São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2005

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Vizinha "monta guarda" em dia de evento

DA REPORTAGEM LOCAL

Moradora do bairro do Pacaembu há 48 anos, Janete Rahal, 60, diz ficar "presa" dentro de casa em dias de show no estádio por conta do risco de vandalismo.
"Não podemos nem sair, temos que ficar para tomar conta", afirma Rahal, em relação aos carros que param na frente da garagem e, principalmente, a jovens que pulam os portões e muros da vizinhança com "a desculpa de querer tomar água da torneira".
No final de 2004, Rahal teve um vidro do quarto trincado por conta do barulho durante um show. "Nem troquei, porque não sabia quanto tempo iria durar", afirma.
As reclamações dela sinalizam a sensação geral dos habitantes que se dizem perturbados não somente pelo ruído das apresentações que podem se estender até tarde da noite ou madrugada, mas pelos transtornos que começam dias antes da data do evento.
"A montagem do palco, três, quatro dias antes, já incomoda. É luz ligada, martelada a toda hora", diz Arnoldo Lulsdorf, 45, arquiteto que mora no bairro há cinco anos. "E no dia do show tem camelô, churrasquinho, bêbados, sujeira. É uma bagunça geral", diz, acrescentando que os organizadores costumam desmontar as estruturas de madrugada.
Lulsdorf, que acorda às 5h30 para trabalhar, afirma que num dos últimos shows, semanas atrás, só conseguiu dormir após as 2h.
Iênides Benfati, 60, que vive no Pacaembu há mais de 30 anos e atua na associação dos moradores, diz receber reclamações de vários bairros da vizinhança, como Sumaré, Perdizes, Higienópolis e até Pinheiros. "O estádio forma um amplificador do som."
Diferentemente dos dias de jogo de futebol, ela afirma que os jovens que vão aos shows costumam chegar na noite anterior.
Em um show, ela já saiu às ruas com os vizinhos para contar 48 vidros quebrados de carros, devido aos furtos de rádios e toca CDs.
Benfati chegou a ser procurada para tentar um acordo com organizadores do show do Pearl Jam, mas não quis conversa.
O advogado Rubens Muszcat, que vive em Higienópolis, a 500 metros do estádio do Pacaembu, reclama do fato de a realização dos eventos musicais irem contra as normas de utilização do local.
Moradores entraram com uma ação na Justiça há seis meses sob a alegação de que a área só poderia ser usada para eventos cívicos e esportivos. "O bairro inteiro sofre, desde a preparação do show. Não consigo descansar no final de semana e eles não pagam quase nada ao município", afirma.
"As ruas ficam imundas, eles defecam e urinam nas calçadas e postes. Muitos ficam drogados. E, dentro de casa, não consigo nem conversar por causa do barulho", completa Janete Rahal.


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