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TRANSPORTE
Niquini, que já controlou 12% da frota de ônibus da cidade, disse que SPTrans era acionada por viações para pagar salários
"Intervenções eram forjadas", diz empresário
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Romero Niquini,
que já controlou cerca de 12% da
frota de ônibus paulistanos, disse
ontem em depoimento à Polícia
Federal que algumas intervenções
da SPTrans eram forjadas para
beneficiar donos de viações.
Chamado para depor sobre sua
suposta participação no pagamento de propina a sindicalistas e
no envio de dinheiro ao exterior,
o empresário negou as acusações
e, sem apresentar provas, disse
que haveria um "esquema" combinado entre donos de algumas
viações e a SPTrans, envolvendo
salários e intervenções.
Segundo a polícia, o empresário
contou que, no dia do pagamento,
as empresas deixavam de depositar salários. A SPTrans intervinha
e fazia os pagamentos. Um ou
dois dias depois, a empresa voltava para o proprietário, que podia
pagar o valor gasto pela
SPTrans- cerca de R$ 1,5 milhão- em 50 parcelas sem juros.
"Ele disse que esse procedimento aconteceu diversas vezes, não
só com as empresas dele, mas
com outras empresas também. E
agora vamos abrir uma nova frente de investigação", afirmou o delegado Nivaldo Bernardi.
A SPTrans disse que só se manifestaria sobre as acusações quando fosse comunicada oficialmente (leia texto na página C2).
No mês de julho de 2002, em um
único dia a prefeitura realizou intervenções em cinco empresas de
ônibus por causa do atraso nos
pagamentos de funcionários.
Duas pertenciam a Niquini: Santa
Bárbara e São Judas.
A intervenção é uma forma de a
prefeitura assumir temporariamente a administração da viação.
Os recursos injetados não são de
verba orçamentária, mas da "conta do sistema", formada pelas receitas arrecadadas pela SPTrans e
pelas próprias empresas com os
vales-transporte e passes.
A prefeitura, porém, pode arcar
com o prejuízo se não conseguir
recuperar a verba (por meio de
ações judiciais ou retenções futuras), já que é obrigada a prestar
contas, no final dos contratos, às
demais operadoras que recebem
da "conta do sistema". Desde o
segundo semestre de 2002, já foram gastos mais de R$ 74 milhões
em intervenções, segundo disse a
SPTrans ao Ministério Público.
Segundo Bernardi, Niquini contou que o "esquema" aconteceu
na gestão do ex-secretário dos
Transportes, Carlos Zarattini.
Procurado pela Folha, Zarattini
não quis comentar o caso.
Niquini saiu do sistema quando
teve os contratos rompidos após
descoberta de irregularidades.
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