurgia.
Estudou ainda na Alemanha e França, onde fez doutorado. Nos anos 60, foi secretário de Negócios Internos e Jurídicos da Prefeitura de SP.
Escreveu livros como "História da Filosofia do Direito" e foi professor até em Guiné-Bissau, onde ficou por um ano, conta o filho Aloysio Jr.
Amigo de Florestan Fernandes, acompanhou a fundação do PT. Ultimamente, dizia-se decepcionado por achar que a proposta inicial do partido se desvirtuara.
No sábado, aos 87, morreu de falência de órgãos. Foi enterrado ontem, em Campinas (SP). Deixa filhos e netos.

coluna.obituario@uol.com.br


Texto Anterior: Mortes
Índice