São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2005

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SOBRE RODAS

Veto a uso de campus faz esportistas recorrerem a acostamento para treinamentos, em meio a veículos a 120 km/h

Sem a USP, ciclistas se arriscam em rodovias

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Proibidos de entrar na USP desde o dia 25 de abril, ciclistas federados optaram por realizar seus treinos em rodovias estaduais, como a dos Bandeirantes, a Anhangüera, a dos Imigrantes e a Anchieta. Acostumados a conviver com carros numa velocidade máxima de 60 km/h, agora correm mais riscos ao lado de veículos a 100 km/h, 120 km/h ou mais.
Um levantamento do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) comprova o perigo: houve uma morte a cada cinco dias nos acostamentos das rodovias estaduais paulistas no ano passado.
O campeão do ranking brasileiro de ciclismo em 2004, André Grizante, 28, foi um dos que tiveram de mudar a rotina de treinos. "Além de não ter onde estacionar o carro e precisar ir com a bicicleta até a rodovia, o fluxo de carros é maior e os ônibus sempre passam raspando", disse ele, que treinou ontem na Anchieta.
A Federação Paulista de Ciclismo tem lista de mil pessoas cadastradas que treinavam na USP. Já a Federação Paulista de Triatlon possui 250 atletas que também pedalavam no campus. Roberto Barbosa, 70, que treinava havia 40 anos no campus do Butantã e já foi 30 vezes campeão brasileiro, passou a usar a Bandeirantes. "Apesar do risco, não temos outra opção sem ser a rodovia."
Outra campeã, Vera Lang, 35, também se sentiu prejudicada com a decisão da reitoria. "Como vamos mostrar resultado no Pan-Americano se não temos condições para treinar?", indagou ela, que circula agora das 5h30 às 7h30 na Bandeirantes, o que exige muita habilidade e reflexos rápidos.
Segundo a Artesp (Agência Reguladora de Transporte do Estado de São Paulo), houve 598 acidentes com ciclistas em rodovias concedidas em 2004, o que corresponde a 1% das ocorrências.
Um grupo de 15 ciclistas treinou ontem no acostamento da Anchieta. O pelotão às vezes era "atrapalhado" por carros que precisavam utilizar o local. Em outros momentos, os ciclistas invadiam a pista. No meio do caminho, a Polícia Rodoviária Estadual abordou o grupo e eles tiveram que dar meia-volta.
"Existe uma lei federal que permite a circulação de ciclistas nos bordos das pistas em estradas onde não há ciclovia. Mas, como a gente tem bom senso, obedeceu à polícia", afirmou o ciclista Lourival de Souza, 55. Segundo ele, o campus funcionava como ponto de encontro do grupo de atletas.
O prefeito do campus da USP na capital, Wanderley Messias da Costa, afirmou que não acredita ser possível a reversão do veto à entrada de ciclistas para treinos na universidade.


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