São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2007

Próximo Texto | Índice

Erro de projeto levou à falha, diz brigadeiro

Para presidente demitido da Infraero, manutenção ineficiente do Airbus-A320 também está entre as causas do acidente

José Carlos Pereira, que transmite seu cargo hoje ao engenheiro Sérgio Gaudenzi, considera ter sido bode expiatório na crise

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, o acidente com o vôo 3054 da TAM que matou 199 pessoas no dia 17 de março foi resultado de vários fatores encadeados, a começar por um erro de projeto do Airbus-A320.
"Quando você tem um erro de projeto que induz a um erro de piloto e soma a isso um problema de manutenção, tudo fica exatamente como o diabo gosta", disse Pereira à Folha ontem, na véspera de transmitir seu cargo para o engenheiro Sérgio Gaudenzi.
Em nota, a Airbus já se eximiu de qualquer culpa direta. Em entrevistas e depoimentos, a TAM também.
Pereira, 65, baiano como o sucessor, ajudou a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e ficou no olho do furacão da crise aérea, acusado no governo de "falar demais".
Ele avalia que a crise é resultado, entre outras coisas, da resistência da Aeronáutica em abrir mais concursos para controladores de vôo civis, "com receio de que civis pudessem fazer uma greve e paralisar o sistema, fazer motim". Foi justamente o que ocorreu com os controladores militares em 30 de março. "A FAB levou um golpe no fígado", disse.
Para o brigadeiro, a demanda de passagens aéreas vem aumentando muito, as empresas do setor estão atuando sem devida fiscalização e a Infraero é suspeita de corrupção.
Ele evita ataques diretos à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), mas compara com a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária): "Precisa pelo menos saber a diferença entre dengue e tuberculose".
Na sua opinião, ele foi demitido porque o governo precisava de um bode expiatório: "Alguém vai atacar a Aeronáutica, a minha Aeronáutica? A Anac, que é imexível pela Constituição? Então, quem sobrou? Quem era o lado mais fraco? Eu", disse ele, que foi pessoalmente à sucursal da Folha em Brasília, ontem, ao meio-dia.


Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.