São Paulo, quarta-feira, 07 de fevereiro de 2001

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VIOLÊNCIA

Eles teriam chamado traficantes de favela próxima, em Jacarepaguá, no Rio, para punir duas mulheres por furto

Polícia indicia 3 funcionários do Carrefour

PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO

A polícia do Rio indiciou ontem o gerente de segurança e dois fiscais de loja da filial do supermercado Carrefour em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), sob a acusação de formação de quadrilha, sequestro e cárcere privado.
Quatro traficantes da favela Cidade de Deus, identificados como Julinho, Telo, Quinho e Lolonga, também foram indiciados, sob a acusação de formação de quadrilha e tortura.
Os funcionários do Carrefour são acusados pelas desempregadas Andréa Cristina dos Santos, 30, e Geni Ribeiro Barbosa, 27, de chamarem os traficantes da favela vizinha para puni-las pelo furto de nove frascos de protetor solar, em 29 de janeiro.
Geni afirma que foi levada para a favela e espancada pelos traficantes, que teriam espremido seus dedos com um alicate. Andréa, que permaneceu no supermercado, diz que conseguiu escapar e chamou a polícia.
Segundo o delegado encarregado do caso, Orlando Zaccone, o indiciamento está baseado no exame de corpo de delito de Geni -que comprovou lesões nas costas, em uma vértebra lateral direita e nos dedos, provocada por objeto contundente- e no depoimento do dono da tabacaria onde Andréa usou o telefone para chamar a polícia.
Em depoimento à polícia, o dono da tabacaria -que pediu que seu nome fosse mantido em sigilo- confirmou que Andréa apareceu em sua loja desesperada e pediu para telefonar para a polícia, afirmando que sua amiga havia sido levada por traficantes.
O gerente de segurança Tadeu Pinto e os fiscais de loja Flávio Augusto Grachet e José Luís Ferreira estão presos desde 29 de janeiro e negam as acusações, afirmando que apenas liberaram as duas mulheres. O delegado pediu à Justiça a decretação da prisão preventiva dos traficantes.

Outro lado
O advogado dos funcionários presos, Edson Ribeiro, disse que até agora nada foi provado contra os seus clientes. "Para caracterizar a formação de quadrilha é preciso permanência na atividade criminosa. Não houve cárcere privado porque a cena aconteceu numa sala cujo vidro permitia a visão de todos. O problema é que estão dando valor à declaração de ladras", declarou Ribeiro.
O gerente-geral do supermercado, Joaquim Antônio Almeida dos Santos, 41, prestou depoimento na noite de segunda-feira. Segundo o delegado Orlando Zaccone, o gerente teria afirmado que estava na loja no dia do ocorrido, mas que só teria sido informado da prisão dos funcionários às 20h, quatro horas após o incidente.
Santos teria dito que, embora tenha autorizado o fornecimento à polícia das fitas do circuito interno de televisão do supermercado, desconhecia o conteúdo. Na fita, as imagens sofrem um corte quando Andréa e Geni estão na sala dos seguranças e são retomadas quase cinco horas depois.
Na última sexta-feira, a direção do supermercado entregou uma nova fita que, segundo o delegado, mostra as mesmas cenas de ângulos diferentes.
O escritório do advogado Felipe Amodeu, contratado pelo Carrefour, entregou ao delegado uma petição informando as providências tomadas pela empresa.
Amanhã, o delegado se reúne com a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia do Rio. Ele pedirá a inclusão de Geni e Andréa no programa de proteção a testemunhas do governo federal.


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