Duas casas clandestinas funcionavam na rua Augusta, um delas no mesmo quarteirão do 4º DP e outra perto do Espaço Unibanco

No local visitado pela reportagem, todos os computadores estavam abertos em programas de sorteio eletrônico

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois bingos clandestinos funcionavam até ontem, quase 24 horas por dia, em trechos movimentados da rua Augusta, região central de São Paulo.
O primeiro fica no mesmo quarteirão do 4º Distrito Policial (Consolação), no número 626. O outro não tem número aparente, mas fica ao lado de um restaurante no 1.416, perto das salas de cinema do Espaço Unibanco.
"Tem bingo ali?", disse Edson Rodrigues, chefe dos investigadores da delegacia, ao ser informado pela Folha sobre a atividade, camuflada com a fachada de "Cyber Café".
Mais tarde, Rodrigues disse que esteve no número 626, no quarteirão do 4º DP, e encontrou "pessoas na internet, no Orkut, [como em qualquer] lan house". Ele informou também que registrou boletim de ocorrência e que pediria que os computadores fossem periciados, para apurar se havia jogo.
A Folha visitou esse bingo. Apostou uma moeda de R$ 1 em um dos computadores da casa, todos abertos em programas de sorteio eletrônico. Ganhou R$ 0,75, apostou essa quantia e, em seguida, faturou R$ 10, que serão doados para a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).
As fachadas dos dois bingos são muito parecidas. O "ritual" de entrada também. Ambos ficam atrás de placas de vidros esbranquiçadas, nas quais se lê "Cyber Café".
É preciso tocar o interfone. "Vocês estão abertos?", pergunta o repórter, sem se identificar. "O que você quer?", respondem. "Usar a internet." Pelo interfone, dizem: "Não dá, estamos fora de sistema".
Mesmo com insistência, ninguém aceitou abrir a porta do bingo próximo do Espaço Unibanco. Uma testemunha relatou à reportagem ter feito apostas no local.
No outro, perto da delegacia, um funcionário abriu uma fresta da porta. "Você veio indicado por quem?" Mesmo sem indicação, aceitou receber o apostador. Havia apenas dois outros clientes -um homem e uma mulher- no local. "Você conseguiu R$ 10 na primeira tentativa. Sorte de principiante!", saúda a apostadora.
O local também vende cerveja, refrigerante (R$ 2 qualquer latinha) e doces. Uma placa indica os preços por minuto do serviço de internet.
Procurada no início da noite pela reportagem, a Subprefeitura da Sé disse que não conseguiria, no horário, localizar fiscais para falar sobre o caso.
Os bingos e as máquinas caça-níqueis foram proibidos em 2004, mas liberados por liminar algumas vezes nos anos seguintes. A punição para quem comandar casas clandestinas de jogos é o fechamento do local e a apreensão dos equipamentos. O dono do estabelecimento não vai preso, mas é ouvido na delegacia.


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