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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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SUCATEAMENTO

De 410 carros da frota, 245 não conseguem rodar; prefeitura atribui "caos" a administrações anteriores

Maioria dos veículos da Guarda Civil não funciona

DO "AGORA"

A faceta mais visível do sucateamento da Guarda Civil Metropolitana talvez esteja na sua própria frota. Dos 410 veículos da corporação paulistana, 245 não têm condições de rodar. Ou seja: 60% -mais da metade- deles não atendem mais à população.
Pior: dos 165 carros que ainda circulam pela cidade, 70 têm de dez a 12 anos de uso e já não estão em condições de tráfego, pois apresentam problemas de câmbio, de suspensão, de direção, de bateria e de consumo de combustível. A vida útil desses carros mais antigos, de acordo com a própria administração municipal, é de, no máximo, mais cinco anos.
"Esses 70 carros só circulam por extrema necessidade. Se não fosse assim, nosso atendimento ao povo, que já não é dos melhores, pela falta de carros, ficaria totalmente comprometido", admite o secretário de Segurança Urbana, Benedito Domingos Mariano.
O sucateamento faz com que, na prática, haja apenas um carro em reais condições de uso para cada grupo de 54 guardas.
Em um pátio na rua Tenente Azevedo, na Aclimação (centro de São Paulo), há 25 dos "sucatões". Enferrujados, os veículos servem de casa para gatos. Os guardas dizem que muitos estão lá há mais de três anos.
Para driblar os problemas diários, de acordo com o sindicato dos guardas civis, muitos dos homens que deveriam estar na rua servindo à população gastam tempo pedindo doações de peças automotivas.
"Eles explicam aos comerciantes que a doação é para o bem deles mesmos, pois aí poderão contar com a vigilância da guarda", afirma o diretor do sindicato, Gênesis de Sousa.
Além de poucos, os carros não são aparelhados como deveriam. Não têm, por exemplo, radiocomunicadores eficientes. "Os guardas trabalham sem poder se falar. É absurdo", afirma Sousa.
Há cerca de dois meses, um dos guardas ouvidos pela reportagem viu um assalto a uma loja nas imediações do estádio do Pacaembu (zona oeste). Estava sozinho e não pôde agir. "Não pude chamar reforço. O rádio não funcionava", afirmou o agente.

Trabalho de parto
"A mulher gemia sem parar. Estava quase dando à luz, mas, a caminho do hospital, a suspensão do carro quebrou. Como se não bastasse, o rádio estava funcionando muito mal e tivemos dificuldade para pedir apoio, que demorou mais de 20 minutos."
O relato é de um guarda civil. "Graças a Deus o carro de apoio não quebrou. Conseguimos levá-la até o hospital", continuou.
O drama ocorreu no final de 1999. Quatro anos depois, de acordo com ele, a situação continua a mesma.

Outro lado
O secretário municipal de Segurança Urbana, Benedito Mariano, admite que "a situação da GCM [criada em 1986" beira o caos". Para ele, este é o resultado de "15 anos de abandono" por administrações anteriores.
Mariano ocupa a pasta desde agosto de 2002, quando ela foi criada. "Desde então, já compramos 72 Corsas e 23 Fiestas. Nenhuma outra administração fez nem sequer a metade."
Até dezembro, deverão ser adquiridos mais 300 carros, que custarão R$ 19 milhões.
O secretário disse também que desconhece as doações de peças, mas afirmou que a burocracia da máquina pública dificulta a reposição de material.


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