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SEGURANÇA
Na guerra contra o crime, como definiu Alckmin, só em janeiro 84 foram mortos por policiais, recorde desde 2000
Polícia de São Paulo mata mais civis
Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
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Policiais militares da Rota diante de ônibus apreendido na rodovia Castelinho, onde foi montado bloqueio para interceptar quadrilha |
SÍLVIA CORRÊA
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
A polícia paulista está matando
mais. Em janeiro, 84 pessoas morreram em consequência de tiros
disparados por civis e militares. O
índice mensal é o maior dos últimos dois anos -o mais alto desde março de 2000 (veja quadro).
É como se a cada quatro dias
ocorresse uma ação como a executada contra o comboio do PCC
(Primeiro Comando da Capital)
anteontem, que deixou 12 mortos.
O aumento ocorre exatamente
depois de ter vindo à tona a explosão dos casos de sequestro no Estado. Acontece no mês marcado
pela caçada aos responsáveis por
ações criminosas de repercussão,
o cativeiro do publicitário Washington Olivetto e o assassinato
do prefeito Celso Daniel.
"O afã de recuperar o prestígio
pode ser mais um incentivo para
que maus policiais cheguem à
barbárie", afirma o coordenador
da comissão de direitos humanos
da OAB-SP, João José Sady.
Cobrado, o governador Geraldo
Alckmin (PSDB) repetiu à exaustão uma frase: "Em São Paulo,
bandido tem dois destinos: prisão
ou caixão". A julgar pelos números, a polícia já entendeu.
Se aumentaram as mortes, aumentaram também as prisões.
Em janeiro, foram 8.536 flagrantes e 454 foragidos recapturados.
No mesmo mês de anos anteriores, os números foram 7.114 e 344
(em 2001) e 6.110 e 218 (em 2000).
Para a polícia, as mortes devem
ser entendidas nesse contexto.
São resultado de uma melhora.
"A maior parte são casos de legítima defesa, revide", afirma o tenente coronel Renato Machado
Perrenoud, porta-voz da PM.
Nos confrontos, porém, nove
policiais morreram em janeiro.
"Não é preciso que o mesmo número de policiais morra para que
as ações sejam legítimas. A polícia
está mais preparada, mais equipada, investiu em inteligência. Não
ficamos mais a reboque. Isso leva
a confrontos e mortes. E mais delas virão", diz o porta-voz.
Mas nem todos vêem nos números esse significado. "Os argumentos que a polícia habitualmente apresenta são de que ela está mais ativa, presente e corajosa.
Mas esses números são muito
preocupantes e não podem ser
tratados como naturais, já que a
criminalidade está em queda", diz
o coronel José Vicente da Silva, do
Instituto Fernand Braudel.
O coronel se refere às estatísticas oficiais de criminalidade. Elas
permitem concluir que a maior
letalidade da ação policial não reflete um aumento da violência, já
que os principais indicadores de
violência -furto, roubo e homicídios- estão em queda. "A polícia deve ser profissional para que
só ocorram mortes inevitáveis."
Para o secretário da Segurança
Pública, Saulo de Castro Abreu
Filho, foi o que ocorreu. "Evitar
que mortes aconteçam no confronto é impossível."
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