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OPERAÇÃO CAPELA
Entre os detidos estão duas sobrinhas de Law Kin Chong, apontado pela CPI da Pirataria como o maior contrabandista do país
PF prende 6 acusados de contrabando em SP
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal de Brasília,
com apoio de agentes e delegados
de seis Estados, realizou ontem no
centro de São Paulo o que afirma
ser um duro golpe contra os negócios do comerciante Law Kin
Chong, preso sob acusação de
tentar subornar o presidente da
CPI da Pirataria, Luiz Antonio de
Medeiros (PL-SP).
A Operação Capela prendeu
seis pessoas -incluindo duas sobrinhas de Chong-, cumpriu 18
mandados de busca e apreensão e
recolheu produtos irregulares,
computadores e documentos em
endereços comerciais que seriam
ligados ao comerciante.
Num cofre do escritório da mulher de Chong, Hwu Su Chiu Law,
a Míriam, a PF apreendeu esmeraldas cujo valor é estimado pelos
advogados de Law em R$ 1,5 milhão e, pela PF, em R$ 6 milhões.
A PF também afirma ter encontrado uma central de montagem
de relógios contrabandeados.
Chong, apontado pela CPI da
Câmara dos Deputados como o
maior contrabandista do país,
alega que não há provas contra
ele, e que apenas aluga para terceiros as 600 lojas que mantém
em shoppings populares na região da rua 25 de Março.
O alvo preferencial da polícia
ontem foram empresas que, segundo as investigações realizadas
há cinco meses pela PF de Brasília,
estão de uma forma ou de outra
vinculadas a Chong.
A PF não esclareceu que tipo de
ligações são essas -mas adiantou que, além de documentos
apreendidos quando da prisão de
Chong, em julho último, também
recorreu a interceptações telefônicas ao longo da investigação e
análises dos registros societários
das empresas.
"Essa investigação representa
um baque muito forte nas atividades criminosas do megacontrabandista Law Kin Chong", disse
ontem, em entrevista, o superintendente da PF em São Paulo, José
Ivan Guimarães Lobato.
De acordo com Lobato, as sobrinhas de Chong, cujos nomes
não foram revelados, "certamente
guiam as atividades enquanto ele
[Chong] está preso".
O principal palco da operação
de ontem foi um conjunto de depósitos de produtos comercializados nos shoppings populares,
uma construção antiga com 30
boxes espalhados em 30 mil metros quadrados na rua Bucolismo,
no Brás. O endereço é velho conhecido da polícia -há menos de
um mês foram apreendidos ali
500 mil óculos contrabandeados-, mas a PF pretende estabelecer um elo entre esse depósito e
os negócios de Chong.
Por volta das 8h, cerca de 120
policiais federais armados de pistolas, fuzis e metralhadoras cercaram o depósito e passaram a revistar as diversas salas que formam a Companhia de Participações Santa Luzia, administradora
do local.
O primeiro foco dos policiais foi
a empresa BDN Importação e Comércio Ltda., uma das empresas
que teria ligações com Chong.
Centenas de caixas de produtos
cosméticos foram localizadas no
andar superior do box.
Dois auditores da Receita Federal, que deram apoio à operação,
explicaram à PF, no decorrer da
blitz, que nos registros do governo a BDN não informou nenhuma importação desde 1999.
A PF concluiu que essa falta de
explicação para a origem de todo
o estoque indicava crime de descaminho ("importar ou exportar
mercadoria proibida ou eludir, no
todo ou em parte, o pagamento de
direito ou imposto devido pela
entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria"). A pena prevista no Código Penal é de um a
quatro anos de prisão.
Três funcionários da empresa
foram presos, mas os nomes não
foram divulgados. Um dos detidos, que se identificou como Ulisses Zilio, seria um dos sócios da
BDN. Dois deles não quiseram falar à Folha, logo depois de serem
algemados pelos agentes federais.
"Nada a declarar", disse um deles.
O cumprimento do mandado
de busca e apreensão no conjunto
de boxes da rua Bucolismo deverá
continuar nos próximos dias. Em
virtude do volume das cargas, a
PF decidiu suspender o trabalho
ontem à tarde e retomá-lo hoje. O
local passou a ser vigiado pela Polícia Militar.
A operação da PF foi batizada
de "Capela" em referência a pedras ornamentais que imitam capelas e são vendidas nos shoppings administrados por Chong.
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