São Paulo, domingo, 06 de maio de 2001

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PROFISSÃO PERIGO
Pesquisa entre profissionais da rede pública de saúde revela que 40% já foram vítimas de agressão
Médico e professor vivem rotina de violência

DO "AGORA"

Para trabalhar, médicos e professores enfrentam o risco de morte e agressões verbais e físicas de pacientes e alunos sem nenhum respaldo do poder público.
Segundo pesquisa do sindicato dos médicos, 40% dos profissionais da rede pública já foram vítimas de algum tipo de violência. Na sala de aula, a situação é parecida e, assim como os médicos, os professores são obrigados a aprender a lidar com as adversidades para continuar no cargo.
É o caso da professora Geni Gomes Haiden, que foi agredida com socos e pontapés dentro da sala de aula no último dia 30 de março.
Ela ainda foi ameaçada de morte por dois jovens que invadiram a sala de aula e não admitiram ser expulsos do local. Após 30 dias de licença, ela será obrigada a retornar para a escola estadual Tenente Ariston de Oliveira, no Jardim das Rosas (zona sul), uma das regiões mais violentas da cidade.
A professora conta que não recebeu do Estado nenhum tipo de assistência psicológica para retomar o cargo. "Tenho medo de voltar e encontrar a mesma situação. Infelizmente não tenho condições financeiras para abandonar o trabalho. Se tivesse, jamais voltaria."
Geni e outras quatro professoras da rede estadual entraram em abril com ação judicial contra o Estado, após terem sido vítimas de violência na escola.
Para a advogada da Apeoesp (sindicato dos professores estaduais), Paula Gianoni Luchesi, esse afastamento deveria ser justificado por acidente de trabalho e não licença psiquiátrica, como tem ocorrido.
"Quem pega o atestado pode entender até que as professoras têm problemas psicológicos, o que não é verdade. Elas foram vítimas de um acidente de trabalho e precisam se recuperar do susto para voltar às atividades normais", afirma a advogada.
Os médicos que trabalham em pronto-socorro de hospitais públicos são os que mais sofrem com ameaças e agressões. A demora no atendimento e a falta de estrutura são os principais motivos da agressão contra os profissionais da saúde.
Há ainda casos em que os médicos lidam com pacientes perigosos. O cirurgião Marcos Antônio Morgado lembra de quando atendia um preso baleado e foi surpreendido por um grupo que o resgatou do hospital Tatuapé.
"Estou aqui há 20 anos e já vi muita coisa. A gente precisa relevar, esconder paciente, chamar a polícia. Mas gosto do que faço."
(RITA MAGALHÃES e MARIANA CARVALHO)



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