São Paulo, quarta-feira, 07 de fevereiro de 2001

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URBANIDADE

Polícia do lixo

GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL

Está surgindo a polícia do lixo para multar quem suja as calçadas.
Com o poder de distribuir multas que variam de R$ 500 a R$ 5 mil, fiscais arregimentados nas administrações regionais preparam-se para flagrar os sujões.
Inicialmente, os alvos preferenciais da operação-surpresa serão bares, feiras e restaurantes, acusados pelos vizinhos e já denunciados às administrações regionais.
Um projeto piloto deve ser empreendido em dois bairros da cidade: Moema e Vila Madalena, onde as ruas, nas redondezas de bares e restaurantes, costumam amanhecer emporcalhadas, atraindo ratos e baratas.
"São Paulo é uma imensa lata de lixo", afirma o secretário de Implementação das Subprefeituras, Arlindo Chinaglia, coordenador das administrações regionais, responsáveis pela limpeza das ruas da cidade.
Despejar detritos em áreas públicas é quase um costume cultural, estimulado pela impunidade. A lei é solenemente ignorada -até porque é desconhecida. As campanhas educacionais, por mais que associem o lixo às enchentes, são um fracasso.
Ninguém sabe, por exemplo, que jogar um bituca de cigarro pela janela do automóvel poderia custar, em tese, um multa de R$ 500; um entulho indevidamente despejado faria o infrator despender até R$ 5 mil.
Se a lei fosse para valer, as madames correriam o risco de ver seus cachorrinhos mal-educados lhes custarem, por transgressão na calçada, R$ 300.
Acostumadas com a cultura da incivilidade, as administrações regionais não estimulam os fiscais a punirem quem suja as ruas; o flagrante exigiria um mínimo de investigação.
As operações-surpresa arquitetadas por Chinaglia, criando uma polícia do lixo, foram o jeito encontrado para informar que existe uma lei.
O secretário aposta que, atingindo o bolso de alguns infratores, pela força do exemplo, talvez se rompa a inércia da impunidade e os vizinhos se vejam estimulados a denunciar, além de feirantes e donos de bares e restaurantes, as empresas que transportam entulho.
O maior risco do plano é ganhar fugaz notoriedade e, por falta de estrutura, não conseguir ser aplicado por muito tempo -o que o condenaria ao lixo dos factóides.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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