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DE CAMAROTE
Fantasia de Carnaval traduz segredos
DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Já estamos no meio do Carnaval
e você nem pensou na sua fantasia? Calma: ainda dá tempo.
A fantasia do Carnaval tem a
ver com nossas fantasias mais secretas, aquelas que a gente não
conta para ninguém. Qual a mais
pacata mãe de família que nunca
pensou em vestir um biquíni
cheio de brilhos, sapato alto e um
imenso arranjo de plumas na cabeça? Vedete por um dia -se as
pernas permitirem, claro-,
quem não quer? Na pior hipótese,
uma boa meia arrastão resolve o
problema.
Rumbeira também é uma: pernas de fora também e aquela saia
de babados atrás (que arrebita
qualquer bumbum meio caído),
cada um deles terminando com
uma fitinha dourada. Existem
também as mais recatadas, que
botam um simples colar de havaiana e pensam que Carnaval é
só isso. Mas não é: os quatro dias
existem para que se sonhe, se solte, faça coisas que nunca teve nem
coragem de pensar. Mas o marido, e o marido? Pensando bem,
ele também tem seus direitos: que
tal estimulá-lo a ir encontrar uns
amigos solteiros, tomar um chope, ver a animação da cidade,
sem hora para voltar? Ele vai ficar
encantado.
Mas pode ser que você, distraída, não tenha nada em casa
para poder improvisar uma fantasia de última hora; afinal, mulheres sensatas não costumam ter
saquinhos de paetês na caixa de
costura. Nesse caso, temos duas
soluções.
A primeira é fazer uma maquiagem daquelas, pintar os
olhos como as mulheres do cais do
porto, pegar a tesoura e cortar,
sem dó nem piedade, a bainha
daquela saia preta com que costuma ir às missas de sétimo dia, e
ainda fazer uma fenda para mostrar bem a coxa -a esquerda,
por favor. Se tiver mais coragem
ainda, corte uma franja curtinha,
e um batom bem vermelho se encontra em qualquer farmácia do
bairro. E saia como quem não
quer nada, só para dar pinta. Vai
voltar com o ego lá em cima.
A segunda opção é comprar
uma máscara, dessas que se encontra em qualquer camelô em
época de Carnaval. Ponha uma
camiseta bem decotada e prepare-se para uma experiência deliciosa: disfarce a voz e fale com
pessoas conhecidas e desconhecidas, diga as maiores bobagens, faça as perguntas mais indiscretas,
protegida pela máscara.
Você é você, mas não corre nenhum risco, porque ninguém sabe
quem é você. O problema é gostar
da brincadeira e repeti-la na
Quarta-Feira de Cinzas, com a família reunida.
Já ouviu a expressão "rasgar a
fantasia"? Para alguns, ela quer
dizer cair na folia, mas ela pode
ter outro significado, que também
deve ser levado ao pé da letra.
Quando terminar a farra -espero que você caia nela-, volte pra
casa e rasgue, literalmente, sua
fantasia, mesmo que ela não tenha passado de uma simples
máscara.
Em certos casos, rasgar a fantasia significa lavar todos os
pecados, esquecer, e voltar ao cotidiano como se nada tivesse
acontecido.
Hoje ainda é segunda-feira,
amanhã, terça; ainda dá tempo.
E bom Carnaval.
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