São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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PM deveria estar preso no dia do assassinato de jovem

Condenado pelo crime, cabo tinha mandado de prisão pendente por assalto à mão armada

Promovidos enquanto respondiam à acusação, policial e colega receberam sentença na terça, após investigação da mãe de Hanry

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Um dos PMs condenados na terça-feira passada pela morte de Hanry Silva Gomes de Siqueira, 16, deveria estar preso no dia 21 de novembro de 2002, data da operação da polícia em que o garoto foi assassinado com um tiro no peito no morro do Gambá, no Rio.
O policial militar Marcos Alves da Silva foi condenado, em 1998, a quatro anos de prisão em última instância por assalto à mão armada em Nilópolis (Baixada Fluminense).
O mandado só foi cumprido no mês passado, em 14 de agosto, quando seria feito o julgamento do caso Hanry -cancelado naquele dia pela ausência de um dos advogados.
Segundo consta da ficha disciplinar da Polícia Militar, obtida pela Folha, Silva, com outros três homens, foi em 8 de agosto de 1996 à casa de Ivanildo Santos Bento "fazer uma cobrança". Após discussão, o cabo disparou contra o imóvel. Sem o dinheiro que pretendia obter, o grupo roubou uma moto.
Pelo assalto, a PM o manteve em prisão disciplinar por 30 dias. Ele sofreu ainda duas repreensões e detenção de dois dias por transgressões administrativas.
Paulo Roberto Paschuini, o outro PM condenado pela morte de Hanry, também tem registros em sua ficha disciplinar. Ele se envolveu em uma confusão em Itaguaí (Baixada Fluminense) e atirou contra seu oponente. Responde a processo por tentativa de homicídio na comarca da cidade.
Pelo entrevero, ficou preso administrativamente por 30 dias. Ele também tem uma repreensão anotada.
Tudo isso ocorreu antes de 2002, quando Hanry foi morto.

Promoção
Mesmo com as acusações e respondendo pela morte do garoto, os dois policiais foram promovidos pela polícia do Rio.
No início do processo do caso Hanry, em 2006, Silva era soldado e Paschuini, cabo. Ao final, eram cabo e terceiro-sargento, respectivamente.
A PM confirmou a promoção, mas não divulgou a data exata em que os policias trocaram de patente. De acordo com a assessoria de imprensa da corporação, eles foram promovidos por tempo de serviço. A PM diz que os dois agentes respondem por processo administrativo pelo caso Hanry.
A PM e a Vara de Execuções Penais não informaram, até a conclusão desta edição, porque o mandado de prisão não foi cumprido. Ele só foi preso porque a Promotoria identificou a condenação pendente e avisou ao juiz Sydnei Rosa, do 3º Tribunal do Júri, que determinou a prisão do policial.

Crime
Silva e Paschuini responderam a processo por homicídio doloso e fraude processual pela morte do garoto. Foram condenados na terça após investigação feita pela mãe da vítima, Márcia de Oliveira Jacintho.
Os PMs foram acusados da morte de Hanry e de terem apresentado arma e droga como "provas" de que o jovem trocara tiros com a polícia durante operação no morro. Silva foi condenado a nove anos de prisão por homicídio doloso e fraude processual. Paschuini, a três anos pelo último crime.
Durante seis anos, Márcia, 46, investigou a morte do filho. Colheu depoimentos de testemunhas, conseguiu perícia no local e até direito estudou para provar que ele não morreu em troca de tiros com a polícia, como havia dito a PM.
Ela realizou trabalho de perita e advogada, abandonou o emprego de vendedora e passou a cobrar a investigação das autoridades. Para isso, contou com a ajuda da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia e da ONG Justiça Global.
Com base em depoimentos de moradores, placas e números de veículos anotados, Márcia diz que 11 PMs participaram da operação. Apenas a dupla que assumiu ter atirado foi denunciada -e condenada. Ao final da investigação, já havia se formado no ensino médio e cursado o primeiro período de direito -trancado atualmente.


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