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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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VIOLÊNCIA

Tiro teria partido de morro dominado por traficantes; atingida no rosto, estudante de 19 anos pode ficar tetraplégica

Aluna é baleada em universidade no Rio

Eurico Dantas/Agência O Globo
A estudante de enfermagem Luciana Gonçalves Novaes, baleada no rosto, é levada ao hospital para ser operada


SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Uma estudante de 19 anos levou um tiro no rosto, na manhã de ontem, enquanto comprava um sanduíche em uma lanchonete no campus da Universidade Estácio de Sá no Rio Comprido (zona norte do Rio). Ela corre risco de morte, segundo os médicos que a atenderam. Se sobreviver, poderá ficar tetraplégica (paralisia nos membros inferiores e superiores).
Luciana Gonçalves Novaes, aluna do primeiro período da Faculdade de Enfermagem, estava no intervalo das aulas, por volta das 9h, quando foi baleada.
Alunos contaram que o tiro partiu do morro do Turano, que fica atrás do campus da universidade. Foram ouvidos alguns disparos e, em seguida, Luciana caiu no chão. Houve pânico e correria.
"Ela estava na lanchonete, do meu lado, e eu estava falando com o meu pai pelo celular. Eu perguntava se ele sabia de alguma coisa que estaria acontecendo perto da faculdade por causa das ameaças que ouvimos", contou Suzana Braga, 19, estudante de letras. "De repente, ouvi uns tiros e, quando olhei, ela já estava caída no chão. Tinha muito sangue", acrescentou.
O auxiliar administrativo Marcelo Araújo Matos, 24, também foi ferido com estilhaços na nádega esquerda. Ele foi medicado e liberado em seguida.
Avisada pela universidade, a polícia decidiu fechar o campus da Estácio de Sá. Muitos alunos ainda estavam no local e entraram em pânico porque não conseguiam sair. "Depois dos tiros, as pessoas ficaram apavoradas e corriam de um lado para o outro", relatou Mariana Braga, que cursa medicina.
Do lado de fora, moradores do Turano, exaltados, xingavam os policiais por causa da morte de uma pessoa na favela, no sábado.
Luciana foi levada para o hospital Casa de Portugal, em frente à faculdade, e depois transferida para o Pró-Cardíaco, em Botafogo (zona sul). Segundo o diretor da Casa de Portugal, Carlos Alberto Chiesa, seu estado era grave.
O médico explicou que a bala, que atingiu a mandíbula esquerda, destruiu parte da terceira vértebra cervical e se alojou na coluna medular.
A vítima respirava ontem com a ajuda de aparelhos, não tinha movimentos e estava sedada para não sentir dor. "A aluna ainda corre risco e, infelizmente, o mais provável é que fique tetraplégica", lamentou Chiesa.
À tarde, a jovem se submeteu a exames preparatórios para uma cirurgia de retirada da bala. Até o fechamento desta edição, a operação não havia começado.
"Eu fico revoltado. A gente se sente inútil diante desses bandidos. Estou morrendo um pouco junto com a minha filha. O que tem de ser feito é varrer esses morros e acabar com a bandidagem", disse, muito abalado, o pai da estudante, José Almir Novaes.
De acordo com investigações da polícia, traficantes do morro teriam atirado em direção ao prédio da universidade em represália ao desaparecimento de dois homens e à morte de um terceiro. O morto é o traficante Adriano Paulino Martins, o Sapinho.
Moradores da favela acusam a polícia de ter realizado uma violenta operação no morro na sexta-feira, dia em que os três teriam sido presos por policiais militares.
O comandante da PM, Renato Hottz, deu duas versões para o episódio de sexta-feira. Primeiro, confirmou a operação da polícia. Depois, recuou e disse que a morte e o desaparecimento das pessoas tiveram relação com a invasão de traficantes do morro da Mineira (Catumbi, zona norte).
Por causa da morte de Sapinho, o tráfico ordenou que todo o comércio do bairro do Rio Comprido não abrisse ontem. Como as aulas na universidade não foram suspensas, os criminosos teriam atirado contra o campus.
"Não foi uma bala perdida porque não houve nenhum confronto lá hoje [ontem", nem entre policiais e traficantes, nem entre os próprios traficantes", disse Hottz.
Alunos e professores também relataram ter ouvido ameaças por causa da morte do traficante. "As ameaças diziam que quem não obedecesse à ordem para fechar seria punido", disse o aluno Guilherme Ferreira, 22.
Moradores da favela confirmaram que os disparos contra a universidade partiram do morro, por ordem dos traficantes, revoltados com a morte de Sapinho
Depois do ataque à faculdade, a Secretaria de Segurança Pública ordenou a ocupação do morro por tempo indeterminado.


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