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SAÚDE
Dor de cabeça tem diagnóstico difícil
VANESSA ALVES BAPTISTA
DA REDAÇÃO
Dor de cabeça é tão comum que
todo mundo já sentiu pelo menos
uma vez. Mas, para alguns, comum mesmo é sentir essa dor
quase todos os dias, às vezes de
uma maneira tão intensa que os
impede de trabalhar ou os faz
cancelar encontros com os amigos. Afinal, de onde vem essa dor?
A resposta não é tão fácil. Às vezes, detectar de qual tipo de dor de
cabeça se trata (existem mais de
150 tipos, segundo a Sociedade Internacional de Cefaléia) e quais
são as causas e os tratamentos
mais eficazes pode demorar anos
e demandar muitas consultas e
exames médicos, além de remédios, sobretudo analgésicos.
"Já fui a tantos médicos para
tentar identificar a causa da dor
que tenho há mais de dez anos
que já perdi a conta. Consultei de
otorrino a dentista. Cheguei a
usar aparelho nos dentes, pois um
dos diagnósticos dizia que eu tinha um problema na mandíbula
[disfunções na articulação temporomandibular (ATM) podem
ser a causa da dor de cabeça", mas
não adiantou", diz a professora
Ana Cláudia Garcia, 28.
Casos como o de Ana Cláudia
não são raros. Algumas pessoas
fazem vários tratamentos e exames até descobrir que a doença da
qual sofrem é a própria dor de cabeça, e não sinusite, disfunção de
ATM ou, em situações graves,
meningite e tumor (quando a dor
é consequência do problema).
As campeãs de queixa nos consultórios são a enxaqueca e a cefaléia tensional, conhecidas como
cefaléias primárias (quando a
doença é a própria dor de cabeça).
Não há tratamento para curá-las,
só para preveni-las e aliviá-las.
"Mais de 95% das pessoas com
dor de cabeça têm cefaléias primárias. A mais comum é a cefaléia tensional. Estima-se que em
torno de 60% a 70% delas tenham
cefaléia tensional e cerca de 15% a
20% apresentem enxaqueca",
afirma o neurologista Getúlio Daré Rabello, responsável pelo ambulatório de cefaléia do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
Apesar de apresentarem características distintas (veja quadro ao
lado), a cefaléia e a enxaqueca podem ter causas semelhantes. Hoje, sabe-se que quem sofre de uma
ou de ambas as dores (não é tão
frequente, mas pode acontecer)
provavelmente tem um "defeito"
no sistema supressor da dor, localizado no sistema nervoso central.
Ou seja, a pessoa é predisposta a
sentir dor em situações em que o
organismo deveria ser capaz de
controlá-la por meio de substâncias produzidas no cérebro (neurotransmissores), como a endorfina e a serotonina.
"Fatores ambientais e emocionais também são desencadeadores de enxaqueca e de cefaléia tensional", afirma Manoel Jacobsen
Teixeira, professor-doutor do departamento de neurologia da Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo).
Segundo ele, no caso da enxaqueca, podem ser percebidas alterações no humor e perda de apetite. Em pessoas com cefaléia tensional, nota-se a contração de
músculos do pescoço e da cabeça
(que pode ser a causa ou a consequência da dor de cabeça).
Ainda há dúvida entre os especialistas se a causa da dor de cabeça, sobretudo quando se trata de
cefaléia tensional, é um distúrbio
muscular ou emocional.
A designer gráfica Eliana Yuri
Tachibana, 29, que tem dor de cabeça há 12 anos, acredita que o estresse, as tensões do dia-a-dia e a
má postura sejam as causas do
problema dela (cefaléia tensional). "Trabalho todo o dia sentada
e em frente a um computador.
Sinto dor no pescoço e na nuca."
Eliana, que costumava ter dor
de cabeça frequentemente, diz
que melhorou após consultar um
neurologista e tomar a medicação
adequada. "Quando sinto dor, recorro aos analgésicos."
Na opinião dos médicos, tomar
remédios (principalmente analgésicos) não é um problema
quando a dor de cabeça não é frequente e melhora com um comprimido. "A pessoa deve procurar
um médico quando a dor é resistente à medicação e começa a levá-la ao que se chama de abuso de
analgésicos", afirma Rabello.
Analgésicos, antiinflamatórios,
antialérgicos e antidepressivos
são algumas das medicações utilizadas no tratamento preventivo e
nas crises das cefaléias primárias.
"Como as cefaléias primárias
são de uma forma ou outra associadas à tensão muscular, o uso
dos antidepressivos ajuda no relaxamento da musculatura e na
produção de endorfina", afirma a
fisiatra Lin Tchia Yeng.
O tratamento da dor também
depende da eliminação de fatores
causais. "No caso da enxaqueca,
deve-se evitar o consumo de bebidas alcoólicas, especialmente o vinho e a cerveja, e de alimentos como queijo e chocolate. Quem sofre de cefaléia tensional deve evitar tensões emocionais", afirma o
neurocirurgião Teixeira.
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