São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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Caos no trânsito faz paulistano ficar bem mais em casa

Em seus carros, nas ruas travadas da capital, motoristas se informam, ouvem música, estudam e também trabalham

Para pesquisador, o que mais chama a atenção é o inconformismo; muitas pessoas já incorporaram a rotina caótica do trânsito

DA SUCURSAL DO RIO

Três em cada cinco paulistanos têm ficado mais tempo em casa para evitar congestionamentos. Proporção igual já incorporou o trânsito lento como rotina de seu dia. Metade dos motoristas nada faz para reduzir o tráfego; só um em cada cinco dá carona e um em dez usa transporte coletivo.
As estatísticas são de um levantamento do Núcleo de Estudo em Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral. O estudo ouviu 300 motoristas no ano passado.
Enquanto o trânsito não anda, 30% dos paulistanos ouvem notícia, 27% ouvem música, 16% estudam e 11% trabalham. Um em cada dez apenas observa o trânsito, indica a pesquisa.
"Um dos entrevistados disse que fez o ensino médio no carro: ouvia as aulas do telecurso no rádio e depois fazia as provas", diz Paulo Resende, um dos autores da pesquisa.
Mais do que curiosidades, o levantamento revelou, para o pesquisador, um inquietante conformismo com o trânsito.
"Ouvi pessoas que se diziam satisfeitas ao constatarem que tinham no carro um tempo livre para fazerem outras coisas, enquanto estavam retidas. Elas não percebem que esse tempo, por mais bem aproveitado".
Sem falar no isolamento social. As pessoas também evitam sair, ficando mais tempo em casa, deixando, voluntariamente, de ter convívio com outras pessoas. "O trânsito não é só perda financeira e estresse. Ele também deteriora o tecido social."
Outro ponto preocupante do conformismo, segundo o pesquisador, é o fato de a população se indignar cada vez menos com o caos no trânsito, tomando-o como parte da rotina e, com isso, arrefecer nas cobranças ao setor público por políticas que melhorem o trânsito.
A pesquisa foi repetida no Rio, em Belo Horizonte e Porto Alegre. Das quatro cidades, São Paulo registra o maior grau de conformismo: 61%. O Rio não fica muito atrás: 58%.
Em Belo Horizonte estão os menos conformados: 47%, ante 42% em Porto Alegre e 35% na capital de São Paulo.
(SAMANTHA LIMA)


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