São Paulo, quarta-feira, 07 de fevereiro de 2007

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Kassab pede desculpas e admite que se excedeu

Pedido foi feito 1 dia depois de o prefeito ter expulsado manifestante de unidade de saúde

Pefelista diz que caso por encerrado; ele reforçou o número de guardas-civis durante visita a escola em Parelheiros

Daniel Mobília/"Diário de S.Paulo"
Faixa de protesto em viaduto de Indianópolis (zona sul de SP) contra atitude de Kassab


EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), pediu ontem desculpas e admitiu que "cometeu excessos" ao expulsar com empurrão e chamar de "vagabundo" um morador que protestava, anteontem, em uma unidade de saúde.
O empresário Kaiser Paiva Celestino da Silva, 47, protestava dentro da unidade de saúde que estava sendo inaugurada, em Pirituba (zona norte) contra a lei de Kassab que proíbe a propaganda nas ruas da cidade.
Kassab afirma que, como Silva gritava durante o protesto, decidiu expulsá-lo do local. "Sai daqui, vagabundo", gritou. O prefeito falou "vagabundo" ao menos quatro vezes na ocasião.
Ontem, durante visita a uma escola em Parelheiros, Kassab admite que se excedeu. Ele estava acompanhado por pelo menos 15 guardas metropolitanos -normalmente apenas 3 ou 4 guardas o acompanham em eventos externos.
Ele voltou a afirmar que ficou indignado porque o protesto ocorreu dentro de uma unidade de saúde, mas disse que refletiu e decidiu pedir desculpas.
"A manifestação naquele momento, junto a pacientes doentes, causou ao prefeito uma indignação muito grande. Mas eu aqui, de público, entendo que a indignação me levou a cometer excessos e peço até desculpas pelo excesso, não pela indignação", disse.
Kassab se desculpou por meio da imprensa, sem procurar Silva. Disse apenas que pediu à assessoria jurídica da prefeitura que não agisse contra o morador. Com isso, diz, o assunto está encerrado.
Ele disse que, antes de expulsá-lo da unidade, pediu à sua assessoria que procurasse o manifestante, mas Silva teria recusado a conversa.
"Ele não cedeu à abordagem da minha assessoria e ao final da visita a minha indignação ficou pública", afirmou. Silva disse que não foi procurado por ninguém ligado a Kassab.
O caso repercutiu. Um empresário do setor gráfico fez faixas em protesto. Inicialmente, elas foram exibidas na avenida Indianópolis (zona sul). Mais tarde, foram afixadas em pontes da avenida 23 de Maio, mas retiradas pouco depois.

Sem sanção
No aspecto jurídico, Kassab não deve sofrer nenhuma sanção penal por causa da confusão de anteontem, segundo o advogado criminalista Maurício Zanoide de Moraes, professor de processo penal da USP.
Para ele, Kassab teve uma reação imprópria que, no entanto, não pode ser caracterizada como crime. "O direito penal entende que se você é ofendido e, no momento daquela ofensa você reage, não há crime."
O fato de Kassab estar teoricamente livre de uma condenação por injúria não o livra, no entanto, de uma ação de indenização por danos morais.
O prefeito também pode ter de responder na Justiça. O Diretório Municipal do PT vai entrar hoje com representação na Procuradoria do Estado contra Kassab por abuso de autoridade. Os procuradores decidirão se haverá processo ou não.

Desgaste
Fora da Justiça, especialistas avaliam que a atitude de Kassab arranhou a sua imagem, embora haja meios para revertê-la. Para o cientista político Fernando Azevedo, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a atitude de Kassab reflete uma imagem de "pessoa descontrolada". Uma mudança dessa percepção dependerá de como ele agirá a partir de agora.
Carlos Melo, do Ibmec São Paulo, tem opinião semelhante. Para ele, Kassab era desconhecido e que surge para a maioria das pessoas como uma pessoa destemperada. O ato pode ser usado, porém, para mostrar que Kassab tem autoridade.


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