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Após morte de jovem no Pará, fórum é depredado
Moradores de Viseu incendiaram também delegacia em protesto contra morte em suposta briga com PM
Três presos foram soltos; Secretaria da Segurança Pública do Pará informou que investigará policiais
que fizeram abordagem
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Moradores de Viseu (368 km
de Belém) depredaram e incendiaram o fórum e a delegacia da
cidade na manhã de ontem, em
protesto contra a morte de um
jovem durante suposta briga
com um policial militar. Ao menos três presos que estavam na
carceragem foram libertados.
Segundo a Polícia Militar, o
incidente que motivou a revolta dos moradores ocorreu por
volta das 18h de anteontem,
após PMs receberem denúncia
sobre um foragido da Justiça e
outras três pessoas que estariam fumando maconha em um
local chamado Piçarreiras.
Eles saíram correndo ao serem abordados, de acordo com
a PM. Um deles, adolescente de
17 anos, foi alcançado durante a
fuga. O policial pediu que ele
soltasse uma faca que carregava, mas foi agredido pelo rapaz
ao se abaixar para pegá-la. O
adolescente acabou levando
um tiro durante a briga, segundo a versão da polícia.
Como em Viseu não há infra-estrutura médica para o atendimento, o rapaz foi levado a um
hospital em Bragança (PA), distante cerca de 150 km, mas
morreu no caminho.
Ao saber da morte, pessoas ligadas ao rapaz -a PM não deu
nomes- foram em busca do
corpo para enterrá-lo, disse o
major César Luiz Vieira. Como
não encontraram o cadáver,
que havia sido levado ao IML
(Instituto Médico Legal) de
Castanhal (PA), resolveram
promover o quebra-quebra,
afirmou o major.
Relatos de moradores
Moradores de Viseu ouvidos
pela Folha disseram que os envolvidos no protesto intimidaram os nove policiais militares
e civis da cidade, depredaram a
delegacia, soltaram presos e,
por fim, atearam fogo ao prédio
e a carros da polícia.
O fórum local também foi
atacado e ficou completamente
queimado, contou o gerente de
um hotel que fica na mesma
rua. Moradores também disseram que a casa do juiz César
Augusto Rodrigues, que fica ao
lado do fórum, foi saqueada.
O gerente de contas do Banco do Brasil Deive Silva de Souza disse ter acompanhado o tumulto. Afirmou à Folha que
não houve uma ação conjunta
da população de Viseu, mas de
uma "gangue de moleques",
que eram "amigos do adolescente". A versão não foi confirmada pelo governo do Pará.
"A população está contra isso
[depredação], mas não tem o
que fazer", afirmou Souza no
final da tarde de ontem, após
cerca de 50 PMs chegarem a
Viseu, que tem pouco mais de
53 mil habitantes, para reforçar a segurança. O contingente
incluía 30 homens da Tropa de
Choque e bombeiros que foram
apagar o fogo remanescente.
Não havia relatos de mais conflitos na cidade até a conclusão
desta edição. O promotor e o
juiz deixaram a cidade em um
helicóptero da PM e foram para Bragança.
O major Vieira disse que "desocupados" integravam o grupo que participou dos ataques.
"Não é difícil entender por que
fizeram isso. Queimando o fórum, eles queimaram os processos", afirmou. A reportagem
conseguiu contato com o major
Vieira às 16h30, quando ainda
estava em um posto de combustíveis afastado do centro de
Viseu. "Viemos para manter a
ordem pública."
A Secretaria da Segurança
Pública do Pará informou que
os três policiais que participaram da abordagem em que
houve a morte do adolescente
serão investigados.
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