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SUCATEAMENTO
De 410 carros da frota, 245 não conseguem rodar; prefeitura atribui "caos" a administrações anteriores
Maioria dos veículos da Guarda Civil não funciona
DO "AGORA"
A faceta mais visível do sucateamento da Guarda Civil Metropolitana talvez esteja na sua própria
frota. Dos 410 veículos da corporação paulistana, 245 não têm
condições de rodar. Ou seja: 60%
-mais da metade- deles não
atendem mais à população.
Pior: dos 165 carros que ainda
circulam pela cidade, 70 têm de
dez a 12 anos de uso e já não estão
em condições de tráfego, pois
apresentam problemas de câmbio, de suspensão, de direção, de
bateria e de consumo de combustível. A vida útil desses carros
mais antigos, de acordo com a
própria administração municipal,
é de, no máximo, mais cinco anos.
"Esses 70 carros só circulam por
extrema necessidade. Se não fosse
assim, nosso atendimento ao povo, que já não é dos melhores, pela
falta de carros, ficaria totalmente
comprometido", admite o secretário de Segurança Urbana, Benedito Domingos Mariano.
O sucateamento faz com que, na
prática, haja apenas um carro em
reais condições de uso para cada
grupo de 54 guardas.
Em um pátio na rua Tenente
Azevedo, na Aclimação (centro
de São Paulo), há 25 dos "sucatões". Enferrujados, os veículos
servem de casa para gatos. Os
guardas dizem que muitos estão
lá há mais de três anos.
Para driblar os problemas diários, de acordo com o sindicato
dos guardas civis, muitos dos homens que deveriam estar na rua
servindo à população gastam
tempo pedindo doações de peças
automotivas.
"Eles explicam aos comerciantes que a doação é para o bem deles mesmos, pois aí poderão contar com a vigilância da guarda",
afirma o diretor do sindicato, Gênesis de Sousa.
Além de poucos, os carros não
são aparelhados como deveriam.
Não têm, por exemplo, radiocomunicadores eficientes. "Os guardas trabalham sem poder se falar.
É absurdo", afirma Sousa.
Há cerca de dois meses, um dos
guardas ouvidos pela reportagem
viu um assalto a uma loja nas imediações do estádio do Pacaembu
(zona oeste). Estava sozinho e não
pôde agir. "Não pude chamar reforço. O rádio não funcionava",
afirmou o agente.
Trabalho de parto
"A mulher gemia sem parar. Estava quase dando à luz, mas, a caminho do hospital, a suspensão
do carro quebrou. Como se não
bastasse, o rádio estava funcionando muito mal e tivemos dificuldade para pedir apoio, que demorou mais de 20 minutos."
O relato é de um guarda civil.
"Graças a Deus o carro de apoio
não quebrou. Conseguimos levá-la até o hospital", continuou.
O drama ocorreu no final de
1999. Quatro anos depois, de
acordo com ele, a situação continua a mesma.
Outro lado
O secretário municipal de Segurança Urbana, Benedito Mariano,
admite que "a situação da GCM
[criada em 1986" beira o caos".
Para ele, este é o resultado de "15
anos de abandono" por administrações anteriores.
Mariano ocupa a pasta desde
agosto de 2002, quando ela foi
criada. "Desde então, já compramos 72 Corsas e 23 Fiestas. Nenhuma outra administração fez
nem sequer a metade."
Até dezembro, deverão ser adquiridos mais 300 carros, que custarão R$ 19 milhões.
O secretário disse também que
desconhece as doações de peças,
mas afirmou que a burocracia da
máquina pública dificulta a reposição de material.
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