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Recolhimento de propina continua normalmente
ROGERIO SCHLEGEL
da Reportagem Local
A Folha presenciou ontem a cobrança de propina por pessoa
identificada como fiscal da Administração Regional da Sé, o que indica que o esquema de corrupção
continua funcionando apesar das
denúncias divulgadas ontem.
Por volta das 12h, um homem
negro, de cabeça raspada e camisa
azul, aparentando 30 anos, percorreu as ruas próximas à praça da
Sé arrecadando a propina.
Camelô que se identificou apenas como João afirmou que ele é
fiscal da regional. "Quando tem
rapa, ele vem junto com os outros
e ajuda a colocar a mercadoria no
caminhão da prefeitura para levar
embora", disse João.
O camelô disse saber o nome do
fiscal, mas não quis revelá-lo.
O fiscal se aproximou da barraca
de João e, sem pedir, pegou e abriu
a pochete do ambulante que estava
sobre o tabuleiro. Após revirá-la,
reclamou da falta de dinheiro.
O camelô alegou que não tinha
vendido nada naquela manhã, por
isso não tinha como pagá-lo. O fiscal disse que voltaria mais tarde.
João afirmou à reportagem que
não tinha quantia fixa semanal
combinada com o fiscal, porque
seu ponto era ruim. Ele disse que
"negocia na hora" o valor dado
como propina, conforme as vendas estejam "quentes ou caídas".
Outros camelôs ouvidos na região disseram que denúncias anteriores não abalaram o esquema
montado pelos fiscais.
Segundo eles, o mais comum é
que mesmo fiscais nominalmente
citados em reportagens continuem trabalhando na área. Quando são substituídos, o novo fiscal
dá continuidade ao esquema.
Na rua Barão de Itapetininga,
apenas as barracas menores foram
montadas na manhã de ontem.
Por acordo com os fiscais, feito há
cerca de dez dias, as maiores -conhecidas como quiosques- só se
instalam a partir das 17h.
Santo Amaro
Na área do largo 13 de Maio, em
Santo Amaro (zona sul da capital),
camelôs informaram que as denúncias só fizeram os camelôs encarregados de recolher a propina
pedir maior discrição aos demais.
Na região, o dinheiro é passado
na sexta-feira a um camelô encarregado de repassá-lo aos fiscais, no
sábado pela manhã.
Ontem, continuava de pé inclusive a cobrança de propina dos
ambulantes instalados no camelódromo oficial, na praça Salim Farah Maluf. Embora a maioria esteja regularizada, todos pagam R$ 10
por semana aos fiscais da regional.
Segundo um camelô que não
quis se identificar, os legalizados
que não pagam têm suas mercadorias apreendidas pelos fiscais, sob
alegação de que não têm nota.
Além de aumentar a discrição no
momento do pagamento da propina, as denúncias também fizeram
cair o preço de venda dos boxes do
camelódromo oficial.
Até anteontem, um box bem localizado estava cotado em R$
1.500. Ontem, já era possível encontrá-lo por R$ 1.300, oferecido
por camelô não identificado que
"não quer mais amolação".
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