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É dívida histórica, diz professora
DA REPORTAGEM LOCAL
Na primeira vez que abortou,
em 1966, ela era líder estudantil
em Belo Horizonte (MG). Na segunda, em 1970, militava pelo extinto POC (Partido Operário Comunista). Vivia em São Paulo e
estava sendo perseguida pela
Operação Bandeirantes (Oban),
que viria a prendê-la e torturá-la
nos próximos três anos.
Nos dois abortos, Eleonora Menicucci de Oliveira, professora livre-docente de saúde coletiva da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), procurou uma clínica
para ter mais segurança. Ainda
assim, na última vez, sofreu uma
hemorragia e quase morreu.
Hoje, aos 60 anos, mãe de dois
filhos e avó de uma menina de 2
anos, ela milita pela causa feminista e luta pela descriminalização
do aborto no país. Além das experiências pessoais, Eleonora coleciona casos de horrores relacionados ao aborto inseguro, que presenciou em visitas a hospitais públicos como relatora no Brasil para o direito à saúde do Alto Voluntariado da ONU (Organização
das Nações Unidas).
Nessas visitas, deparou-se com
mulheres que aplicaram permanganato de potássio. O produto
químico queima e provoca úlceras na mucosa vaginal, podendo
atingir uma veia ou artéria e levar
a mulher à morte. "É uma situação dramática, inadmissível."
Para Eleonora, a despenalização
do aborto seria o pagamento a
uma dívida histórica com a população feminina. "A mulher tem o
direito de escolher ter um filho ou
não. E poder fazer essa escolha
sem riscos."
(CC)
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