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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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TRANSPORTE

Niquini, que já controlou 12% da frota de ônibus da cidade, disse que SPTrans era acionada por viações para pagar salários

"Intervenções eram forjadas", diz empresário

SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Romero Niquini, que já controlou cerca de 12% da frota de ônibus paulistanos, disse ontem em depoimento à Polícia Federal que algumas intervenções da SPTrans eram forjadas para beneficiar donos de viações.
Chamado para depor sobre sua suposta participação no pagamento de propina a sindicalistas e no envio de dinheiro ao exterior, o empresário negou as acusações e, sem apresentar provas, disse que haveria um "esquema" combinado entre donos de algumas viações e a SPTrans, envolvendo salários e intervenções.
Segundo a polícia, o empresário contou que, no dia do pagamento, as empresas deixavam de depositar salários. A SPTrans intervinha e fazia os pagamentos. Um ou dois dias depois, a empresa voltava para o proprietário, que podia pagar o valor gasto pela SPTrans- cerca de R$ 1,5 milhão- em 50 parcelas sem juros.
"Ele disse que esse procedimento aconteceu diversas vezes, não só com as empresas dele, mas com outras empresas também. E agora vamos abrir uma nova frente de investigação", afirmou o delegado Nivaldo Bernardi.
A SPTrans disse que só se manifestaria sobre as acusações quando fosse comunicada oficialmente (leia texto na página C2).
No mês de julho de 2002, em um único dia a prefeitura realizou intervenções em cinco empresas de ônibus por causa do atraso nos pagamentos de funcionários. Duas pertenciam a Niquini: Santa Bárbara e São Judas.
A intervenção é uma forma de a prefeitura assumir temporariamente a administração da viação. Os recursos injetados não são de verba orçamentária, mas da "conta do sistema", formada pelas receitas arrecadadas pela SPTrans e pelas próprias empresas com os vales-transporte e passes.
A prefeitura, porém, pode arcar com o prejuízo se não conseguir recuperar a verba (por meio de ações judiciais ou retenções futuras), já que é obrigada a prestar contas, no final dos contratos, às demais operadoras que recebem da "conta do sistema". Desde o segundo semestre de 2002, já foram gastos mais de R$ 74 milhões em intervenções, segundo disse a SPTrans ao Ministério Público.
Segundo Bernardi, Niquini contou que o "esquema" aconteceu na gestão do ex-secretário dos Transportes, Carlos Zarattini. Procurado pela Folha, Zarattini não quis comentar o caso.
Niquini saiu do sistema quando teve os contratos rompidos após descoberta de irregularidades.


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