São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2008

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800 pessoas vão a parada gay em favela do Rio

Organizadores se mostraram surpresos com o número de participantes; segundo eles, evento foi inédito

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O maquiador Marcos Moreira, 40, é voluntário da ONG Pela Vidda e estava distribuindo preservativos na 1ª Parada GLS da Favela da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. Chovia, mas para Moreira, mesmo que estivesse fazendo sol, a manifestação não tinha como vingar.
"Gay da favela não vai à parada porque não quer ser identificado como alguém da localidade. Ele cria um personagem, freqüenta a zona sul e procura esconder que é da comunidade", afirmou Moreira.
O maquiador enganou-se em seu prognóstico. Como costuma acontecer nas primeiras edições de eventos desse gênero, os manifestantes e curiosos começaram a chegar de repente e, em cerca de uma hora, já havia em torno de 800 pessoas no local. A primeira parada gay do município de São Paulo reuniu cerca de 400 pessoas.
A Maré é a terceira maior favela do Rio, com 16 comunidades e cerca de 250 mil habitantes. Os organizadores da parada dizem que esta é a primeira manifestação GLS em uma comunidade carente. "Nunca houve nada desse tipo na área", disse o cabeleireiro Beto do Salão.
As tentativas de Beto e de seus dois colaboradores na organização do evento -a advogada Adriana Laurindo, coordenadora de assuntos jurídicos da comunidade João Pinheiro, e do produtor de eventos Júlio de Oliveira- começaram no ano passado. Foram três, até que eles conseguiram os apoios para realizar o evento -que ocorreu ontem.
Havia mais gays do que lésbicas, e boa parte dos homens atraíam muita atenção porque são drag queens em trajes multicoloridos. Três rapazes se maquiavam em um camarim improvisado ao lado do trio elétrico: Nataly Angel, 22, Diziky, 27 e Mirella Tiger, 20. Eles disseram que fazem performance e vieram de Bonsucesso.
O go-go boy Alxander Batista, 21, que faz show na boate gay Le Boy, em Copacabana, veio do município de Duque de Caxias voluntariamente para se apresentar. Não é gay, "mas dou uma força pra comunidade, vivo nesse mundo", disse.
"O deputado que nos prometeu os trios elétricos furou com a gente ontem à noite. Foi um Deus nos acuda, fizemos uma vaquinha e alugamos outro por R$ 1.800", disse Beto do Salão.


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