|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Novo parque às margens do Tietê descarta projeto de Burle Marx
Em 1974, governo paulista contratou o paisagista para projetar o parque linear
MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Você jogaria fora um projeto
de Picasso? E uma partitura de
Tom Jobim? Guardadas as proporções, é o que o governo paulista fez no parque Várzeas do
Tietê, concebido com o objetivo de reduzir o impacto das enchentes. Um projeto de paisagismo de 1974 de Roberto Burle
Marx foi descartado na retomada do projeto no ano passado.
Burle Marx (1909-1994) é
considerado o mais importante
paisagista do século 20 e apontado como o inventor do jardim
moderno. Entre outras obras,
criou os jardins do aterro do
Flamengo, no Rio de Janeiro, e
do Itamaraty, em Brasília.
O Várzeas do Tietê é apresentado pelo governo como o
maior parque linear do mundo,
com 75 km de extensão. Na sua
área, de 107 km2, caberiam 71
parques como o Ibirapuera.
O descarte do projeto foi feito pelo arquiteto Ruy Ohtake,
que trabalhou no projeto de
1974 e coordena a implantação
do novo parque: "O projeto original era uma beleza. Mas não
dá para aproveitar porque houve muitas invasões", disse.
O novo projeto paisagístico
está sendo feito pelo arquiteto
Olair de Camilo. A obra mais
conhecida de Camilo são os jardins do Instituto Tomie Ohtake, a mãe de Ruy Ohtake.
A secretaria de Energia e Saneamento da gestão José Serra
(PSDB), Dilma Pena, apoia a
decisão de Ohtake: "São Paulo
mudou muito desde 1974". A
pasta contratou o escritório de
Ohtake por R$ 5,2 milhões.
O arquiteto Haruyoshi Ono,
que trabalhou com Burle Marx
desde 1965 e dirige no Rio a
empresa que foi do paisagista,
diz: "Não é que a gente queira
ser chamado para fazer o parque, mas acho ruim o governo
pagar por um novo projeto
quando já existe um pronto."
Para Ono, coautor do projeto
original, seria possível adequar
as ideias de 1974 para os dias
atuais sem dificuldades, já que
Burle Marx tinha uma gramática muito clara, com uso de mata nativa e outras plantas formando manchas geométricas
como num quadro.
O arquiteto e crítico de arte
Lauro Cavalcanti, curador da
exposição sobre o centenário
de Burle Marx no ano passado,
afirma que nenhuma cidade no
mundo pode descartar um projeto do paisagista.
Se tivesse sido executado integralmente em 1974, São Paulo teria uma das maiores obras
de Burle Marx. A área prevista
era de 57 km2. O projeto, guardado em seu escritório em Laranjeiras (zona sul do Rio), tem
22 pastas com cem folhas em
formato A0 (0,84 m x 1,19 m).
Burle Marx incluiu no projeto o paisagismo das marginais
do Tietê e Pinheiros. A proposta incluía museus e centros
científicos. O conceito de centro ecológico era assinado pelo
geógrafo Aziz Ab Saber, um dos
mais prestigiados do país.
Disso tudo, só dois núcleos
foram construídos: o que abriga o parque ecológico do Tietê,
na divisa de São Paulo com
Guarulhos, e outro em Barueri.
Não é o primeiro projeto de
Burle Marx que SP não usa. O
Ibirapuera, inaugurado em
1954, deveria seguir um desenho do paisagista, mas só uma
pequena parte foi executada.
São as áreas próximas à Bienal
e ao Museu de Arte Moderna. O
resto foi feito por Otávio Augusto Teixeira Mendes, engenheiro agrônomo e paisagista.
Em 1973, Burle Marx projetou
um parque de 160 mil m2 na represa de Guarapiranga, que
não saiu do papel.
Texto Anterior: Memória: Maníaco do parque recebeu pena de 121 anos Próximo Texto: Frase Índice
|