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PATRIMÔNIO
Em crise financeira, nova presidência quer recuperar símbolo da elite paulistana, mas falta verba
Projeto prevê área pública de lazer entre as pistas do Jockey
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Símbolo da elite paulistana, o
Jockey Club chega aos 130 anos no
próximo mês em uma situação
nada glamourosa: por falta de dinheiro, os prêmios dos ganhadores estão sendo parcelados. A dívida da entidade chega a R$ 70
milhões. O hospital veterinário
precisou ser terceirizado, para
corte de gastos.
Em meio à crise, um projeto para restaurar o hipódromo e reintegrá-lo à vida social da cidade está em estudo. Entre as principais
propostas está a transformação
de uma área cercada pelas pistas
de corrida, que possui cerca de 115
mil m2 e atualmente está inutilizada, num centro de lazer aberto à
população, com pista para caminhada e ciclismo, quiosques e teatro de arena. Também estão previstas a criação de uma estrutura
permanente de eventos e de um
cinema, com sala reversível para a
apresentação de peças teatrais e
adequada a festivais.
O projeto foi desenvolvido pela
chapa Novo Jockey, liderada por
Márcio Toledo, 45, presidente do
Interbanc. "O Jockey se isolou da
cidade, não se modernizou. Queremos que lá aconteçam atividades e eventos que atendam as necessidades de São Paulo", afirma
Toledo, que assume o cargo de
presidente no dia 8 de março. A
eleição teve chapa única.
Para os sócios, a meta é criar
uma área exclusiva, de 35 mil m2,
com um parque aquático, além de
bar, restaurante e salão de festas.
Hoje, segundo Toledo, a área dos
sócios é semi-exclusiva e o controle dos usuários não é rigoroso.
Em relação ao turfe -objetivo
original do Jockey-, a idéia é
passar a transmitir as corridas de
cavalos por telões.
Um dos principais desafios para
a implementação de tantas mudanças é a situação financeira do
clube. "Quando assumi, há três
anos, o clube tinha um prejuízo
mensal de R$ 650 mil", afirma o
atual presidente do Jockey, o advogado Vicente Paolillo, 67.
"Os nossos gastos do dia a dia
estão zerados", disse Paolillo. Por
mês, o clube gasta R$ 4 milhões.
Mas ainda há a dívida de R$ 70
milhões, dos quais R$ 50 milhões
são referentes à falta de pagamento do IPTU -a cobrança, porém,
ainda está sendo contestada na
Justiça- e R$ 20 milhões provêm
de dívidas da entidade com o Ministério da Agricultura e de condenações trabalhistas.
Além disso, para ser aprovado,
um projeto que altere o clube precisa tanto passar pelo conselho de
sócios como pela prefeitura e,
desde 2001, ser autorizado pelo
Conpresp (conselho municipal de
preservação do patrimônio histórico), já que o local está em processo de tombamento. "Para a
realização de eventos, não precisa
de autorização. Mas qualquer reforma feita precisa passar pelo
conselho", afirma Ronaldo Parente, assistente técnico do DPH
(Departamento de Patrimônio
Histórico municipal).
É nessa malha fina que ficaram
retidos todas as propostas de alterações do Jockey nos últimos dez
anos. Foram sugeridas desde a
criação de um campo de golfe no
centro da pista até a utilização do
local para test-drive de carros.
O próprio Paolillo apresentou
propostas. Sua idéia era formar
uma joint-venture com grupos
estrangeiros para que corridas
realizadas em outros países pudessem ser transmitidas ao vivo
no Jockey, que passaria a oferecer
um serviço internacional de apostas. Mas a idéia não foi aceita.
Apesar de todos esses empecilhos, Toledo quer mudar a cara do
Jockey até 2007, com a implementação da área exclusiva dos sócios
e do centro de lazer aberto à população. Ele afirma, porém, não
ter ainda a previsão de quanto irá
custar a reforma. A fonte dos recursos também ainda precisa de
definição. Segundo o presidente
eleito, foram realizadas conversas
com a esferas de governo municipal, estadual e federal "no sentido
de todos estarem cientes das necessidades do Jockey".
Ele também aposta no interesse
de entidades privadas no local assim que o movimento de usuários
aumentar. Com as mudanças, Toledo espera aumentar o número
de sócios, dos atuais 2.500 para
5.000, sem falar nos não-sócios
que pretende atrair para o clube.
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