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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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VIOLÊNCIA

Responsáveis pelas investigações acreditam que jovens foram vítimas de uma emboscada para matar traficantes do Borel

Morador foi morto em tocaia, diz polícia

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

Policiais que investigam o caso estão convencidos de que os quatro jovens mortos em abril no morro do Borel (Tijuca, zona norte do Rio) foram vítimas de um "tróia" (de cavalo de Tróia).
O "tróia" é uma emboscada armada por policiais. Eles ficam de tocaia, na mata ou em cima de lajes, esperando os traficantes "armarem" a boca-de-fumo.
No início da noite, quando o negócio está a pleno vapor, os policiais saem do esconderijo e, de surpresa, matam todos os traficantes a tiros. As mortes são registradas como autos de resistência (ocorridas em confrontos).
No Borel, os PMs se complicaram porque os mortos não eram traficantes, mas moradores da região. Segundo parentes e testemunhas, eles combinavam um jogo de futebol quando foram atingidos por tiros de pistola e fuzil.
Sete PMs convocados para a reconstituição da chacina, ontem de manhã, não apareceram, o que revoltou os parentes das vítimas. O advogado dos PMs, Clóvis Sahione, entrou com uma petição para que os clientes só falem em juízo.
"Quem tem coragem de matar um inocente tinha que ter coragem para vir aqui. Quem não deve não teme", disse Maria Dalva Pereira da Silva, mãe do mecânico Thiago Correia da Silva, 19, um dos quatros mortos na ação policial do dia 16 de abril.
Os outros três são o estudante Carlos Magno Nascimento, 18, o pintor e pedreiro Carlos Alberto da Silva Ferreira, 21, e o taxista Everson Gonçalves Silote, 26.
Mesmo sem os PMs, a reconstituição foi feita por policiais civis e peritos do Icce (Instituto de Criminalística Carlos Éboli). Duas testemunhas secretas ouvidas na semana passada, além dos parentes das vítimas, ajudaram a reconstituir a cena do crime.
Para os peritos, a versão dos policiais não está sendo confirmada pelas provas técnicas (laudos cadavéricos e de local). Ao contrário do que disseram os policiais, uma parte dos tiros teria sido disparada de cima de uma laje, o que pode caracterizar uma emboscada.
Presidente do inquérito, o delegado Orlando Zaccone ainda não indiciou os policiais porque quer determinar a participação de cada um no caso. Ele acredita que nem todos participaram da matança.
Dos 16 que estão afastados das atividades de rua por estarem no Borel na hora da chacina, apenas três ou quatro cometeram os crimes, conforme as investigações.
Só nos quatro primeiros meses deste ano, segundo o governo, já morreram mais pessoas em supostos confrontos com a polícia do que em todo o ano 2000.


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