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CRIME SEM FRONTEIRAS
Para a polícia, quadrilhas usam esquema de transporte de drogas para levar bichos para fora do país
PF liga tráfico de animais a narcotráfico
SILVIO NAVARRO
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Federal investiga, com
colaboração da Interpol (polícia
internacional), o estreitamento
das conexões de quadrilhas de
tráfico de animais com o narcotráfico no Brasil, especialmente
na região da floresta amazônica.
Segundo apuração da Divisão
de Prevenção e Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente da
PF, o tráfico de animais é a terceira atividade ilegal mais lucrativa,
depois do tráfico de drogas e do
de armas. Um negócio que movimenta cerca de US$ 20 bilhões
por ano no mundo, sendo 10%
(US$ 2 bilhões) no Brasil.
A diferença na legislação também explica o fenômeno. Enquanto o tráfico de drogas é crime
hediondo (ou seja, com aplicação
mais rígida da pena), o de animais
tem valor de fiança baixo -no
máximo R$ 350- e a punição é
freqüentemente alterada para
prestação de serviços, por exemplo. Hoje, o infrator preso por tráfico de animais pode pagar a fiança na polícia e ficar livre.
Já o crime de tráfico de drogas
prevê pena de 3 a 15 anos de reclusão, conforme a lei 6.368, de 1976.
Pode ser aumentada em até dois
terços, por exemplo, em caso de
tráfico internacional. Nos casos
em que couber fiança, ela só pode
ser arbitrada pela Justiça.
Essa situação tem levado os traficantes a formarem "consórcios"
para transportar em conjunto
drogas e animais. "As mesmas
pessoas que servem ao tráfico de
drogas também se prestam ao
transporte de animais", afirmou o
delegado Mauro Sposito, coordenador de Operações Especiais de
Fronteiras da Polícia Federal.
Na fronteira com a Colômbia,
segundo Sposito, a tarefa é realizada principalmente por índios.
O delegado citou casos em que
peixes ornamentais são conduzidos com cocaína -em um saco
vão os peixes em água limpa e, em
outro, a droga diluída.
Outra modalidade de "tráfico
híbrido" é o embarque de cobras
vivas com pacotes de cocaína ou
heroína em seu interior, prática
ainda não flagrada no Brasil.
De acordo com a ONG Renctas
(Rede Nacional de Combate ao
Tráfico de Animais Silvestres), o
tráfico de animais no país envolve
uma cadeia de cerca de 450 quadrilhas. Dessas, 30% já fazem os
carregamentos "casados".
"As "mulas" [que carregam a
droga ou o animal] estão migrando do narcotráfico para os animais porque se ganha a mesma
coisa e o risco é menor", afirma o
deputado Mendes Thame (PSDB-SP), que preside a CPI da Biopirataria, no Congresso Nacional.
"O principal detalhe é que se o
traficante é pego com animais o
enquadramento é outro", diz o relator da CPI, deputado Sarney Filho (PV-MA).
Em depoimento à CPI, o ex-chefe da divisão de Repressão a
Crimes Ambientais da PF, Jorge
Barbosa Pontes, apontou que "alguns carregamentos de drogas já
foram encontrados com répteis,
tartarugas e couro".
A estimativa da Renctas é que
cerca de 38 milhões de espécies
sejam extraídas anualmente no
Brasil para serem remetidas para
Europa, Ásia e Estados Unidos.
Uma arara-azul chega a ser vendida por US$ 60 mil no Japão. O
grama do veneno da cobra-coral
verdadeira vale US$ 31 mil.
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