São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2005

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PATRIMÔNIO

Em crise financeira, nova presidência quer recuperar símbolo da elite paulistana, mas falta verba

Projeto prevê área pública de lazer entre as pistas do Jockey

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Símbolo da elite paulistana, o Jockey Club chega aos 130 anos no próximo mês em uma situação nada glamourosa: por falta de dinheiro, os prêmios dos ganhadores estão sendo parcelados. A dívida da entidade chega a R$ 70 milhões. O hospital veterinário precisou ser terceirizado, para corte de gastos.
Em meio à crise, um projeto para restaurar o hipódromo e reintegrá-lo à vida social da cidade está em estudo. Entre as principais propostas está a transformação de uma área cercada pelas pistas de corrida, que possui cerca de 115 mil m2 e atualmente está inutilizada, num centro de lazer aberto à população, com pista para caminhada e ciclismo, quiosques e teatro de arena. Também estão previstas a criação de uma estrutura permanente de eventos e de um cinema, com sala reversível para a apresentação de peças teatrais e adequada a festivais.
O projeto foi desenvolvido pela chapa Novo Jockey, liderada por Márcio Toledo, 45, presidente do Interbanc. "O Jockey se isolou da cidade, não se modernizou. Queremos que lá aconteçam atividades e eventos que atendam as necessidades de São Paulo", afirma Toledo, que assume o cargo de presidente no dia 8 de março. A eleição teve chapa única.
Para os sócios, a meta é criar uma área exclusiva, de 35 mil m2, com um parque aquático, além de bar, restaurante e salão de festas. Hoje, segundo Toledo, a área dos sócios é semi-exclusiva e o controle dos usuários não é rigoroso. Em relação ao turfe -objetivo original do Jockey-, a idéia é passar a transmitir as corridas de cavalos por telões.
Um dos principais desafios para a implementação de tantas mudanças é a situação financeira do clube. "Quando assumi, há três anos, o clube tinha um prejuízo mensal de R$ 650 mil", afirma o atual presidente do Jockey, o advogado Vicente Paolillo, 67.
"Os nossos gastos do dia a dia estão zerados", disse Paolillo. Por mês, o clube gasta R$ 4 milhões.
Mas ainda há a dívida de R$ 70 milhões, dos quais R$ 50 milhões são referentes à falta de pagamento do IPTU -a cobrança, porém, ainda está sendo contestada na Justiça- e R$ 20 milhões provêm de dívidas da entidade com o Ministério da Agricultura e de condenações trabalhistas.
Além disso, para ser aprovado, um projeto que altere o clube precisa tanto passar pelo conselho de sócios como pela prefeitura e, desde 2001, ser autorizado pelo Conpresp (conselho municipal de preservação do patrimônio histórico), já que o local está em processo de tombamento. "Para a realização de eventos, não precisa de autorização. Mas qualquer reforma feita precisa passar pelo conselho", afirma Ronaldo Parente, assistente técnico do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico municipal).
É nessa malha fina que ficaram retidos todas as propostas de alterações do Jockey nos últimos dez anos. Foram sugeridas desde a criação de um campo de golfe no centro da pista até a utilização do local para test-drive de carros.
O próprio Paolillo apresentou propostas. Sua idéia era formar uma joint-venture com grupos estrangeiros para que corridas realizadas em outros países pudessem ser transmitidas ao vivo no Jockey, que passaria a oferecer um serviço internacional de apostas. Mas a idéia não foi aceita.
Apesar de todos esses empecilhos, Toledo quer mudar a cara do Jockey até 2007, com a implementação da área exclusiva dos sócios e do centro de lazer aberto à população. Ele afirma, porém, não ter ainda a previsão de quanto irá custar a reforma. A fonte dos recursos também ainda precisa de definição. Segundo o presidente eleito, foram realizadas conversas com a esferas de governo municipal, estadual e federal "no sentido de todos estarem cientes das necessidades do Jockey".
Ele também aposta no interesse de entidades privadas no local assim que o movimento de usuários aumentar. Com as mudanças, Toledo espera aumentar o número de sócios, dos atuais 2.500 para 5.000, sem falar nos não-sócios que pretende atrair para o clube.


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