|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Conceição de Jesus e o negro na escola
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Tudo aconteceu de forma
lenta, difícil, nos 56 anos da
vida de Conceição Aparecida
de Jesus. Foram anos de estudos interrompidos e de luta contra o racismo até a valorização de seu trabalho.
Foi na zona leste de São
Paulo que a menina negra de
cabelos "black", sempre "brilhante nas rodas de amigos",
nasceu e passou uma infância pobre em escolas públicas. Aos 18 fazia pedagogia e
dava aulas para ajudar a família. Mas a deixou o sonho
de lado -a USP era longe e o
trabalho dobrado.
Deu aulas por 25 anos consecutivos, até se aposentar,
quando voltou à universidade para concluir a graduação,
interrompida havia mais de
dez anos. Não parou mais.
Fez mestrado e doutorado
sobre a discriminação racial.
Era a favor das cotas para
negros e "denunciara sempre o racismo cordial", na
equipe que elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, abrindo espaço
para o ensino de história da
África, hoje em vigor.
Quem a conhecia sabia que
era uma mulher miúda e tímida, que compensava o silêncio com as cores da roupa.
Mas quando começava a explanar algo, "crescia, os olhos
brilhavam e ela se impunha".
Há anos virara consultora na
área de educação e formação
de professores e dizia que finalmente se sentia reconhecida por seu trabalho.
Na quinta subiu mais uma
vez ao parlatório, miúda e tímida, para mostrar os resultados de seu projeto com jovens carentes, quando levou a mão à cabeça. Morreu sábado, de aneurisma cerebral.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Executivos mais jovens são mais estressados, diz estudo Índice
|