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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/INFRA-ESTRUTURA
Só Cumbica tem pacote total de segurança
Entre os principais aeroportos do país, o de Guarulhos (SP) é o único com todos os equipamentos, segundo a Aeronáutica
Mesmo contando com todos
os equipamentos, Cumbica
não está em condições
ideais; pista principal
passará por reforma
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Entre os 17 aeroportos de
maior movimento no país, apenas o de Cumbica (Guarulhos)
possui o "pacote completo" de
segurança e auxílio aos pilotos
em suas duas pistas, segundo
documento da Aeronáutica a
que a Folha teve acesso.
O relatório, que orienta pilotos sobre todos os aeroportos
brasileiros, descreve a falta de
equipamentos básicos -alguns
deles já considerados obsoletos
em outros países-, obstáculos
como postes e antenas, presença de urubus e balões juninos
durante quatro meses do ano.
"Com relação a equipamentos de segurança, como o ILS
[que permite o pouso por instrumentos], os piores aeroportos do exterior são melhores do
que os melhores aeroportos do
Brasil", diz Anderson Ribeiro
Correia, presidente da SBTA
(Sociedade Brasileira de Pesquisas em Transporte Aéreo) e
professor do ITA (Instituto
Tecnológico da Aeronáutica).
Embora tenha todos equipamentos do "pacote", Cumbica
também não está em condições
perfeitas de uso, tanto que a
pista principal começará a ser
reformada nesta semana. A
pista tem mais de 20 anos, está
com rachaduras e remendos.
"Ela não é confiável", disse na
semana passada o brigadeiro
José Carlos Pereira, então presidente da Infraero.
Ao analisar o relatório da Aeronáutica, a Folha deteve-se
apenas nos aeroportos que receberam mais de um milhão de
passageiros por ano, o que resultou em 17 unidades no país,
uma pequena parte dos 738 aeródromos em funcionamento
hoje segundo a Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil).
Recado aos pilotos
Destes 17 aeroportos, apenas
Florianópolis não tem observações de segurança aos pilotos.
Por outro lado, o aeroporto da
capital catarinense não dispõe
de ILS em sua pista auxiliar,
impedindo pousos por instrumentos na eventualidade de interdição da pista principal.
"Até poucos anos atrás, me
indispunha com a Aeronáutica
pois sou favorável à banalização do ILS. Pelo menos as capitais deveriam ter", diz o ex-presidente da Infraero (estatal que
administra aeroportos) Adyr
da Silva, atual presidente da Associação Brasileira de Direito
Aeronáutico.
Se há consenso entre especialistas sobre a necessidade de
"banalizar" o ILS, o mesmo não
ocorre no governo.
A Aeronáutica informou que
instala os equipamentos segundo a necessidade apontada pelo
operador dos aeroportos. A Infraero avalia que cabe à Aeronáutica comprar os equipamentos. A assessoria de imprensa da Anac não respondeu.
Outro item que eleva a segurança dos aeroportos também
não é disseminado no país. A
aplicação do grooving, ou ranhuras, só está presente em sete dos 17 principais aeroportos.
A ausência das ranhuras na
pista principal pode ter contribuído para a derrapagem de
uma avião da Pantanal na véspera do acidente do Airbus-A320 da TAM, no mês passado
em Congonhas, e ainda é alvo
da investigação aeronáutica sobre a maior tragédia da aviação
brasileira.
A falta de segurança e precariedade das instalações aeroportuárias começou a ganhar
destaque no início do ano passado, quando um Boeing da
BRA derrapou na pista de Congonhas.
Depois disso, as tragédias do
vôo 1907 da Gol, com 154 mortes, e do vôo 3054 da TAM, com
perda de 199 vidas, elevaram
ainda mais a importância da
fiscalização do tema.
Perigos
Em reação aos problemas, o
Conac (Conselho Nacional de
Aviação Civil) decidiu na semana passada transferir vôos de
Congonhas para Guarulhos e
transformar Brasília em um
centro de distribuição de passageiros que viajam do sudeste
para as regiões norte e centro-oeste do país.
A Aeronáutica orienta os pilotos sobre o pouso em Brasília
pedindo cuidado com um trecho escorregadio de 700 metros na pista. Terceiro aeroporto mais movimentado do país,
também não possui ILS em sua
segunda pista.
"Quando molhada torna-se
escorregadia dos 300 metros
aos 1000 metros a partir da cabeceira", diz o texto do documento da Aeronáutica sobre a
pista de Brasília.
Outro problema freqüente,
presente em 11 dos 17 principais aeroportos do país, são os
pássaros -especialmente urubus. "Observação: concentração de pássaros urubus em todos os setores", diz um trecho
do documento da Aeronáutica
sobre o aeroporto de Vitória, no
Espírito Santo.
Depois de atingir o recorde
de 500 colisões em 2005, o Brasil registrou 486 notificações
oficiais de batidas de aeronaves
com pássaros no ano passado.
Neste ano, um piloto ficou cego
de um olho após seu avião atingir uma ave.
Os choques se devem à proximidade de focos de atração dos
pássaros, que podem variar de
detritos do próprio aeroporto a
lixões, matadouros, açougues,
entre outros.
As normas em vigor impedem a instalação destes estabelecimentos em uma área de 20
quilômetros em torno do aeroporto, mas o adensamento populacional tem tornado essa regra de difícil aplicação prática.
"À medida que for entranhando na cultura urbana essa
necessidade de proteger aeroportos os urubus vão desaparecer", aposta Silva.
Interior
De acordo com o presidente
da Abetar (Associação Brasileira das Empresas de Transporte
Aéreo Regionais), Apostole
Lack, a situação nos aeroportos
do país menos movimentados
seria ainda mais precária e delicada, pois as soluções demorariam mais.
"O povo brasileiro precisa
deixar de ser tolerante e cobrar
seus direitos. Na maioria das
vezes, há lixão perto do aeroporto, tem pista no Brasil com
cerca no final, onde de vez em
quando passa vaca, passa boi."
Segundo especialistas, os aeroportos de Tefé (AM) e Montes Claros (MG) são exemplos
de grandes concentrações de
urubus no país. Na Amazônia,
há um lixão próximo à cabeceira da pista. Em Minas Gerais,
um parque próximo ao aeroporto é foco de aves e pássaros.
Responsabilidade
Para Adyr Silva, o problema é
de responsabilidade municipal.
Procurada pela reportagem, a
CNM (Confederação Nacional
dos Municípios) não se pronunciou sobre o tema.
O documento alerta ainda
para a presença de torres de alta tensão e antenas no "caminho" de aproximação das aeronaves para os aeroportos.
"É caro ser perfeito, custa
muito. Mas não imaginamos a
perfeição do dia para a noite,
precisamos é começar a tomar
providências", disse Lack.
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