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Maioria das câmeras em uso não flagra criminosos
Posicionamento inadequado, má iluminação e falta de gravação prejudicam investigações
Associação das empresas do setor diz que só 14% das cenas captadas mostram, de imediato, o autor do crime; polícia tem percepção igual
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Faz dois meses que o assassinato da executiva Eunice Terazzi, 61, testemunhado pelo
neto de quatro anos, movimentou o bairro Butantã, na zona
oeste de São Paulo. Desde então, suspeitos foram localizados, mas não havia provas contra eles, apesar de a vizinhança
ser cheia de câmeras de vigilância apontadas para a rua.
Na rotina dos investigadores,
o problema não é novidade. Por
estarem mal posicionadas, fornecerem imagens ruins ou,
pior, não gravarem nada, a
maior parte das câmeras em
prédios residenciais da cidade
não é suficiente para que se impeça ou elucide os crimes que
acontecem diante de suas lentes, dizem policiais e profissionais de segurança privada.
No crime do Butantã, foram
pedidas imagens de câmeras de
seis imóveis vizinhos. Algumas
não gravavam nada e outras
não funcionavam nem para
simples monitoramento. Só
uma delas fez registro de suposta passagem do criminoso,
com péssima qualidade.
"Só dá para ver um vulto. Não
dá para saber se é magro ou
gordo, alto ou baixo", diz o delegado Antonio Tadeu Cunha, do
DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa),
que investiga o caso.
A Abese (Associação Brasileira das Empresas de Sistemas
Eletrônicos) diz que, após levantamento com associados,
constatou que apenas em 14%
das ocorrências pesquisadas a
câmera foi suficiente para mostrar o crime e identificar, de
imediato, seus autores.
Isso não quer dizer que todas
as outras são inúteis. A presença do equipamento pode inibir
o crime e mesmo imagens distorcidas podem dar pistas do tipo físico do criminoso, ressalta
a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. "Mas o ideal
é que a imagem não deixe dúvidas do que aconteceu e quem
estava lá", diz Marcos Menezes,
da diretoria da Abese.
O delegado Antonio Cunha
faz a ressalva: "É claro que os
profissionais de segurança privada querem vender o trabalho
deles. Mas essa pesquisa [da
Abese] faz sentido. Infelizmente, há muitas falhas de gravação, especialmente em bairros
da periferia", diz Tadeu.
Por falta de estratégia na implantação das câmeras, escolhe-se frequentemente o equipamento errado para o ambiente. Exemplo: câmeras fabricadas para identificação de
portaria usadas no jardim.
A gravação das cenas, importante para esclarecer os crimes,
é muitas vezes deixada de lado
por economia. Especialistas dizem que é um erro e que, se
possível, as imagens devem ser
transmitidas e gravadas em
central fora do condomínio, para evitar problemas como o do
arrastão em um prédio do Morumbi, em julho, em que assaltantes levaram os computadores com as imagens.
Faça você mesmo?
Contudo, tanto a Polícia Militar quanto profissionais do setor desaconselham o "faça você
mesmo". Dizem que é preciso
contratar um especialista para
traçar uma estratégia para o
prédio, de acordo com o orçamento dos moradores.
"Para escolher consultor ou a
empresa, veja referências de
trabalhos que já fizeram", diz
José Elias de Godoy, capitão da
Polícia Militar, autor de dois livros sobre segurança.
Para a delegada Nair de Castro Andrade, do 7º DP, na Vila
Romana, contratar um consultor "não é fundamental". "Se
houver orçamento para isso, é
melhor, mas há bons profissionais que instalam as câmeras
corretamente", diz ela, que investiga arrastão que aconteceu
na Lapa, há cerca de dez dias.
Nesse arrastão, o 26º do ano
na capital, houve flagrante.
Três suspeitos foram mortos
no confronto e seis foram presos. "Se a câmera gravasse, saberíamos se faltou prender alguém. Mas, como na maioria
dos casos, o equipamento só
servia para monitoramento."
Debater a estratégia de segurança em reunião de condôminos e convencê-los a seguí-la é
fundamental. "Às vezes, o morador do prédio não quer que o
porteiro entreviste, filme seu
visitante. É preciso colaboração", diz a delegada.
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