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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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POLÍCIA

Desempregado disse que viajou a trabalho para a África do Sul, mas que voltou após rejeitar oferta para vender um de seus rins

Grupo prometia emprego para atrair doador

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

A quadrilha internacional acusada de traficar órgãos humanos prometia emprego temporário e bem remunerado no exterior para tentar convencer pessoas humildes de Pernambuco a viajar para a África do Sul, país onde o grupo manteria uma base para a extração de rim dos cooptados.
A informação é do desempregado W., 31, que diz ter viajado em novembro para Durban (cidade da África do Sul), atraído pela promessa de um bom salário.
W., que não quis divulgar seu nome alegando risco de morte, disse ter recebido de um homem proposta salarial de US$ 10 mil por três meses de trabalho no exterior, com todas as despesas de viagem e estadia pagas.
Ele aceitou, mas, uma semana depois de desembarcar em Durban, o brasileiro afirmou ter recebido proposta para que vendesse um de seus rins. Ele se recusou e foi mandado de volta para Pernambuco, com a recomendação de que ficasse em silêncio.
W. ficou calado até ontem, quando denunciou o caso à Polícia Federal. Já foram presas no Brasil 11 pessoas -dois israelenses e nove brasileiros-, acusados de integrar a quadrilha. Cerca de 30 pessoas teriam vendido um de seus rins por valores de US$ 6.000 a US$ 10 mil.
O desempregado afirmou que recebeu a proposta no dia 10 de novembro, em Prazeres, bairro de Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife.
"Ele não dizia qual era o trabalho, mas eu aceitei e fui", disse. Segundo ele, o passaporte foi retirado no mesmo dia pelo aliciador. "Fui à Polícia Federal, esperei no pátio, e ele voltou com o papel para eu assinar." A viagem, afirma, aconteceu quatro dias depois. W. diz ter feito escalas em Salvador e São Paulo, antes de embarcar para a África do Sul. No país, ele teria feito ainda mais uma viagem de avião até chegar a Durban.
Na cidade sul-africana, ele diz que ficou alojado em um hotel "simples". Uma semana depois, W. foi levado a um hospital, onde foi submetido a exames médicos.
Ali, afirma ter recebido um cartão, onde consta o nome de Melanie Azor, suposta profissional ligada ao setor de nefrologia da divisão de transplante do hospital St. Augustine, local onde supostamente eram extraídos os rins (leia texto nesta página).
Após os testes, W. diz ter recebido a proposta de venda do órgão. "Fiquei com muito medo e não quis", afirmou. Segundo ele, vários brasileiros estavam no local.
O pernambucano disse que retornou ao Brasil no dia 25 de novembro. Antes de embarcar, afirma ter recebido as ameaças de morte. "Voltei duro como fui."

Agenda
A Agência Folha apurou que, entre os objetos apreendidos pela PF com os acusados de integrar a quadrilha, está uma agenda com nomes de pessoas que teriam participado do esquema. Vários dos cooptados teriam morrido. A PF de Pernambuco não confirma nem nega a informação. O processo corre em segredo de Justiça.
Ontem, o sul-africano de origem inglesa Roderick Frank Kimberley, 58, prestou depoimento, em Durban. Sob fiança, ele foi liberado. Ao lado do israelense Agania Robel, 42, e do sul-africano de origem israelense Meir Shushan, 49, presos na quarta-feira e também soltos, Kimberley deve voltar a depor em fevereiro.
Robel havia sido detido após ser submetido a um transplante de rim no hospital St. Augustine.


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