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URBANIDADE
Polícia do lixo
GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL
Está surgindo a polícia
do lixo para multar quem
suja as calçadas.
Com o poder de distribuir multas que variam de R$ 500 a R$ 5
mil, fiscais arregimentados nas
administrações regionais preparam-se para flagrar os sujões.
Inicialmente, os alvos preferenciais da operação-surpresa serão
bares, feiras e restaurantes, acusados pelos vizinhos e já denunciados às administrações regionais.
Um projeto piloto deve ser empreendido em dois bairros da cidade: Moema e Vila Madalena,
onde as ruas, nas redondezas de
bares e restaurantes, costumam
amanhecer emporcalhadas,
atraindo ratos e baratas.
"São Paulo é uma imensa lata
de lixo", afirma o secretário de
Implementação das Subprefeituras, Arlindo Chinaglia, coordenador das administrações regionais,
responsáveis pela limpeza das
ruas da cidade.
Despejar detritos em áreas públicas é quase um costume cultural, estimulado pela impunidade.
A lei é solenemente ignorada
-até porque é desconhecida. As
campanhas educacionais, por
mais que associem o lixo às enchentes, são um fracasso.
Ninguém sabe, por exemplo,
que jogar um bituca de cigarro
pela janela do automóvel poderia
custar, em tese, um multa de R$
500; um entulho indevidamente
despejado faria o infrator despender até R$ 5 mil.
Se a lei fosse para valer, as madames correriam o risco de ver
seus cachorrinhos mal-educados
lhes custarem, por transgressão
na calçada, R$ 300.
Acostumadas com a cultura da
incivilidade, as administrações
regionais não estimulam os fiscais a punirem quem suja as ruas;
o flagrante exigiria um mínimo
de investigação.
As operações-surpresa arquitetadas por Chinaglia, criando uma
polícia do lixo, foram o jeito encontrado para informar que existe uma lei.
O secretário aposta que, atingindo o bolso de alguns infratores, pela força do exemplo, talvez
se rompa a inércia da impunidade e os vizinhos se vejam estimulados a denunciar, além de feirantes e donos de bares e restaurantes, as empresas que transportam entulho.
O maior risco do plano é ganhar
fugaz notoriedade e, por falta de
estrutura, não conseguir ser aplicado por muito tempo -o que o
condenaria ao lixo dos factóides.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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