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HERANÇA DE PITTA
Na delegacia, presidentes de cooperativas do PAS afirmam que falta de verba provocará colapso do sistema
"Caos" na saúde vira caso de polícia
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia depois de o secretário
Carlos Alberto Velucci ter declarado que o sistema de saúde da cidade de São Paulo está "crítico" e
"caminha para o caos", a situação
também foi relatada por presidentes de cooperativas do extinto
PAS (Plano de Atendimento à
Saúde), dessa vez na polícia, em
um boletim de ocorrência.
No registro feito ontem no 27º
DP (Campo Belo, zona sul) pelos
presidentes dos módulos do atual
Sims (Sistema Integrado Municipal de Saúde), eles alegam haver
atrasos em recursos que têm de
ser pagos pela prefeitura.
"As partes pedem para consignar ao acima discorrido que, em
virtude de falta de recursos oriundos dos cofres das Prefeitura de
São Paulo, fatalmente haverá um
colapso no atendimento médico...", diz trecho do boletim.
Justiça
Hoje, as cooperativas podem ir
à Justiça contra a prefeitura. A situação envolve desabastecimento
de medicamentos nas unidades
de saúde, risco de greve e ameaça
de fornecedores de suspender entregas, segundo Velucci.
Ontem, o secretário da Saúde
minimizou suas declarações, em
nota divulgada pelo gabinete do
prefeito Celso Pitta (PTN) e durante entrevista pela manhã, ao
lado de seu chefe (leia reportagem
na pág. C 3).
Os repasses são feitos porque a
prefeitura, em troca do atendimento de parte da população, paga cerca de R$ 40 milhões por mês
às cooperativas, como prevê um
convênio firmado na gestão do
ex-prefeito Paulo Maluf (PPB).
Pitta negou ontem que haja repasses atrasados às cooperativas.
Velucci e os presidentes das cooperativas sustentam que, até ontem, os repasses atrasados já somavam cerca de R$ 100 milhões.
Segundo eles, os atrasos nos repasses ocorrem pelo menos desde
o ano passado, mas apenas agora,
no último mês da gestão Pitta, denunciam o problema.
Preservação
Segundo o médico Henrique
Carlos Gonçalves, do Conselho
Regional de Medicina, ao registrar boletim de preservação de direitos, as cooperativas se eximem
de eventuais problemas no setor.
O boletim evita, por exemplo,
que as cooperativas sejam responsabilizadas, se o atendimento
à população for afetado, relatou a
conselheira da OAB Rosana Chiavassa. "Criminalmente, eles têm
isenção se algo acontecer", disse a
advogada.
"A situação está insustentável",
disse ontem Márcio Joel Estevam,
presidente do Módulo Sul (37
unidades de saúde, 2 hospitais e
ambulatórios), um dos que assina
o boletim registrado no 27º Distrito Policial.
Estevam diz que pode haver hoje greve de funcionários terceirizados (limpeza, por exemplo) e
suspensão de fornecimento de
medicamentos, se recursos não
forem repassados pela prefeitura.
Pitta disse ontem ter liberado
R$ 20 milhões às cooperativas.
Com o repasse, as cooperativas
dizem haver ainda R$ 80 milhões
de dívidas da prefeitura, referentes aos repasses de novembro e
dezembro. Já o prefeito diz dever
apenas R$ 40 milhões, referentes
aos serviços deste mês.
Em suas declarações de ontem,
Velucci afirmou que a verba liberada no dia são suficientes para a
saúde "voltar à normalidade".
Anteontem, ele havia dito que a
verba garantiria só a reposição
dos estoques de remédios e materiais hospitalares para um mês.
Velucci também havia declarado anteontem que esse estoque
para 30 dias é classificado no setor
de saúde como "reserva" e "mínimo" para não haver desabastecimento nas unidades de saúde,
responsável pelo atendimento de
uma população cadastrada de 5
milhões de moradores.
Até o fechamento desta edição,
o secretário não havia comentado
sobre a iniciativa das cooperativas. O porta-voz do governo municipal, Antenor Braido (secretário da Comunicação) disse que
apenas Velucci poderia falar sobre o assunto.
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