São Paulo, domingo, 06 de maio de 2001

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SAÚDE
Dor de cabeça tem diagnóstico difícil

VANESSA ALVES BAPTISTA
DA REDAÇÃO

Dor de cabeça é tão comum que todo mundo já sentiu pelo menos uma vez. Mas, para alguns, comum mesmo é sentir essa dor quase todos os dias, às vezes de uma maneira tão intensa que os impede de trabalhar ou os faz cancelar encontros com os amigos. Afinal, de onde vem essa dor?
A resposta não é tão fácil. Às vezes, detectar de qual tipo de dor de cabeça se trata (existem mais de 150 tipos, segundo a Sociedade Internacional de Cefaléia) e quais são as causas e os tratamentos mais eficazes pode demorar anos e demandar muitas consultas e exames médicos, além de remédios, sobretudo analgésicos.
"Já fui a tantos médicos para tentar identificar a causa da dor que tenho há mais de dez anos que já perdi a conta. Consultei de otorrino a dentista. Cheguei a usar aparelho nos dentes, pois um dos diagnósticos dizia que eu tinha um problema na mandíbula [disfunções na articulação temporomandibular (ATM) podem ser a causa da dor de cabeça", mas não adiantou", diz a professora Ana Cláudia Garcia, 28.
Casos como o de Ana Cláudia não são raros. Algumas pessoas fazem vários tratamentos e exames até descobrir que a doença da qual sofrem é a própria dor de cabeça, e não sinusite, disfunção de ATM ou, em situações graves, meningite e tumor (quando a dor é consequência do problema).
As campeãs de queixa nos consultórios são a enxaqueca e a cefaléia tensional, conhecidas como cefaléias primárias (quando a doença é a própria dor de cabeça). Não há tratamento para curá-las, só para preveni-las e aliviá-las.
"Mais de 95% das pessoas com dor de cabeça têm cefaléias primárias. A mais comum é a cefaléia tensional. Estima-se que em torno de 60% a 70% delas tenham cefaléia tensional e cerca de 15% a 20% apresentem enxaqueca", afirma o neurologista Getúlio Daré Rabello, responsável pelo ambulatório de cefaléia do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Apesar de apresentarem características distintas (veja quadro ao lado), a cefaléia e a enxaqueca podem ter causas semelhantes. Hoje, sabe-se que quem sofre de uma ou de ambas as dores (não é tão frequente, mas pode acontecer) provavelmente tem um "defeito" no sistema supressor da dor, localizado no sistema nervoso central. Ou seja, a pessoa é predisposta a sentir dor em situações em que o organismo deveria ser capaz de controlá-la por meio de substâncias produzidas no cérebro (neurotransmissores), como a endorfina e a serotonina.
"Fatores ambientais e emocionais também são desencadeadores de enxaqueca e de cefaléia tensional", afirma Manoel Jacobsen Teixeira, professor-doutor do departamento de neurologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo ele, no caso da enxaqueca, podem ser percebidas alterações no humor e perda de apetite. Em pessoas com cefaléia tensional, nota-se a contração de músculos do pescoço e da cabeça (que pode ser a causa ou a consequência da dor de cabeça).
Ainda há dúvida entre os especialistas se a causa da dor de cabeça, sobretudo quando se trata de cefaléia tensional, é um distúrbio muscular ou emocional.
A designer gráfica Eliana Yuri Tachibana, 29, que tem dor de cabeça há 12 anos, acredita que o estresse, as tensões do dia-a-dia e a má postura sejam as causas do problema dela (cefaléia tensional). "Trabalho todo o dia sentada e em frente a um computador. Sinto dor no pescoço e na nuca."
Eliana, que costumava ter dor de cabeça frequentemente, diz que melhorou após consultar um neurologista e tomar a medicação adequada. "Quando sinto dor, recorro aos analgésicos."
Na opinião dos médicos, tomar remédios (principalmente analgésicos) não é um problema quando a dor de cabeça não é frequente e melhora com um comprimido. "A pessoa deve procurar um médico quando a dor é resistente à medicação e começa a levá-la ao que se chama de abuso de analgésicos", afirma Rabello.
Analgésicos, antiinflamatórios, antialérgicos e antidepressivos são algumas das medicações utilizadas no tratamento preventivo e nas crises das cefaléias primárias.
"Como as cefaléias primárias são de uma forma ou outra associadas à tensão muscular, o uso dos antidepressivos ajuda no relaxamento da musculatura e na produção de endorfina", afirma a fisiatra Lin Tchia Yeng.
O tratamento da dor também depende da eliminação de fatores causais. "No caso da enxaqueca, deve-se evitar o consumo de bebidas alcoólicas, especialmente o vinho e a cerveja, e de alimentos como queijo e chocolate. Quem sofre de cefaléia tensional deve evitar tensões emocionais", afirma o neurocirurgião Teixeira.



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