|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
800 pessoas vão a parada gay em favela do Rio
Organizadores se mostraram surpresos com o número de participantes; segundo eles, evento foi inédito
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O maquiador Marcos Moreira, 40, é voluntário da ONG Pela Vidda e estava distribuindo
preservativos na 1ª Parada GLS
da Favela da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. Chovia,
mas para Moreira, mesmo que
estivesse fazendo sol, a manifestação não tinha como vingar.
"Gay da favela não vai à parada porque não quer ser identificado como alguém da localidade. Ele cria um personagem,
freqüenta a zona sul e procura
esconder que é da comunidade", afirmou Moreira.
O maquiador enganou-se em
seu prognóstico. Como costuma acontecer nas primeiras
edições de eventos desse gênero, os manifestantes e curiosos
começaram a chegar de repente e, em cerca de uma hora, já
havia em torno de 800 pessoas
no local. A primeira parada gay
do município de São Paulo reuniu cerca de 400 pessoas.
A Maré é a terceira maior favela do Rio, com 16 comunidades e cerca de 250 mil habitantes. Os organizadores da parada
dizem que esta é a primeira manifestação GLS em uma comunidade carente. "Nunca houve
nada desse tipo na área", disse o
cabeleireiro Beto do Salão.
As tentativas de Beto e de
seus dois colaboradores na organização do evento -a advogada Adriana Laurindo, coordenadora de assuntos jurídicos
da comunidade João Pinheiro,
e do produtor de eventos Júlio
de Oliveira- começaram no
ano passado. Foram três, até
que eles conseguiram os apoios
para realizar o evento -que
ocorreu ontem.
Havia mais gays do que lésbicas, e boa parte dos homens
atraíam muita atenção porque
são drag queens em trajes multicoloridos. Três rapazes se maquiavam em um camarim improvisado ao lado do trio elétrico: Nataly Angel, 22, Diziky, 27
e Mirella Tiger, 20. Eles disseram que fazem performance e
vieram de Bonsucesso.
O go-go boy Alxander Batista, 21, que faz show na boate gay
Le Boy, em Copacabana, veio
do município de Duque de Caxias voluntariamente para se
apresentar. Não é gay, "mas
dou uma força pra comunidade, vivo nesse mundo", disse.
"O deputado que nos prometeu os trios elétricos furou com
a gente ontem à noite. Foi um
Deus nos acuda, fizemos uma
vaquinha e alugamos outro por
R$ 1.800", disse Beto do Salão.
Texto Anterior: Chuvas no NE desalojam 110 mil pessoas Próximo Texto: Entrevista da 2ª/Antônio Fonseca: "Se nada for feito, febre amarela urbana deve voltar" Índice
|