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TRANSPORTES
Motoristas e cobradores temem desemprego devido ao novo modelo proposto pela SPTrans em licitação
Quebra-quebra impede audiência pública
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um quebra-quebra liderado
por motoristas e cobradores de
ônibus impediu ontem a realização da audiência pública que iniciaria os procedimentos de licitação do novo modelo de transporte coletivo em São Paulo.
O auditório Elis Regina, no Palácio de Convenções do Anhembi,
que dispõe de 850 lugares sentados, teve cadeiras, mesas e banheiros destruídos. Mais de 1.300
participavam do evento, entre
empresários, perueiros e principalmente condutores de ônibus.
O secretário municipal dos
Transportes, Carlos Zarattini, não
chegou a falar nem cinco minutos
sobre as regras da concorrência.
Ele e Carlos Alberto Carmona,
presidente da SPTrans (São Paulo
Transporte), tiveram que sair correndo do auditório após serem
atingidos por um jato de pó químico de um extintor de incêndio,
acionado por um manifestante
que estava com os motoristas.
Representantes da categoria subiram em cima do palco, de onde
jogaram latinhas de cerveja, mesas e cadeiras e rasgaram as cortinas. O telão utilizado para a apresentação também foi derrubado.
Não havia seguranças no auditório no momento do tumulto.
A ação foi classificada por Zarattini como um "ataque fascista". O secretário prometeu tomar
medidas judiciais e disse que,
além da intenção eleitoral de prejudicar a administração Marta
Suplicy, houve interesses de parte
dos empresários no protesto.
"Temos certeza de que há participação de empresários incentivando a manifestação. Algumas
empresas liberaram seus empregados para participar dela", afirmou Zarattini, sem citar diretamente os nomes das viações.
"Uma parte dos empresários resiste a mudanças e busca criar
problemas."
Edivaldo Santiago, presidente
do sindicato dos condutores, que
é ligado à Força Sindical e a parlamentares do PSDB, negou que a
ação violenta tenha sido iniciada
pelo grupo de trabalhadores.
O clima de tensão foi formado
antes mesmo de começar a audiência pública. Zarattini havia se
reunido horas antes com Santiago, mas não sabia da presença dos
motoristas no Anhembi.
A apresentação estava marcada
para as 14h30. Só começou às
15h15, depois de uma reunião do
secretário com técnicos do governo petista para decidir qual seria a
postura durante a audiência.
A mesa do palco tinha oito lugares disponíveis, mas só foi ocupada por Zarattini e Carmona. A intenção era evitar desgaste dos demais funcionários da prefeitura.
Os dois entraram no auditório e
foram recebidos com vaias e centenas de cartazes, distribuídos pelos condutores, com a inscrição
"Secretário Trapalhão". Enquanto a cerimônia era iniciada por
um locutor, Zarattini e Carmona
eram atingidos por dezenas de
bolinhas de papel. O secretário
municipal começou a falar sobre a
licitação, sem responder aos manifestantes, ao mesmo tempo em
que um homem embriagado dançava em cima do palco, de frente
para ele.
Por volta das 15h20, houve a interrupção do evento. Além da
destruição de parte do auditório
Elis Regina, um cinegrafista contratado pela prefeitura foi agredido e teve seu equipamento e seu
celular roubados.
Edivaldo Santiago disse que a
manifestação foi organizada porque a implantação do novo modelo de transporte significaria a
retirada de 2.500 da frota atual de
10 mil ônibus, resultando no desemprego de 11 mil condutores.
"A nossa intenção é evitar que a
audiência seja realizada. A prefeitura precisa discutir antes com os
trabalhadores", afirmou Santiago, minutos antes do tumulto.
Ele também criticava a intenção
da prefeitura de retirar de circulação, a partir de hoje, 301 ônibus
que não passaram em vistorias.
O secretário dos Transportes
negou que seu projeto leve à redução da frota. Ele disse que apresentaria um modelo com a existência de 11 mil ônibus do padrão
atual, com cerca de 70 lugares. No
final de 2001, havia manifestado a
intenção de manter 9.500.
"O Edivaldo poderia ter se informado melhor. Ele nem quis ver
a audiência pública para saber",
disse Zarattini. "No futuro, haverá mais ônibus articulados, maiores, podendo haver menos que 11
mil. Mas a migração da frota atual
para uma frota maior se dá lentamente. E a quantidade de horas
que eles vão circular será maior. O
emprego está garantido."
A nova licitação do transporte
coletivo prevê a divisão da cidade
em linhas locais (que circularão
entre os bairros), estruturais (que
ligarão os bairros ao centro) e
centrais (que ficarão restritas ao
centro). Hoje, as viações operam
em contratos emergenciais, que
vencem no final deste mês e serão
renovados por mais seis meses.
O diretor jurídico do Transurb
(sindicato das empresas de ônibus), Antonio Sampaio Amaral
Filho, disse, minutos depois do
quebra-quebra, que concordava
com a preocupação dos trabalhadores. "É triste ter acontecido esse
tumulto, mas a gente sabe que é
um tema apaixonante. Existe certa dose de preocupação, é um
problema social", afirmou.
O Transurb não foi localizado
depois das 18h30 para comentar
as acusações de Zarattini. A Folha
deixou recado no celular do assessor de imprensa da entidade, mas
não obteve resposta.
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