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FRAUDE
Procuradoria investiga empresas envolvidas com a "legalização" de documentos falsos em São Paulo
Roubados 297 mil selos de cartórios
SORAYA AGÉGE
GONZALO NAVARRETE
da Reportagem Local
Pelo menos 296.786 selos de autenticação foram roubados ou
furtados de cartórios do Estado
de São Paulo para forjar a veracidade de documentos falsos.
A polícia já registrou casos de
vendas de veículos e telefones
com papéis falsos "autenticados"
com os selos. O Ministério Público Estadual começou a investigar
cinco empresas em São Paulo envolvidas com falsificações. Uma
delas forjou um documento com
selos roubados para cancelar um
protesto de dívida bancária.
Suspeita-se que os selos roubados dos cartórios paulistas também estejam sendo negociados
em outros Estados.
Os assaltos a cartórios de São
Paulo ocorrem em ritmo crescente desde janeiro de 97 -poucos
meses depois de o Estado adotar o
sistema de selos de autenticidade.
Levantamento feito pela Folha
mostra que, em 97, cerca de 63 mil
selos foram roubados. Em 98, o
número subiu para 93 mil.
No ano passado, somente no
primeiro semestre, foram 29 mil.
Neste ano, até anteontem, 70 mil
selos já tinham sido levados dos
cartórios paulistas.
A Folha não teve acesso aos dados sobre os lotes comprometidos no segundo semestre do ano
passado, embora a Corregedoria
Geral de Justiça, que controla os
cartórios, tenha autorizado (leia
texto nesta página). O levantamento da Folha foi fechado, portanto, sem a soma desses lotes.
A Secretaria da Segurança Pública do Estado informou que não
tem um controle sobre o número
de assaltos a cartórios. O aumento
da incidência, porém, verificado
pelo crescimento dos registros de
selos extraviados, preocupa os tabeliães paulistas.
"Estamos apreensivos, pois percebemos a impunidade dos criminosos", afirma o presidente da
seção paulista do Colégio Notarial
do Brasil, Tullio Formicola.
O tabelião Paulo Roberto Ferreira, integrante do seção federal
do Colégio Notarial do Brasil,
considera que "o mercado negro
de selos prejudica a imagem dos
cartórios". "O peixe que nós vendemos é a segurança. Nós prestamos um serviço público e estamos empenhados em investir em
mais dispositivos de segurança
nos documentos", afirma.
Segundo ele, os novos gastos
não vão resultar em custos para
os usuários, pois deve ser considerado um investimento na credibilidade do produto oferecido.
O presidente do Sindicato dos
Notários e Registradores do Estado de São Paulo, Paulo Tupinambá Vampré, considerado o criador do sistema, avalia que o derrame de documentos falsos "autenticados" só está podendo ser
detectado graças aos selos.
O sistema de selos foi adotado
para coibir fraudes, além de servir
para controlar o pagamento de
impostos pelos cartórios. Depois
de São Paulo, os Estados de Santa
Catarina, Rio de Janeiro e Paraná
adotaram o selo, segundo a Corregedoria Geral da Justiça.
"Antes dos selos, os fraudadores reproduziam os carimbos dos
cartórios. Agora temos como
identificar e permitir que a polícia
coíba as fraudes", afirma.
Os juízes-assistentes da Corregedoria Geral da Justiça concordam com a avaliação. Segundo
eles, o controle sobre os lotes de
selos roubados e extraviados pode ser feito a partir do acompanhamento constante do "Diário
Oficial" do Estado.
A Corregedoria Geral tem um
processo-mãe que analisa todos
os casos de selos extraviados, cancelados, roubados ou furtados
ocorridos no Estado desde o final
de 96. As ocorrências são comunicadas pelos próprios cartórios.
"A maior parte dos casos de
roubos e furtos foi verificada nos
últimos dois anos", afirma o juiz-assessor da Corregedoria Francisco Occhiuto Júnior. Para os corregedores, o sistema é eficiente, mas
depende da verificação de documentos pela polícia e da atenção
dos usuários.
Colaborou Samy Charanek,
editor-assistente de Cotidiano
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