São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2005

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DE CAMAROTE

Fantasia de Carnaval traduz segredos

DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Já estamos no meio do Carnaval e você nem pensou na sua fantasia? Calma: ainda dá tempo.
A fantasia do Carnaval tem a ver com nossas fantasias mais secretas, aquelas que a gente não conta para ninguém. Qual a mais pacata mãe de família que nunca pensou em vestir um biquíni cheio de brilhos, sapato alto e um imenso arranjo de plumas na cabeça? Vedete por um dia -se as pernas permitirem, claro-, quem não quer? Na pior hipótese, uma boa meia arrastão resolve o problema.
Rumbeira também é uma: pernas de fora também e aquela saia de babados atrás (que arrebita qualquer bumbum meio caído), cada um deles terminando com uma fitinha dourada. Existem também as mais recatadas, que botam um simples colar de havaiana e pensam que Carnaval é só isso. Mas não é: os quatro dias existem para que se sonhe, se solte, faça coisas que nunca teve nem coragem de pensar. Mas o marido, e o marido? Pensando bem, ele também tem seus direitos: que tal estimulá-lo a ir encontrar uns amigos solteiros, tomar um chope, ver a animação da cidade, sem hora para voltar? Ele vai ficar encantado.
Mas pode ser que você, distraída, não tenha nada em casa para poder improvisar uma fantasia de última hora; afinal, mulheres sensatas não costumam ter saquinhos de paetês na caixa de costura. Nesse caso, temos duas soluções.
A primeira é fazer uma maquiagem daquelas, pintar os olhos como as mulheres do cais do porto, pegar a tesoura e cortar, sem dó nem piedade, a bainha daquela saia preta com que costuma ir às missas de sétimo dia, e ainda fazer uma fenda para mostrar bem a coxa -a esquerda, por favor. Se tiver mais coragem ainda, corte uma franja curtinha, e um batom bem vermelho se encontra em qualquer farmácia do bairro. E saia como quem não quer nada, só para dar pinta. Vai voltar com o ego lá em cima.
A segunda opção é comprar uma máscara, dessas que se encontra em qualquer camelô em época de Carnaval. Ponha uma camiseta bem decotada e prepare-se para uma experiência deliciosa: disfarce a voz e fale com pessoas conhecidas e desconhecidas, diga as maiores bobagens, faça as perguntas mais indiscretas, protegida pela máscara.
Você é você, mas não corre nenhum risco, porque ninguém sabe quem é você. O problema é gostar da brincadeira e repeti-la na Quarta-Feira de Cinzas, com a família reunida.
Já ouviu a expressão "rasgar a fantasia"? Para alguns, ela quer dizer cair na folia, mas ela pode ter outro significado, que também deve ser levado ao pé da letra. Quando terminar a farra -espero que você caia nela-, volte pra casa e rasgue, literalmente, sua fantasia, mesmo que ela não tenha passado de uma simples máscara.
Em certos casos, rasgar a fantasia significa lavar todos os pecados, esquecer, e voltar ao cotidiano como se nada tivesse acontecido.
Hoje ainda é segunda-feira, amanhã, terça; ainda dá tempo.
E bom Carnaval.


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