São Paulo, segunda-feira, 07 de março de 2005

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É dívida histórica, diz professora

DA REPORTAGEM LOCAL

Na primeira vez que abortou, em 1966, ela era líder estudantil em Belo Horizonte (MG). Na segunda, em 1970, militava pelo extinto POC (Partido Operário Comunista). Vivia em São Paulo e estava sendo perseguida pela Operação Bandeirantes (Oban), que viria a prendê-la e torturá-la nos próximos três anos.
Nos dois abortos, Eleonora Menicucci de Oliveira, professora livre-docente de saúde coletiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), procurou uma clínica para ter mais segurança. Ainda assim, na última vez, sofreu uma hemorragia e quase morreu.
Hoje, aos 60 anos, mãe de dois filhos e avó de uma menina de 2 anos, ela milita pela causa feminista e luta pela descriminalização do aborto no país. Além das experiências pessoais, Eleonora coleciona casos de horrores relacionados ao aborto inseguro, que presenciou em visitas a hospitais públicos como relatora no Brasil para o direito à saúde do Alto Voluntariado da ONU (Organização das Nações Unidas).
Nessas visitas, deparou-se com mulheres que aplicaram permanganato de potássio. O produto químico queima e provoca úlceras na mucosa vaginal, podendo atingir uma veia ou artéria e levar a mulher à morte. "É uma situação dramática, inadmissível."
Para Eleonora, a despenalização do aborto seria o pagamento a uma dívida histórica com a população feminina. "A mulher tem o direito de escolher ter um filho ou não. E poder fazer essa escolha sem riscos." (CC)


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