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DANUZA LEÃO
Com vontade
Uma das grandes razões do
descontentamento -ou ausência de prazer -na vida das
pessoas é o tédio.
Alguns já nascem com ele instalado na alma; passam a infância,
a adolescência e a juventude sem
achar graça em nada, e estão fadados a ter uma maturidade das
piores. Claro: se já são assim aos
20, imagine aos 60. Mas existem
outros -e isso nada tem a ver
com inteligência, cultura ou riqueza- que não sofrem desse
mal e parecem estar de bem com
a vida em todos os momentos: são
os que se interessam por muitas
coisas e assim se tornam, automaticamente, pessoas mais
interessantes.
Se, numa noite de insônia, der
vontade de trocar os móveis da
sala de lugar, tipo botar a cama
na sala e a geladeira no quarto
-e por que não?-, é claro que
isso passa a ser a coisa mais importante da vida. Ninguém vai
esperar o dia raiar para empurrar
os móveis, claro, e é essa urgência
interna que faz com que se viva
sempre ligada, o que faz muito
bem à saúde física e mental.
Inventar, se inventar, se reinventar. Não especialmente para
ter sucesso ou ganhar dinheiro
-o que, aliás, não faz mal a ninguém-, mas para ter algum interesse, seja ele qual for, que tome
conta de todos os seus pensamentos e toda a sua energia. Está-se
falando de intensidade e paixão:
tudo que você faz, desde cortar
uma franja, fundar uma ONG,
fazer um bolo ou passar a mão na
cabeça de um cachorro, deve ser
feito sempre com muita garra.
Entre de cabeça em tudo; filie-se a
um partido político, engaje-se numa campanha para salvar os filhotes de jacaré, entre numa aula
de bordado. Qualquer coisa serve,
contanto que você mergulhe nela
profundamente, mesmo que seja
só por alguns dias.
Apaixone-se por tudo, até pelos
300 abdominais diários que é
obrigada a fazer, como se disso
dependesse sua vida. É claro que
ninguém adora fazer abdominais, mas reflita: se eles forem feitos de maneira displicente, não
vão fazer efeito algum. Mas se você pensar no quanto vai ficar linda com uma barriga de tanque, o
quanto vai sair da ginástica feliz
pelo dever cumprido, e, sobretudo, o quanto vai estar felicíssima
porque a próxima aula é só depois de amanhã, não são essas excelentes razões para achar a vida
ótima? Além de passar uma hora
muito agradável, vai poupar os
outros do espetáculo deprimente
que é o de ver alguém fazendo ginástica sem garra.
É isso: paixão. Pessoas apaixonadas são sempre muito apaixonantes, até quando falam das sementes de tomates que plantaram num vaso. Eu tenho uma
amiga que uma vez tirou férias só
para fazer uma dieta nova, e dedicou todos os segundos de duas
semanas inteiras a isso. No lugar
de ficar infeliz, reclamando de tudo, viveu 15 dias com uma listinha na mão olhando o relógio para saber quantos minutos faltavam para tomar a gelatina diet,
aquela maravilha. E foi tão delicioso que até hoje ela morre de
saudades quando lembra.
E outra coisa: muito cuidado
com os indiferentes, desanimados
e deprimidos, que não conseguem
ter paixão por nada. Eles são perigosos e, com a convivência, quando menos esperar, você pode estar
igual a eles. Porque essa doença é
como tantas outras: ela pega.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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