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SAÚDE
Remédios sem orientação médica podem tornar crônica a dor de cabeça; cefaléia atinge 75% dos adolescentes
Uso de analgésico é abusivo entre crianças
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O uso de analgésicos para alívio
da cefaléia (dor de cabeça) sem
acompanhamento médico tem sido abusivo entre crianças e adolescentes. Com isso, a dor pode
piorar e até tornar-se crônica. O
alerta é de neurologistas de alguns
dos maiores centros de tratamento de cefaléia do país.
No Brasil, um terço das crianças
com até sete anos de idade apresenta pelo menos uma queixa de
cefaléia por ano. Em adolescentes,
a incidência salta para 75%.
No ambulatório de cefaléia infantil do Hospital das Clínicas de
Ribeirão Preto (SP), que atende
em média 64 crianças por mês
com cefaléia crônica, a estimativa
é que 40% dos pacientes tenham
abusado de analgésicos (mais de
duas vezes por semana) antes de
buscar ajuda especializada.
Segundo o neurologista Marcos
Antônio Arruda, 40, responsável
pelo ambulatório, na maioria dos
casos são os próprios pais que,
por desconhecerem os efeitos nocivos dos analgésicos, medicam
os filhos. Mas, diz ele, não são raras as situações em que a próprias
crianças se automedicam.
O uso abusivo desses medicamentos pode causar uma queda
na produção de endorfinas (os
"analgésicos" naturais do cérebro), deixando o indivíduo mais
suscetível à dor.
Com isso, afirma Arruda, a pessoa vai sentir necessidade de aumentar ainda mais a dose do remédio e, em consequência, ter
também sua dor aumentada num
ritmo crescente até o momento
em que o remédio simplesmente
perderá o seu efeito.
Foi o que aconteceu com a estudante Bárbara Furue, 13, que sofre
de enxaqueca desde os 11 anos,
quando menstruou pela primeira
vez. No início, a mãe de Bárbara, a
comerciante Vânia, dava à filha
analgésicos que tinha em casa.
Depois, passou a medicá-la com
os remédios indicados pelo pediatra da menina.
Um ano se passou e, como a dor
persistia, o pediatra aconselhou
Vânia a levar a filha a um neurologista. Logo após os primeiros exames, constatou-se que Bárbara
sofria de enxaqueca.
Desde então, a garota começou
a tomar um remédio de uso contínuo para evitar as crises. "Melhorou muito. Antes minha cabeça
doía diariamente. Agora sinto
apenas uma dorzinha durante a
menstruação", diz Bárbara.
A enxaqueca, que tem origem
genética, ocorre em 5% das crianças em fase escolar e em 20% dos
adolescentes. A dor pode ser localizada, latejante, acompanhada ou
não de náuseas e, às vezes, chega a
persistir por várias horas.
Para o neurologista Deusvenir
de Souza Carvalho, 54, professor
da Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo) e responsável pelo
ambulatório de cefaléia do Hospital São Paulo, além do uso abusivo
de analgésico, outro problema é o
diagnóstico tardio da enxaqueca,
provocado, muitas vezes, por desconhecimento do pediatra.
"O médico tem que ir fundo na
investigação. Uma consulta de
cinco a dez minutos não consegue
diagnosticar nem o tipo nem as
causas da cefaléia", afirma.
Ele diz que no serviço da Unifesp o diagnóstico só é feito após o
preenchimento de um questionário com 15 perguntas, entre as
quais a frequência da dor, sua duração e os fatores que desencadeiam as crises.
Segundo os médicos, o passo
mais importante é descobrir o
que está provocando a enxaqueca
e, a partir daí, evitar esses fatores,
que podem ser desde a exposição
ao sol até o consumo de chocolate
e de bebidas com cafeína.
Marco Arruda afirma que as
emoções estão entre os fatores
que mais desencadeiam a cefaléia
infantil. A criança pode se estressar, por exemplo, por medo dos
pais ou pelo excesso de atividades.
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