São Paulo, segunda, 7 de abril de 1997.

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POLÍCIA SEM CONTROLE
Mariz de Oliveira, Fleury e Odyr Porto dizem que sofreram pressões e que corporação é ``difícil''
PM é `incomandável', dizem ex-secretários

MARCOS PIVETTA
da Reportagem Local


Ex-secretários da Segurança Pública de São Paulo afirmam que sempre tiveram dificuldades em comandar a PM e que a corporação é incontrolável.
Entre os entrevistados pela Folha estão Odyr Porto, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira e o próprio ex-governador Fleury, secretário da Segurança no governo Quércia.
Todos civis, eles contaram as limitações que enfrentaram quando tiveram a PM sob seu comando.
O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, que ocupou o cargo de março de 90 a março de 91, diz que ``era impossível controlar de verdade as ações da PM''.
``A PM é uma instituição `incomandável' e impermeável'', disse. ``O governador e o secretário não comandam a instituição. Não é um problema do Covas ou do José Afonso. Foi assim comigo. Foi assim antes ou depois de mim e será assim se as coisas não mudarem.''
Para ele, a PM tem um ``espírito de casta'', organizado e voltado para si mesma. ``É um `Estado' dentro do Estado'', declarou.
O ex-desembargador Odyr Porto (secretário de janeiro a outubro de 94, ``pedia exoneração todo mês''.
Ele considera o posto na Segurança Pública é o mais ``angustiante'' do país.
``Talvez só seja comparável ao cargo de secretário da Segurança no Rio de Janeiro'', disse Porto, 70.
Durante sua permanência no cargo, ele trocou tanto o comandante-geral da PM quanto o delegado-geral da Polícia Civil.
``O secretário só tem o comando de fato quando tem o poder de escolher e demitir os chefes da PM e da Polícia Civil.''
Ele afirmou que o secretário da Segurança não pode deixar os chefes das polícias se reportarem diretamente ao governador.
``Quando isso acontece, o secretário vira uma rainha da Inglaterra'', afirmou.
O ex-governador e ex-secretário Luiz Antonio Fleury Filho (governo Quércia, de 87 a 90) também diz ter enfrentado pressões no cargo quando tomou decisões que afetavam diretamente as polícias.
``A maior pressão que eu sofri foi quando aboli o uso do carro oficial para usos particulares, o que era então um costume disseminado'', declarou Fleury à Folha.
Ele disse, no entanto, que teve mais dificuldades -``sofri mais ameaças''- quando foi promotor do que quando era secretário.
``Esse assunto é página virada na minha vida'', disse Pedro Franco de Campos, recusando-se a falar sobre seu período e encerrando a entrevista. Ele ocupava a secretaria e determinou a invasão do Carandiru em 92, quando 111 presos foram assassinados por PMs.
Murro na mesa
Porto não concorda com a afirmação de oponentes de que José Afonso da Silva é fraco com a PM.
``Também me pediram para dar murro na mesa, mas não é assim que se lida com a PM'', disse.
O ex-desembargador, no entanto, admite que é necessário ser ``enérgico'' com os policiais.
Para Mariz, que também evita criticar Afonso da Silva, o secretário da Segurança tem de ser um ``irradiador, que precisa ir atrás, cobrar resultados e ter um plano bem definido''.
Ambos defenderam a unificação das polícias Civil e Militar como forma de ``mudar a mentalidade'' e ``a a ação da corporação''.
Eles disseram que a PM tem de abandonar a mentalidade de que seus membros estão numa guerra urbana.


Colaborou Ricardo Feltrin,
da Reportagem Local

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