São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Famílias do turfe relatam como é viver na vila hípica, em plena zona sul do Rio

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Em dia de Grande Prêmio Brasil, como é o de hoje, a casa 13 da Vila Hípica do hipódromo da Gávea ficava movimentada desde cedo. Eram amigos de todo o país visitando Gonçalino Feijó, o Pajé, a figura mais famosa das três vilas onde cerca de 800 pessoas vivem em clima rural em plena zona sul do Rio.
Gonçalino morreu em 2004, aos 94 anos, após uma vida devotada aos cavalos e à boemia. Mas parte da família Feijó continua morando na casa 13. Vivendo em regime de comodato, sem pagar aluguel, cercadas de segurança, silêncio e pessoas conhecidas, as famílias de profissionais do turfe que habitam as vilas não cogitam mudar.
"Nasci aqui e vou morrer aqui", diz Nádia Feijó, 48, neta de Gonçalino. Gonçalino não é patriarca apenas dos Feijó. Uma Feijó se casou com um Morgado, outra com um Ulloa, e um neto de Gonçalino, Geraldo, se casou com a filha do ex-treinador Gilberto Lúcio Ferreira.
"Mesmo que eu tivesse muitos cavalos, preferia viver aqui. E seria até falta de respeito com meu avô desfazer a casa dele", diz Geraldo, 47, ex-jóquei, hoje treinador.
O treinador Alcides Morales, 78, que começou como cavalariço aos oito e teve em Gonçalino um "segundo pai", deixou que o filho escolhesse. Alcides Morales Filho foi jóquei por quatro anos, mas trocou o chicote pelos estudos de economia.
O treinador mais antigo em atividade é Francisco Abreu, o Chico Preto, 85. Ele vive há 41 anos na cocheira 23 da Vila Lagoa, onde criou seus 14 filhos -seis de sangue, oito adotados.
Contra essas famílias pesa a transferência de cavalos para a região serrana do Estado, onde o clima é melhor. Também pesa um antigo plano de derrubar as vilas e ceder o terreno para um empreendimento comercial. "E quem vai cobrir os R$ 200 mil que eu investi nessa cocheira?", pergunta o treinador Léo Cury, 55.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Saúde/Infectologia: Retorno às aulas e inverno difundem crise respiratória
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.