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POLÍCIA
Desempregado disse que viajou a trabalho para a África do Sul, mas que voltou após rejeitar oferta para vender um de seus rins
Grupo prometia emprego para atrair doador
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
A quadrilha internacional acusada de traficar órgãos humanos
prometia emprego temporário e
bem remunerado no exterior para tentar convencer pessoas humildes de Pernambuco a viajar
para a África do Sul, país onde o
grupo manteria uma base para a
extração de rim dos cooptados.
A informação é do desempregado W., 31, que diz ter viajado em
novembro para Durban (cidade
da África do Sul), atraído pela
promessa de um bom salário.
W., que não quis divulgar seu
nome alegando risco de morte,
disse ter recebido de um homem
proposta salarial de US$ 10 mil
por três meses de trabalho no exterior, com todas as despesas de
viagem e estadia pagas.
Ele aceitou, mas, uma semana
depois de desembarcar em Durban, o brasileiro afirmou ter recebido proposta para que vendesse
um de seus rins. Ele se recusou e
foi mandado de volta para Pernambuco, com a recomendação
de que ficasse em silêncio.
W. ficou calado até ontem,
quando denunciou o caso à Polícia Federal. Já foram presas no
Brasil 11 pessoas -dois israelenses e nove brasileiros-, acusados
de integrar a quadrilha. Cerca de
30 pessoas teriam vendido um de
seus rins por valores de US$ 6.000
a US$ 10 mil.
O desempregado afirmou que
recebeu a proposta no dia 10 de
novembro, em Prazeres, bairro de
Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife.
"Ele não dizia qual era o trabalho, mas eu aceitei e fui", disse. Segundo ele, o passaporte foi retirado no mesmo dia pelo aliciador.
"Fui à Polícia Federal, esperei no
pátio, e ele voltou com o papel para eu assinar." A viagem, afirma,
aconteceu quatro dias depois. W.
diz ter feito escalas em Salvador e
São Paulo, antes de embarcar para a África do Sul. No país, ele teria feito ainda mais uma viagem
de avião até chegar a Durban.
Na cidade sul-africana, ele diz
que ficou alojado em um hotel
"simples". Uma semana depois,
W. foi levado a um hospital, onde
foi submetido a exames médicos.
Ali, afirma ter recebido um cartão, onde consta o nome de Melanie Azor, suposta profissional ligada ao setor de nefrologia da divisão de transplante do hospital
St. Augustine, local onde supostamente eram extraídos os rins (leia
texto nesta página).
Após os testes, W. diz ter recebido a proposta de venda do órgão.
"Fiquei com muito medo e não
quis", afirmou. Segundo ele, vários brasileiros estavam no local.
O pernambucano disse que retornou ao Brasil no dia 25 de novembro. Antes de embarcar, afirma ter recebido as ameaças de
morte. "Voltei duro como fui."
Agenda
A Agência Folha apurou que,
entre os objetos apreendidos pela
PF com os acusados de integrar a
quadrilha, está uma agenda com
nomes de pessoas que teriam participado do esquema. Vários dos
cooptados teriam morrido. A PF
de Pernambuco não confirma
nem nega a informação. O processo corre em segredo de Justiça.
Ontem, o sul-africano de origem inglesa Roderick Frank Kimberley, 58, prestou depoimento,
em Durban. Sob fiança, ele foi liberado. Ao lado do israelense
Agania Robel, 42, e do sul-africano de origem israelense Meir
Shushan, 49, presos na quarta-feira e também soltos, Kimberley
deve voltar a depor em fevereiro.
Robel havia sido detido após ser
submetido a um transplante de
rim no hospital St. Augustine.
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