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SAÚDE
Arte-terapia ajuda a superar doenças
Estudos mostram que essa prática ajuda a aliviar a ansiedade e a aumentar a autoconfiança dos pacientes
FABIANE LEITE
BERTA MARCHIORI
DA REPORTAGEM LOCAL
A arte é "uma fada que transmuta", escreveu Manuel Bandeira, "e transfigura o mau destino."
A capacidade transformadora e
terapêutica da pintura, escrita,
música, dança e outras são propagadas também na medicina e psicologia. Mas faltava base científica para sustentar o discurso.
O assunto foi acolhido no último Congresso Mundial de Psiquiatria, em 2002, e estudos mais
amplos já o investigam.
Os primeiros resultados de uma
pesquisa inédita realizada pelo
projeto de arte-terapia do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas de São Paulo, por
exemplo, dão força à mensagem
do poeta. "A arte-terapia trouxe a
melhora de sintomas", relata a
psiquiatra e arte-terapeuta Carmen Lúcia Albuquerque de Santana, coordenadora do projeto de
arte-terapia do IPq. "Houve
transformação do conceito que as
pessoas tinham delas mesmas.
Uma mudança de identidade."
Os dados são da avaliação dos
60 pacientes por semana atendidos no serviço, criado há seis
anos. Os mais antigos foram
acompanhados por cinco anos
pela equipe. A análise final foi realizada por meio de entrevistas.
O estudo, tese de doutorado de
Santana, só termina no próximo
ano. Mas já é possível dizer que
por meio da arte pacientes contornaram dificuldades de comunicação, diminuíram a ansiedade
e aumentaram a autoconfiança.
"Minha timidez diminuiu e meu
relacionamento social melhorou.
Estou mais calmo e brigo menos,
respondo menos. Eu não abria a
boca e agora consigo conversar,
até aconselho meus colegas", relatou um dos adolescentes de 13 a 17
anos avaliados em outro estudo
qualitativo feito no IPq, com 16
pacientes depressivos, coordenado pela psicóloga Marilia Yokota.
Segundo ela, todos recebiam
medicação havia dois anos, mas a
melhora não era suficiente -sobravam sintomas e sua adaptação
social era considerada insatisfatória até começarem a arte-terapia.
"Não há paciente que não se beneficie", afirma Santana.
"Sinto tudo de feliz", diz Michelli Aparecida Pereira, 12, que faz
arte-terapia na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) de São Paulo.
A idéia e a prática não são novas. Freud estabeleceu as bases da
arte-terapia no início do século
passado, ao ver na arte uma forma
de expressão do inconsciente.
Jung iniciou a aplicação da arte
como terapia. No Brasil, Osório
César, no Hospital do Juqueri, de
São Paulo, e Nise da Silveira, no
Centro Psiquiátrico D. Pedro II,
no Rio, desenvolveram uma série
de experiências com pacientes
psiquiátricos, como explica o livro "A Arte Cura?", coordenado
pela psicóloga Maria Margarida
de Carvalho.
Terapeuta é essencial
"Pessoas com problemas emocionais muitas vezes não têm palavras para expressá-los. A expressão artística provê essa possibilidade. Se fazem um desenho,
conseguem comunicar um estado
da alma. É um fio que ajuda a entrar em contato", explica a psicóloga e arte-terapeuta Selma Ciornai, fundadora e coordenadora
do curso de especialização em arte-terapia do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo.
A arte é o mediador que coloca
em contato paciente e psicoterapeuta. É esse profissional a essência dessa prática terapêutica. Ajudará quem sofre a decodificar
símbolos, gestos, palavras. A linguagem artística é uma ferramenta no processo, portanto.
Diferentemente da arte-educação, na arte-terapia não há preocupação específica com a técnica,
estética e conhecimento de movimentos artísticos. Arte-terapia
também não tem nada a ver com
terapia ocupacional -em que a
atividade em si é o foco: por
exemplo, um determinado trabalho manual que favoreça a recuperação do membro.
Ciornai explica possíveis desdobramentos do processo criativo.
"Quem sofre de depressão tem a
sensação de que não há saída. Na
hora em que cria, há uma repercussão: quem cria na arte, cria na
vida", afirma. "Expressão artística
não serve só para liberar o que está doendo, mas também para soltar fantasias e utopias, a possibilidade de uma vida diferente."
A psicóloga e arte-terapeuta
Mônica Guttmann, 40, estimula
seus pacientes a criar histórias.
Por meio da maneira como ele
constrói a narrativa e segundo os
símbolos usados é possível conhecê-lo, diz. É na história que
surgem indicações de caminhos
para resolver o problema.
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