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ENTREVISTA
Psicólogo hospitalar luta contra o tempo para auxiliar internados
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O paciente com um câncer no
intestino é internado cinco dias
antes da cirurgia. Quando sair da
operação, estará sem parte do reto e passará a viver com uma bolsa coletora. Para a equipe que vai
operá-lo, o foco está no órgão
doente e na avaliação clínica e cirúrgica. Para o psicólogo que o
acompanha, o importante é saber
como lidará com sua doença e
com a mutilação.
"Para alguns pacientes, a perda
de um órgão traz uma decadência
moral tão grande que supera o
próprio sentido da morte", diz
Mara Cristina Souza de Lucia, diretora da divisão de psicologia do
Instituto Central do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
Se fosse em consultório, traumas dessa dimensão seriam cuidados ao longo de meses. Dentro
do hospital, à beira do leito, o psicólogo tem algumas sessões e uns
poucos dias antes que o paciente
seja levado para a cirurgia.
Ao trabalhar com a fragilidade
do doente e na velocidade da
doença, a psicologia hospitalar é
talvez a especialidade mais instigante dentro da psicologia. Sua
atuação será debatida no 6º Congresso Brasileiro de Psicologia
Hospitalar, que acontece de 10 a
13 deste mês, em São Paulo, promovido pelo Centro de Psicoterapia Existencial. A coordenação é
de Valdemar Augusto Angerami-Camon, um dos pioneiros dessa
especialidade no Brasil.
Abaixo, trechos da entrevista
com a psicóloga Mara Cristina.
Folha - Como é cuidar de pacientes doentes e internados?
Mara Cristina Souza de Lucia - A
equipe de psicologia do HC tem
60 profissionais e faz o diagnóstico e o tratamento de cerca de
4.000 pacientes por mês. Muitos
têm enfermidades graves e estão
passando por cirurgias que mudarão suas vidas. Outros, com
doenças sem sintomas, como a
hipertensão, terão que mudar
seus hábitos alimentares e de vida. Nos dois casos, os pacientes
buscam um significado para suas
doenças. O psicólogo está ali para
avaliar e tratar o paciente enquanto parte viva e pensante de sua
própria doença.
Folha - E quando a situação é insuportável para aquele paciente?
Mara - O caso é colocado numa
reunião com profissionais de diferentes áreas. A equipe vai considerar se a cirurgia trará ou não
qualidade de vida que compense.
Não adianta buscar a cura a qualquer preço se o paciente não vai
suportar. Às vezes a cirurgia é
adiada e o paciente passa a ter sessões de terapia. Mas às vezes prevalece a prática médica de tratar o
paciente por partes, e seu estado
psíquico não é considerado.
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