São Paulo, domingo, 6 de dezembro de 1998

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SAÚDE

Risco animal


JAIRO BOUER
especial para a Folha

Max, um cão da raça bassê, dorme todas as noites na cama de sua dona, a estudante Sofia de Guglielmo Pedroso, 9. Ele também costuma dar lambidas diárias no rosto da menina, que não se lembra muito de lavar as mãos depois de ter brincado com o cão.
Essa delicada relação, entre animais de estimação e seus donos, faz com que regras básicas de higiene, que evitariam os riscos de transmissão de doenças, muitas vezes não sejam cumpridas.
Sofia diz que nunca pegou nenhuma doença dos seus bichos, apesar de sua relação "íntima" com os animais ter começado bem cedo. Quando bebê, um gato já dormia, ao lado da menina, dentro do berço. Mas a proximidade com os animais traz riscos.
Uma série de agentes causadores de doenças infecciosas e parasitárias, as zoonoses, pode ser levado para dentro de casa por eles.
Existem mais de 180 tipos de doenças que podem passar dos animais para o ser humano. E o "veículo" pode ser desde um pequeno periquito ou um filhote de cachorro até uma iguana.
Os cães e gatos ainda são os animais de estimação mais comuns no ambiente doméstico. E são eles que podem trazer as zoonoses mais graves: a raiva e a toxoplasmose (leia texto nesta página).
Segundo o veterinário Marcelo de Menezes Brandão, diretor do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, não existem casos de raiva humana na cidade desde 1981. No entanto, 22 casos foram registrados no Brasil em 1998. Segundo Brandão, vacinar o cão e o gato anualmente contra a raiva é uma medida essencial.
A infectologista Marília Santini de Oliveira diz que o gato também pode ser o responsável por uma doença conhecida como "síndrome da arranhadura do gato". A bactéria causadora do problema -a bartonela- só foi identificada há dois anos. Os sintomas são febre, lesão no local da arranhadura e aumento de gânglios. A pessoa pode precisar de antibióticos.

Animais exóticos
Brandão explica que os animais exóticos e os de comercialização proibida pelo Ibama também trazem uma série de riscos de doença para dentro de casa.
O transporte ilegal e inadequado dos bichos faz com que eles passem por um situação de estresse, que pode levar à queda de resistência imunológica e desenvolvimento de doenças. Como muitos desses animais não passam por uma quarentena, muitas vezes, eles já chegam doentes ou portando agentes infecciosos.
A psitacose -transmitida por fezes ressecadas de pássaros- é um bom exemplo. Ela é causada por uma bactéria e produz um quadro semelhante a uma pneumonia, com tosse, febre e dor no peito. Ela é mais comum em pessoas que têm contatos mais próximos com periquitos, cacatuas, papagaios e outras aves do gênero.
A manipulação de animais como cobras, rãs e iguanas traz o risco de doenças como a salmonelose, que causa um quadro de infecção digestiva, com náusea, vômito, febre, diarréia e cólicas. Marília diz que, às vezes, é difícil fazer o diagnóstico dessas doenças e lembrar que elas podem ter sido transmitidas por animais de estimação.



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