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SAÚDE
Victor, 10, passou por consultas com três pediatras diferentes em 11 dias e não teve doença diagnosticada; Cremesp investiga caso
Visto por 3 médicos, garoto morre de diabetes
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um menino de oito anos morreu por uma diabetes agravada
após passar por consultas com
três pediatras diferentes em um
período de 11 dias e não ter a
doença diagnosticada. O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) investiga o caso.
Victor Oliveira da Silva morreu
no último dia 23, antevéspera do
Natal, no Hospital da Dix Amico,
na Vila Mariana (zona sul de São
Paulo). A causa da morte foi cetoacidose diabética, uma complicação decorrente da diabetes descompensada que poderia ser evitada com o uso de insulina.
A família desconhecia que o
menino tinha diabetes e os médicos não pediram o exame de glicemia (que mede a quantidade de
açúcar no sangue). Segundo Iracy
Santos Oliveira, mãe de Victor, o
garoto apresentava muita sede,
urinava em excesso e emagreceu
seis quilos em dez dias -todos
sintomas típicos da diabetes.
Duas das consultas, nos dias 12 e
19 de dezembro, foram feitas no
pronto-socorro do Centro Médico de Osasco, da Dix Amico. A
terceira, no dia 21, no Centro Médico de Cotia, também da Amico.
Os pediatras que atenderam
Victor foram procurados nos centros médicos que trabalham, mas
não ligaram de volta. A Amico
Saúde diz que está apurando o caso (leia texto nesta página).
Iracy Oliveira conta que levou o
filho ao médico no dia 12 de dezembro porque ele estava com
tosse -que foi controlada com o
xarope indicado pelo pediatra.
Com o passar dos dias, o garoto
apresentou outros problemas.
"Ele estava tomando muita água,
fazendo muito xixi, comendo
pouco e perdendo peso."
No dia 19, Iracy levou novamente Victor ao mesmo centro de saúde. Dessa vez, a pediatra que o
atendeu disse que o menino estava com a garganta inflamada e receitou um antibiótico, de oito em
oito horas, durante dez dias. "O
curioso é que em nenhum momento meu filho se queixou de
dor de garganta", diz a mãe.
Como Victor não melhorava,
Iracy o levou no dia 21 ao centro
médico de Cotia. A mãe conta
que, nessa altura, o filho já tinha
perdido seis quilos e estava muito
debilitado. "Quando o médico
perguntou o que ele tinha, o Victor mesmo se adiantou e disse
"doutor, eu tenho muita sede. Estou fazendo muito xixi, estou vomitando e minha boca está seca.'"
Iracy diz que, após repetir o que
o filho já havia dito, acrescentou o
o fato de ele estar sem apetite e
emagrecendo muito. Também
apresentava vômitos.
"Ele o examinou e viu também
o peso e a altura do meu filho. Disse que realmente a garganta do
Victor estava inflamada e que a
perda de peso era em razão de
uma virose e que levaria de dois a
três dias para melhorar."
O médico receitou então o mesmo antibiótico que a pediatra anterior havia indicado, aumentando a dose. Acrescentou soro e remédio para cessar o vômito.
Morte
No dia seguinte, 22 de dezembro, o estado de saúde de Victor
piorou. O menino se queixava de
forte dor abdominal e mal parava
em pé. Iracy o levou ao pronto-socorro do Hospital da Amico na
Vila Mariana. "Só de olhá-lo a
médica disse que era diabetes descompensada, o que, de fato, foi
confirmado nos exames", conta.
Victor foi internado na UTI, entrou em coma e morreu na noite
do dia seguinte.
"Nada vai trazer meu filho de
volta, mas quero que as autoridades tomem providências para que
isso não venha a acontecer com
outras crianças. Não consigo aceitar o fato de os médicos não terem
suspeitado de diabetes, mesmo
com sinais tão claros", diz a mãe.
A família denunciou o caso ao
Cremesp na última segunda-feira
e ainda estuda se prestará queixa
contra os médicos à polícia.
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