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VIOLÊNCIA
Eles teriam chamado traficantes de favela próxima, em Jacarepaguá, no Rio, para punir duas mulheres por furto
Polícia indicia 3 funcionários do Carrefour
PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO
A polícia do Rio indiciou ontem
o gerente de segurança e dois fiscais de loja da filial do supermercado Carrefour em Jacarepaguá
(zona oeste do Rio), sob a acusação de formação de quadrilha, sequestro e cárcere privado.
Quatro traficantes da favela Cidade de Deus, identificados como
Julinho, Telo, Quinho e Lolonga,
também foram indiciados, sob a
acusação de formação de quadrilha e tortura.
Os funcionários do Carrefour
são acusados pelas desempregadas Andréa Cristina dos Santos,
30, e Geni Ribeiro Barbosa, 27, de
chamarem os traficantes da favela
vizinha para puni-las pelo furto
de nove frascos de protetor solar,
em 29 de janeiro.
Geni afirma que foi levada para
a favela e espancada pelos traficantes, que teriam espremido
seus dedos com um alicate. Andréa, que permaneceu no supermercado, diz que conseguiu escapar e chamou a polícia.
Segundo o delegado encarregado do caso, Orlando Zaccone, o
indiciamento está baseado no
exame de corpo de delito de Geni
-que comprovou lesões nas costas, em uma vértebra lateral direita e nos dedos, provocada por objeto contundente- e no depoimento do dono da tabacaria onde
Andréa usou o telefone para chamar a polícia.
Em depoimento à polícia, o dono da tabacaria -que pediu que
seu nome fosse mantido em sigilo- confirmou que Andréa apareceu em sua loja desesperada e
pediu para telefonar para a polícia, afirmando que sua amiga havia sido levada por traficantes.
O gerente de segurança Tadeu
Pinto e os fiscais de loja Flávio Augusto Grachet e José Luís Ferreira
estão presos desde 29 de janeiro e
negam as acusações, afirmando
que apenas liberaram as duas mulheres. O delegado pediu à Justiça
a decretação da prisão preventiva
dos traficantes.
Outro lado
O advogado dos funcionários
presos, Edson Ribeiro, disse que
até agora nada foi provado contra
os seus clientes. "Para caracterizar
a formação de quadrilha é preciso
permanência na atividade criminosa. Não houve cárcere privado
porque a cena aconteceu numa
sala cujo vidro permitia a visão de
todos. O problema é que estão
dando valor à declaração de ladras", declarou Ribeiro.
O gerente-geral do supermercado, Joaquim Antônio Almeida
dos Santos, 41, prestou depoimento na noite de segunda-feira.
Segundo o delegado Orlando Zaccone, o gerente teria afirmado que
estava na loja no dia do ocorrido,
mas que só teria sido informado
da prisão dos funcionários às 20h,
quatro horas após o incidente.
Santos teria dito que, embora
tenha autorizado o fornecimento
à polícia das fitas do circuito interno de televisão do supermercado, desconhecia o conteúdo. Na
fita, as imagens sofrem um corte
quando Andréa e Geni estão na
sala dos seguranças e são retomadas quase cinco horas depois.
Na última sexta-feira, a direção
do supermercado entregou uma
nova fita que, segundo o delegado, mostra as mesmas cenas de
ângulos diferentes.
O escritório do advogado Felipe
Amodeu, contratado pelo Carrefour, entregou ao delegado uma
petição informando as providências tomadas pela empresa.
Amanhã, o delegado se reúne
com a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia do Rio. Ele
pedirá a inclusão de Geni e Andréa no programa de proteção a
testemunhas do governo federal.
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