São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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SÃO PAULO EM ALERTA

"Triângulo da morte", no extremo sul, tem 14,5% dos homicídios

Foram 44 assassinatos no local no segundo trimestre deste ano; região engloba Capão Redondo, Jd. São Luís e Jd. Ângela

Zona sul, como um todo, responde por 230 dos 630 homicídios registrados na capital; mesmo assim, área reduziu mortes em 9,4%

LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na escola estadual da rua Dona Virginia, no Jardim São Luís, na zona sul, o assunto dos pais de alunos anteontem era o homem morto com dois tiros no peito a 300 metros da instituição. O cadáver, de um desconhecido, reforça as estatísticas da polícia, segundo as quais o extremo sul é a região mais violenta de São Paulo com 177 homicídios no primeiro semestre deste ano -ou seja, 28% dos assassinatos ocorridos na cidade.
Segundo as estatísticas do governo de São Paulo, ocorreram 630 assassinatos na capital no primeiro semestre -cerca de 3,4 mortes por dia. Desse total, a Secretaria da Segurança Pública não soube definir onde três casos ocorreram.
A zona sul como um todo (o extremo sul e bairros mais próximos do centro, como Santo Amaro e Brooklin) ficou em primeiro lugar, com 230 casos registrados. A segunda região em número de homicídios foi a zona leste (198), seguida pela zona oeste (77), zona norte (74) e centro (48).

"Triângulo da morte"
O corpo do desconhecido foi encontrado às 4h de anteontem por uma testemunha anônima na região do 100º Distrito Policial (Jardim Herculano), uma das três delegacias que formam o "triângulo da morte" -que registraram os maiores índices de homicídios no último trimestre.
Os outros dois vértices do triângulo são o 47º DP (Capão Redondo) e o 92º DP (Parque Santo Antônio). Eles englobam, de forma aproximada, Capão Redondo, Jardim São Luís e Jardim Ângela, regiões que, segundo estatísticas deste ano da Prefeitura de São Paulo, concentram 261 favelas.
Nessas regiões, entre 27% (Jardim São Luís) e 36% (Jardim Ângela) das famílias sobrevivem com menos de três salários mínimos por mês. Em Perdizes, por exemplo, esse índice não chega a 4%.
Só no triângulo da morte foram registrados no segundo trimestre deste ano 44 homicídios. No mesmo período, em todos os 93 distritos policiais da capital, foram 303 assassinatos, segundo as estatísticas.
Na área do 100º DP, aconteceram 18 casos, na do 47º DP, 14 crimes e, na do 92º DP, 12. O assassinato de anteontem -um dos mais recentes na área do 100º DP- entrará na estatística do 3º trimestre de 2008.
Segundo a polícia, testemunhas ouviram cinco tiros em outro ponto do bairro durante a madrugada; a rua Dona Virgínia, sem pavimentação e repleta de mato e lixo, foi o local escolhido pelos assassinos para se livrar do cadáver sem chamar a atenção de testemunhas.
"Eu moro há 40 anos nesse bairro e sou evangélico. Já vi gente ser morta na porta da igreja. Esse assassinato não é surpresa para a gente", disse o vigilante Celso Nepomuceno, 43, que levava a filha de 7 anos para escola.
Apesar de ser a mais violenta, a zona sul é também a que mais tem reduzido a criminalidade. Em relação ao primeiro semestre de 2007, teve 24 assassinatos a menos neste ano, uma redução de 9,4%. Para a polícia, a tendência -que vem se mantendo- se deve à redução das armas de fogo em circulação desde a entrada em vigor do estatuto do desarmamento, ao fechamento mais cedo de bares e à abertura de escolas para lazer nos fins de semana.


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