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VIOLÊNCIA
Responsáveis pelas investigações acreditam que jovens foram vítimas de uma emboscada para matar traficantes do Borel
Morador foi morto em tocaia, diz polícia
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
Policiais que investigam o caso
estão convencidos de que os quatro jovens mortos em abril no
morro do Borel (Tijuca, zona norte do Rio) foram vítimas de um
"tróia" (de cavalo de Tróia).
O "tróia" é uma emboscada armada por policiais. Eles ficam de
tocaia, na mata ou em cima de lajes, esperando os traficantes "armarem" a boca-de-fumo.
No início da noite, quando o negócio está a pleno vapor, os policiais saem do esconderijo e, de
surpresa, matam todos os traficantes a tiros. As mortes são registradas como autos de resistência
(ocorridas em confrontos).
No Borel, os PMs se complicaram porque os mortos não eram
traficantes, mas moradores da região. Segundo parentes e testemunhas, eles combinavam um jogo de futebol quando foram atingidos por tiros de pistola e fuzil.
Sete PMs convocados para a reconstituição da chacina, ontem de
manhã, não apareceram, o que revoltou os parentes das vítimas. O
advogado dos PMs, Clóvis Sahione, entrou com uma petição para
que os clientes só falem em juízo.
"Quem tem coragem de matar
um inocente tinha que ter coragem para vir aqui. Quem não deve
não teme", disse Maria Dalva Pereira da Silva, mãe do mecânico
Thiago Correia da Silva, 19, um
dos quatros mortos na ação policial do dia 16 de abril.
Os outros três são o estudante
Carlos Magno Nascimento, 18, o
pintor e pedreiro Carlos Alberto
da Silva Ferreira, 21, e o taxista
Everson Gonçalves Silote, 26.
Mesmo sem os PMs, a reconstituição foi feita por policiais civis e
peritos do Icce (Instituto de Criminalística Carlos Éboli). Duas
testemunhas secretas ouvidas na
semana passada, além dos parentes das vítimas, ajudaram a reconstituir a cena do crime.
Para os peritos, a versão dos policiais não está sendo confirmada
pelas provas técnicas (laudos cadavéricos e de local). Ao contrário
do que disseram os policiais, uma
parte dos tiros teria sido disparada de cima de uma laje, o que pode caracterizar uma emboscada.
Presidente do inquérito, o delegado Orlando Zaccone ainda não
indiciou os policiais porque quer
determinar a participação de cada
um no caso. Ele acredita que nem
todos participaram da matança.
Dos 16 que estão afastados das
atividades de rua por estarem no
Borel na hora da chacina, apenas
três ou quatro cometeram os crimes, conforme as investigações.
Só nos quatro primeiros meses
deste ano, segundo o governo, já
morreram mais pessoas em supostos confrontos com a polícia
do que em todo o ano 2000.
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