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SEGURANÇA
Governo do Rio anuncia em jornais feitos na área policial e pretende gastar R$ 100 milhões com publicidade
Garotinho divulga "sucessos" contra o crime
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
Em ano eleitoral, o governo do
Rio prepara uma ofensiva publicitária. Ontem, foi publicado nos
principais jornais do Estado um
anúncio colorido de página inteira divulgando uma suposta queda
na criminalidade. Na semana passada, um comercial da Secretaria
de Segurança veiculado nas principais emissoras da região metropolitana do Rio tentava passar a
mesma mensagem. Por fim, o governo decidiu reabrir licitação de
R$ 100 milhões para gastos com
publicidade e propaganda.
A decisão de reativar a licitação
foi publicada no "Diário Oficial"
do dia 29 de dezembro. Ela havia
sido cancelada porque não havia
previsão orçamentária para tais
gastos. O valor do edital reaberto
é 4.900% maior do que o orçamento da Secretaria de Comunicação Social, que administra os
gastos com publicidade, previstos
para R$ 2 milhões em 2004.
O anúncio publicado ontem em
alguns jornais da capital e nas
principais cidades do interior
mostrava, sob o título de "Fora do
Jogo", fotos 3x4 de oito criminosos capturados neste ano. Sobre
as imagens, havia uma tarja indicando se estão presos ou mortos.
"É por isso que a violência continua caindo no Rio", tenta explicar a propaganda, que, em seguida, coloca oito índices de criminalidade que teriam sofrido reduções de até 71% (roubo a banco).
No pé da página, o governo parabeniza as mulheres policiais
que foram bem-sucedidas na resolução de crimes.
A Folha apurou que o custo da
publicação dos anúncios nos quatro principais jornais do Estado
-"O Globo", "Extra", "Jornal do
Brasil" e "O Dia"- foi de R$ 740
mil. Além deles, a "Tribuna da
Imprensa" e o "Jornal do Commercio" também publicaram a
propaganda, que foi criada pela
agência DPZ, uma das cinco que
atendem a conta do Estado.
O sociólogo Ignacio Cano disse
que não há como verificar a veracidade das estatísticas, porque o
Estado não tem uma política
transparente. "Se eles adotassem
uma estratégia de transparência,
não precisariam gastar dinheiro
público para mostrar dados."
Para o pesquisador Marcelo
Freixo, da ONG Justiça Global, o
anúncio "é coisa de faroeste americano, que reforça a idéia de um
Rio de Janeiro em guerra". Segundo ele, "todos os presos ou mortos
são de favelas, o que mostra que o
combate ao tráfico de drogas só
atinge o lado mais fraco".
Os índices do anúncio são referentes ao período de Anthony Garotinho na Secretaria de Segurança. Ele assumiu o cargo em 28 de
abril. A comparação é feita entre
maio e dezembro de 2002 e o mesmo período de 2003.
"Estar melhor do que em 2002
não quer dizer que a situação esteja boa, porque foi um ano eleitoral
e atípico", disse Cano, que elogiou
a propaganda por ter parabenizado policiais que solucionam casos
sem precisar atirar.
Em janeiro, além dos oito presos capturados ou mortos pela
polícia, 11 pessoas foram mortas
em tiroteios na Linha Amarela e
imediações. O traficante Leandro
Aparecido Sabino, o DJ, fugiu pela porta da frente da carceragem
da Polinter, na zona norte.
A polícia continua sem saber de
onde saiu o tiro que deixou tetraplégica a estudante Luciana Gonçalves de Novaes, atingida por
uma bala perdida no campus da
Universidade Estácio de Sá, e
quem matou o executivo da Shell
Zera Todd Staheli e sua mulher,
Michelle, em novembro.
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