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TRANSPORTES
Reforma em Itanhaém (litoral sul de SP) custou R$ 5,5 mi; neste ano, movimento médio foi de 5 pessoas ao dia
Alckmin amplia aeroporto "fantasma"
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
MOACYR LOPES JUNIOR
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
Itanhaém, no litoral sul de São
Paulo, tem 85 mil habitantes,
praias de areia dura e agora um
aeroporto totalmente reformado
e ampliado, com uma pista capaz
de receber até um Boeing 737,
com cem passageiros a bordo.
Inaugurado na década de 50
com apenas uma pista de terra, o
aeroporto estadual Antônio Ribeiro Nogueira Júnior passou nos
últimos cinco anos por grandes
modificações. Ganhou um terminal de passageiros, sede para os
bombeiros, estacionamento, pátio de aeronaves e uma pista de
1.350 metros de extensão -maior
até do que a do aeroporto Santos
Dumont (RJ), por onde é feita a
ponte aérea Rio-São Paulo.
Ao lado do gasto de R$ 5,5 milhões da administração Geraldo
Alckmin (PSDB) para concluir a
reforma em dezembro do ano
passado, o que chama a atenção é
o pequeno movimento: apenas
cinco pessoas, em média, utilizaram o aeroporto a cada dia, entre
janeiro e julho deste ano.
Há dias em que não há nenhum
pouso ou decolagem em Itanhaém. Entediados, funcionários
fazem palavras cruzadas e alguns
até cochilam nas dependências do
aeroporto no horário de serviço.
O secretário estadual dos Transportes, Dario Rais Lopes, justifica
os gastos com a obra com dois argumentos: diz que a reforma do
aeroporto aumentou a segurança
de vôo no Estado -dando mais
uma alternativa de pouso para
aviões que tenham problemas durante o vôo- e propiciou uma
melhor infra-estrutura turística
para o litoral sul.
"O aeroporto será um indutor
para o crescimento da região", diz
Lopes (leia texto na pág. C3), que
comemora o aumento de 17% no
movimento de aeronaves em julho deste ano em comparação
com o mesmo mês de 2004.
Mas as estatísticas do Daesp
(Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo), órgão que
controla 30 aeroportos pequenos
e médios do Estado, mostram
uma realidade diferente da festejada pelo governo.
Queda no movimento
Em relação ao número de pousos e decolagens, o pico dos últimos cinco anos foi registrado em
2002, ano em que o secretário Lopes, piloto amador, estreou a nova pista no comando de um avião
Seneca, um bimotor.
O aeroporto de Itanhaém teve
então 5.241 movimentações de
aeronaves entre janeiro e julho
daquele ano.
Mas de lá para cá, enquanto as
obras eram feitas, o tráfego aéreo
diminuiu em Itanhaém. Nos primeiros sete meses deste ano, foram registrados 4.088 pousos e
decolagens -valor inferior até
mesmo em relação ao mesmo período do ano passado, com 4.138
movimentações aéreas.
Em relação ao número de passageiros que utilizam o aeroporto,
os números do Daesp também revelam uma diminuição gradativa.
Em 2000, ano em que começou
a reforma, 2.542 passageiros passaram pelo aeroporto entre janeiro e julho. O número foi caindo
gradativamente até chegar aos
1.068 deste ano. De 17º aeroporto
mais movimentado por passageiros dos 30 mantidos pelo Daesp,
passou para 21º neste ano.
Sem estudo
Para decidir pela reforma e ampliação do aeroporto de Itanhaém, o governo estadual não
utilizou estudos técnicos para
avaliar a demanda reprimida de
vôos no litoral paulista nem tinha
informações sobre o potencial
econômico da região. O último
dado disponível era da década de
80 -material desatualizado, segundo o próprio secretário.
Especialistas ouvidos pela Folha
afirmam que, antes de investir na
reforma, o governo deveria ter feito um estudo de demanda que
apontasse a relação custo-benefício da obra (leia na pág. C3).
Hoje, de cada dez aeronaves que
chegam ao município, seis são helicópteros e quatro, aviões de pequeno porte. E nenhum Boeing
jamais pousou no município, para tristeza do administrador regional do aeroporto, José Antonio
da Fonseca.
"Aqui só vem aviãozinho que
puxa faixa na praia com anúncio
publicitário e helicóptero do pessoal que faz prospecção de petróleo na bacia de Santos", afirma,
com o olhar perdido nos 7.000 m2
do pátio das aeronaves, de onde
se vê, ao longe, a serra do Mar.
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