São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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Pesquisa da Fiocruz atribui erro médico à má gestão do sistema

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Dois em cada três (66,7%) erros ocorridos nos hospitais públicos brasileiros são evitáveis, segundo pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz. Conduzido pelo médico Wagner Mendes, o estudo quantificou os chamados "eventos adversos": danos causados ao paciente por falha do médico, falta de material e de procedimentos adequados no hospital ou efeitos colaterais esperados de medicamentos ou tratamentos.
O levantamento foi feito em três hospitais públicos no Rio em 2003. Para Mendes, a amostra é válida para indicar o que acontece em todo o Brasil e representa a situação nacional "até de forma subestimada".
"A incidência de eventos adversos no Brasil não é muito diferente da dos países desenvolvidos. O que chama a atenção é a proporção de problemas evitáveis. Na minha avaliação, o principal problema é a gestão do sistema de saúde, e não dos profissionais", disse Mendes.
O índice de 66,7% de eventos adversos evitáveis é bem maior, por exemplo, do que os da França (27%) e do Canadá (37%). A pesquisa é a primeira do tipo realizada na América Latina.
Os hospitais disponibilizaram prontuários de 2003. A equipe de Mendes estudou 1.103 documentos. Desse total, 7,6% são de pessoas que tiveram eventos adversos. A taxa é semelhante à de países desenvolvidos como França (9%) e Canadá (7,5%).
Mendes cita a falta de um controle eletrônico dos pacientes e dos prontuários como exemplo de problema de gestão hospitalar que pode provocar um evento adverso.
"Medidas simples como colocar uma pulseira com códigos de barras no paciente evitariam problemas de erro de medicação, por exemplo", afirma.
"Os pacientes são tratados de forma amadora no Brasil", diz Mendes. "Nos países desenvolvidos a gestão é profissional. Aqui ainda temos partidos políticos indicando diretores de hospitais."
Segundo ele, não é possível separar na pesquisa os problemas causados por falha do médico ou da gestão do sistema de saúde. "Quando um médico causa um problema no paciente durante a cirurgia por falta de tomografia, já que não existe tomógrafo no hospital, de quem é a culpa? Do médico, que causou o problema, ou do hospital, que não ofereceu o tomógrafo?"
Segundo a pesquisa, 48,5% dos eventos adversos ocorrem na enfermaria. Nos países desenvolvidos, o centro cirúrgico é o local com mais casos.
Em relação à origem dos eventos, a cirurgia está no topo da lista, assim como ocorre nos países desenvolvidos.


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