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Vizinha "monta guarda" em dia de evento
DA REPORTAGEM LOCAL
Moradora do bairro do Pacaembu há 48 anos, Janete Rahal,
60, diz ficar "presa" dentro de casa em dias de show no estádio por
conta do risco de vandalismo.
"Não podemos nem sair, temos
que ficar para tomar conta", afirma Rahal, em relação aos carros
que param na frente da garagem
e, principalmente, a jovens que
pulam os portões e muros da vizinhança com "a desculpa de querer tomar água da torneira".
No final de 2004, Rahal teve um
vidro do quarto trincado por conta do barulho durante um show.
"Nem troquei, porque não sabia
quanto tempo iria durar", afirma.
As reclamações dela sinalizam a
sensação geral dos habitantes que
se dizem perturbados não somente pelo ruído das apresentações
que podem se estender até tarde
da noite ou madrugada, mas pelos transtornos que começam
dias antes da data do evento.
"A montagem do palco, três,
quatro dias antes, já incomoda. É
luz ligada, martelada a toda hora",
diz Arnoldo Lulsdorf, 45, arquiteto que mora no bairro há cinco
anos. "E no dia do show tem camelô, churrasquinho, bêbados,
sujeira. É uma bagunça geral",
diz, acrescentando que os organizadores costumam desmontar as
estruturas de madrugada.
Lulsdorf, que acorda às 5h30 para trabalhar, afirma que num dos
últimos shows, semanas atrás, só
conseguiu dormir após as 2h.
Iênides Benfati, 60, que vive no
Pacaembu há mais de 30 anos e
atua na associação dos moradores, diz receber reclamações de
vários bairros da vizinhança, como Sumaré, Perdizes, Higienópolis e até Pinheiros. "O estádio forma um amplificador do som."
Diferentemente dos dias de jogo
de futebol, ela afirma que os jovens que vão aos shows costumam chegar na noite anterior.
Em um show, ela já saiu às ruas
com os vizinhos para contar 48 vidros quebrados de carros, devido
aos furtos de rádios e toca CDs.
Benfati chegou a ser procurada
para tentar um acordo com organizadores do show do Pearl Jam,
mas não quis conversa.
O advogado Rubens Muszcat,
que vive em Higienópolis, a 500
metros do estádio do Pacaembu,
reclama do fato de a realização
dos eventos musicais irem contra
as normas de utilização do local.
Moradores entraram com uma
ação na Justiça há seis meses sob a
alegação de que a área só poderia
ser usada para eventos cívicos e
esportivos. "O bairro inteiro sofre, desde a preparação do show.
Não consigo descansar no final de
semana e eles não pagam quase
nada ao município", afirma.
"As ruas ficam imundas, eles
defecam e urinam nas calçadas e
postes. Muitos ficam drogados. E,
dentro de casa, não consigo nem
conversar por causa do barulho",
completa Janete Rahal.
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