São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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Patrimônio tomba casa "perdida" de Machado de Assis

Em 1874, o escritor e sua mulher, Carolina, viveram por 11 meses no imóvel, no Rio

O sobrado, localizado na Lapa (região central), era dado como demolido; série de mudanças na numeração da rua dificultou localização

CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

O sobrado na rua da Lapa (centro do Rio) em que Machado de Assis e a sua mulher Carolina viveram por 11 meses no ano de 1874 foi tombado provisoriamente, na última quarta-feira, pela Prefeitura do Rio.
"O tombamento dessa casa em particular foi uma solicitação da ABL (Academia Brasileira de Letras), já que neste ano se comemora o centenário da morte do escritor", afirma o secretário municipal do Patrimônio e da Memória Histórico-Cultural, André Zambelli.
O tombamento definitivo deve acontecer quando a Secretaria do Patrimônio e da Memória Histórico-Cultural localizar as outras seis casas onde Machado morou ao longo de sua vida, afirma a prefeitura. No momento, pesquisas estão sendo realizadas nos bairros do Catete, Laranjeiras e Centro para tentar identificar os imóveis do escritor.
Pensava-se que esta casa havia sido demolida, mas, a partir do que se discutiu em uma sessão da academia em agosto deste ano, pesquisadores foram a campo e descobriram que a casa permanecia em pé, no número 264 da rua da Lapa. Na época em que o escritor ocupou o imóvel, o número era 94.
"Ocorreram quatro mudanças de numeração nas ruas do Rio entre 1875 e 1959", diz Zambelli. Com as alterações, os pesquisadores encontraram dificuldades para confirmar qual foi a casa em que Machado realmente morou.
Pelo projeto do Corredor Cultural, o sobrado já estava tombado desde 1984. Agora, adquire relevância cultural.
"A motivação [para o tombamento] não é exatamente pela qualidade da casa, mas muito mais pelo ilustre morador que passou um determinado período naquele endereço", afirma Zambelli.
"Machado não chegou a morar um ano nessa casa, mas é importante [o tombamento] porque a obra de Machado fala muito da cidade e aí as pessoas podem fazer essa ligação entre os lugares onde ele residiu. Esses lugares provavelmente influenciaram muito as cenas e os cenários que ele descreve, e as suas obras."
De acordo com o presidente da ABL, Cícero Sandroni, o livro "A Mão e a Luva" (1874) foi concebido no sobrado da rua da Lapa. Trata-se do segundo romance publicado por Machado e está inserido na fase romântica do escritor.

Centro cultural
Aprovado o tombamento, a ABL tem planos de transformar o espaço em um centro cultural em parceria com a prefeitura. "Esta providência inicial do prefeito [Cesar Maia] inaugura uma série de medidas que serão conjuntamente tomadas para, em médio prazo, transformar aquele imóvel num centro irradiador de conhecimento e numa oficina de formação de escritores brasileiros", diz Sandroni.
Embora o sobrado esteja mal conservado, com pintura envelhecida e pichações, a estrutura da casa não está comprometida. "A fachada está necessitando de obras, mas a construção não se encontra em um estado crítico, não oferece risco", afirma Zambelli.
Atualmente, a casa de 17 cômodos é habitada por diversas famílias. Os ocupantes não sabem quem é o proprietário do imóvel e a prefeitura ainda não conseguiu localizá-lo.
De acordo com o secretário, não há planos para fazer reformas no sobrado.


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