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MASSACRE NA BAIXADA
Carro semelhante ao de autores da chacina foi emprestado a soldado duas horas antes da matança
Gol apreendido reforça suspeita contra PMs
MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Polícia Civil apreendeu anteontem à noite o Gol prata que,
segundo testemunhas, foi usado
pelos autores da chacina de 30
pessoas em Nova Iguaçu e Queimados (Baixada Fluminense, região metropolitana do Estado do
Rio), na quinta-feira passada.
A apreensão reforça a suspeita
de que policiais militares foram os
autores da matança. O carro estava emprestado ao soldado Carlos
Jorge Carvalho, um dos acusados.
O Gol pertence ao comerciante
Marcos Antônio dos Santos Carneiro. Estava parado no centro de
Belford Roxo (outro município
da Baixada). Os policiais encarregados das investigações chegaram
a ele a partir de informação passada pelo serviço Disque-Denúncia.
Interrogado na Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense,
Carneiro disse que havia cedido o
carro a Carvalho, policial do 20º
Batalhão da PM, em Mesquita,
também na Baixada. Carneiro e
Carvalho são amigos de infância,
segundo a polícia.
O comerciante afirmou que
Carvalho havia pedido o carro para ir até a Barra de São João (litoral norte do Estado), onde os dois
estão construindo casas.
Segundo o depoimento de Carneiro, o carro, de placas KND-4208, foi emprestado ao soldado
às 19h de quinta, cerca de duas horas antes do início da matança. Ele
disse ainda que Carvalho devolveu o Gol na manhã seguinte.
A perícia realizada pelo ICCE
(Instituto de Criminalística Carlos Éboli) constatou que o lacre da
placa do carro estava violado. A
descoberta pode indicar que, para
realizar a chacina, seus autores
trocaram ou retiraram a placa.
Até o início da noite a perícia não
havia terminado.
Foram encontradas três cápsulas calibre ponto 40 deflagradas.
Para o diretor da Polícia Técnica
do Rio, Roger Ancillotti, a descoberta indica que foram feitos disparos de dentro do carro. Também foi localizado um chip de telefone celular ou radiotransmissor, que pode armazenar informações sobre contatos recentes
dos usuários.
O comerciante dono do carro
não foi indiciado pela polícia como envolvido no massacre. A
princípio, os policiais incumbidos
da investigação acreditam na versão de Carneiro.
Carvalho e mais cinco PMs estão presos por 30 dias, de acordo
com decisão da Justiça. Ele foi reconhecido por uma testemunha
como um dos homens que atirou
contra quatro vítimas em um lava-a-jato em Queimados.
Karaokê
As investigações da Polícia Civil
indicam que, antes de partirem
para a matança, os acusados beberam e cantaram no karaokê de
uma venda em Belford Roxo, pertencente à ex-sogra de Carvalho,
identificada como Vânia. Ela disse ontem que não lembra de ter
visto o grupo no local na quinta e
elogiou o ex-genro: "Ele é um rapaz muito bom. Adora crianças.
Jamais faria uma coisa dessas".
Para tentar obter a prisão temporária de quatro PMs que estão
detidos administrativamente e
são investigados por suposta participação na chacina, a Polícia Civil montou dossiês com base em
acusações feitas ao Disque-Denúncia. Os dossiês relacionam casos de extorsões e homicídios em
que os PMs estariam envolvidos.
O objetivo da polícia é convencer
a Justiça da periculosidade dos
acusados. Até o início da noite, a
Justiça não havia se manifestado
sobre o pedido. A polícia afirmou
que os quatro suspeitos estavam
detidos até a conclusão desta edição, à espera da definição judicial.
Detector de metais
No início da tarde, uma equipe
da Drae (Delegacia de Repressão
a Armas e Explosivos) da Polícia
Civil vasculhou uma propriedade
de 2.500 m2 pertencente ao soldado Carvalho.
Com um detector de metais emprestado pelo Exército e capaz de
localizar armas enterradas a até
cinco metros de profundidade, os
policiais procuravam pistolas que
teriam sido usadas pelos matadores da Baixada Fluminense.
Ao final da vistoria, o delegado
Carlos Oliveira disse que nada foi
localizado. O terreno fica em frente à casa de Carvalho, em Belford
Roxo. Anteontem, foi apreendido
no local um Gol preto com a placa
clonada. O carro estava sendo
usado pelo PM, que foi indiciado
pelo crime de receptação de produto de roubo.
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