São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

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Governo agora culpa a Anac por crise aérea

Ministro Waldir Pires (Defesa) teria determinado que a agência imponha às companhias aéreas a redistribuição de rotas

Reunião no ministério ocorreu após o ministro ser acusado de "inoperância" e de não coordenar os órgãos que estão sob sua gestão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois dos controladores de vôo, o governo agora enxerga na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) a grande responsável pelos recentes problemas nos aeroportos do país.
Em reunião de mais de três horas no Ministério da Defesa, da qual participaram Anac, Infraero e Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), o ministro Waldir Pires teria dito que a Anac representa o Estado e tem que impor às empresas aéreas a redistribuição das rotas, apurou a Folha.
A determinação é que a Anac enquadre as companhias aéreas, que resistem a mudanças de rotas nos horários de pico.
O presidente da agência, Milton Zuanazzi, também foi cobrado a agir mais politicamente e sair dos bastidores. Segundo um dos participantes da reunião, Zuanazzi "levou um carão" do ministro.
Horas depois, por meio da assessoria de imprensa da Anac, Zuanazzi informou que, durante a reunião, não foram feitas críticas específicas ao trabalho da agência, mas sim discutidas formas de trabalho em conjunto.
A reunião ocorreu depois que o ministro foi acusado de "inoperância" e responsabilizado pela crise por não coordenar os órgãos responsáveis pelo setor aéreo subordinados a ele.
A Folha apurou que o ministro ficou irritado com o relator da CPI do Apagão Aéreo do Senado, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que o chamou de "banana" e pelas notícias de que Anac e Infraero estavam "batendo boca" em relação à solução para a crise.
Entre as medidas cobradas da Anac estão redistribuição de linhas, menos vôos nas horas de pico e fim do overbooking. O ministro teria pedido "mais aviões e menos concessões".
A avaliação de áreas militares e civis é que as empresas se beneficiaram da crise aérea, pois isso ocultaria a falta de assistência aos passageiros e a prática do overbooking, desconsiderando que recebem concessão pública.
O presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, que vinha defendendo uma mudança de postura da Anac, teria vencido a queda-de-braço. Zuanazzi estaria isolado e refém de uma estrutura na qual tem pouco poder -os diretores são indicações políticas.
Com o discurso afinado, Infraero e FAB estariam atuando para isolar a Anac das discussões sobre a crise aérea devido à pouca força de Zuanazzi.
Após a reunião, o Ministério da Defesa, informou, por meio de nota, que foram adotadas quatro medidas para tentar corrigir problemas identificados na prestação dos serviços aéreos -nenhuma delas têm como efeito agilizar os vôos.
Uma delas prevê o aumento de funcionários do Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea, que irá centralizar informações sobre a situação dos vôos nos principais aeroportos brasileiros. Com base nessas informações, as empresas deverão manter os usuários informados.
A terceira medida, diz a nota, é o aproveitamento de "áreas em desuso operacional nos aeroportos, ocupadas atualmente como depósitos, para colocá-las a serviço do transporte aéreo, mediante esforços processuais junto ao Poder Judiciário, quando necessário".
A última medida prevê que os órgãos federais responsáveis pela área de aviação civil, junto com as empresas, devem "implementar procedimentos que atendam adequadamente os usuários, prestando-lhes todas as informações e assistência necessárias à execução do serviço público de boa qualidade".

Reajuste
Durante a reunião, ao ser informado da greve dos funcionários da Infraero prevista para a próxima semana, Pires avaliou que era melhor atender ao pedido de aumento salarial e teria encaminhado ao Ministério do Planejamento informação de que haveria recursos para um reajuste de 6%.
Entre os funcionários da empresa há 480 controladores civis, que atuam principalmente nos aeroportos do Rio.


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