São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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SEGURANÇA

Governo do Rio anuncia em jornais feitos na área policial e pretende gastar R$ 100 milhões com publicidade

Garotinho divulga "sucessos" contra o crime

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

Em ano eleitoral, o governo do Rio prepara uma ofensiva publicitária. Ontem, foi publicado nos principais jornais do Estado um anúncio colorido de página inteira divulgando uma suposta queda na criminalidade. Na semana passada, um comercial da Secretaria de Segurança veiculado nas principais emissoras da região metropolitana do Rio tentava passar a mesma mensagem. Por fim, o governo decidiu reabrir licitação de R$ 100 milhões para gastos com publicidade e propaganda.
A decisão de reativar a licitação foi publicada no "Diário Oficial" do dia 29 de dezembro. Ela havia sido cancelada porque não havia previsão orçamentária para tais gastos. O valor do edital reaberto é 4.900% maior do que o orçamento da Secretaria de Comunicação Social, que administra os gastos com publicidade, previstos para R$ 2 milhões em 2004.
O anúncio publicado ontem em alguns jornais da capital e nas principais cidades do interior mostrava, sob o título de "Fora do Jogo", fotos 3x4 de oito criminosos capturados neste ano. Sobre as imagens, havia uma tarja indicando se estão presos ou mortos.
"É por isso que a violência continua caindo no Rio", tenta explicar a propaganda, que, em seguida, coloca oito índices de criminalidade que teriam sofrido reduções de até 71% (roubo a banco).
No pé da página, o governo parabeniza as mulheres policiais que foram bem-sucedidas na resolução de crimes.
A Folha apurou que o custo da publicação dos anúncios nos quatro principais jornais do Estado -"O Globo", "Extra", "Jornal do Brasil" e "O Dia"- foi de R$ 740 mil. Além deles, a "Tribuna da Imprensa" e o "Jornal do Commercio" também publicaram a propaganda, que foi criada pela agência DPZ, uma das cinco que atendem a conta do Estado.
O sociólogo Ignacio Cano disse que não há como verificar a veracidade das estatísticas, porque o Estado não tem uma política transparente. "Se eles adotassem uma estratégia de transparência, não precisariam gastar dinheiro público para mostrar dados."
Para o pesquisador Marcelo Freixo, da ONG Justiça Global, o anúncio "é coisa de faroeste americano, que reforça a idéia de um Rio de Janeiro em guerra". Segundo ele, "todos os presos ou mortos são de favelas, o que mostra que o combate ao tráfico de drogas só atinge o lado mais fraco".
Os índices do anúncio são referentes ao período de Anthony Garotinho na Secretaria de Segurança. Ele assumiu o cargo em 28 de abril. A comparação é feita entre maio e dezembro de 2002 e o mesmo período de 2003.
"Estar melhor do que em 2002 não quer dizer que a situação esteja boa, porque foi um ano eleitoral e atípico", disse Cano, que elogiou a propaganda por ter parabenizado policiais que solucionam casos sem precisar atirar.
Em janeiro, além dos oito presos capturados ou mortos pela polícia, 11 pessoas foram mortas em tiroteios na Linha Amarela e imediações. O traficante Leandro Aparecido Sabino, o DJ, fugiu pela porta da frente da carceragem da Polinter, na zona norte.
A polícia continua sem saber de onde saiu o tiro que deixou tetraplégica a estudante Luciana Gonçalves de Novaes, atingida por uma bala perdida no campus da Universidade Estácio de Sá, e quem matou o executivo da Shell Zera Todd Staheli e sua mulher, Michelle, em novembro.


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